sábado, 23 de maio de 2015

Como o dedo-duro virou delator

Sou de um tempo em que ser dedo-duro era uma das mais vergonhosas qualidades que alguém poderia ter. Nem entre os irmãos se aceitava que um dedurasse o outro. Nasci em 1963, um ano antes do golpe militar, e ser dedo-duro naquela época era pôr na guilhotina a cabeça dos colegas que lutavam contra o regime. Com o passar do tempo e a democratização do País, ser dedo-duro mudou sensivelmente de significado. Inclusive para se evitar trabalhos de investigação mais aprofundados, virou moda recorrer à delação premiada. Com isso, ser dedo-duro mudou de patamar. Agora, dedo-duro é quem colabora com o Ministério Público em troca de redução na pena. Uma prova de que a Língua é dinâmica e as palavras mudam de significado ao longo do tempo. Eu, no entanto, até hoje ainda não me acostumei com os dedos-duros.


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