Há uma turma de péssimos leitores dos fatos políticos, inclusive
professores e professoras das universidades, que fazem uma leitura
completamente negativa do movimento de 120 dias de greve das universidades
brasileiras. Saio da greve com a sensação de que não era hora de suspendê-la, ou
sair, qualquer que seja a denominação a usar, por não ter ocorrido nenhum fato
novo naquele momento da suspensão. Passei momentos de tristeza e melancolia por
entender que tínhamos forças para prosseguir. Enganei-me! Não se faz greve
sozinho por mais convicção que se tenha. A partir do início de setembro o
movimento não tinha mais a força coletiva que imaginávamos ter. Se, no auge da
greve, das 59 universidades, 57 aderiram, no final de agosto, início de
setembro, havia praticamente uma divisão entre as que queriam continuar e as
que votaram pela suspensão. Sinal claro de que o movimento estava na descendente
e eu, como muitas outras pessoas, teimávamos em não ver. Saio da greve, não do
movimento, com uma certeza: derrotados são os que fogem à luta ou dela fingem
participar. Lutei bravamente junto com meus colegas de Comando Local de Greve
(CLG) e Comando Nacional de Greve (CNG). Participei de todas as atividades de
rua, das assembleias, das reuniões. Tenho a consciência tranquila. Não sei se é
o mesmo caso daqueles e daquelas que usaram o tempo da greve para passear,
tirar férias, aparecer uma ou outra vez nas assembleias para, assim, fingirem
que da greve participavam. Agisse eu dessa forma, morreria de vergonha. Alguns
colegas e algumas colegas, no entanto, não ficam nem vermelhos. A maioria dos
que fazem esse discurso da derrota, de que não ganhamos nada, são os mesmos que
quase nunca apareciam em nenhuma atividade da greve. Terceirizaram o movimento
como sempre o fizeram a vida inteira como se dissessem: “Vocês do Comando fazem
a greve. Se vencermos, comemoramos. Caso não, atiraremos pedras e
desqualificaremos o movimento”. Assim o fizeram a vida inteira! Assim o fazem
hoje! Para além de derrotados, são cegos: daqueles que não querem ver. Ganhos obtivemos.
E muitos. Até o dia 17 de maio, quando deflagramos nossa greve, o lema do
Governo Federal era não negociar com categorias em greve. Fomos a primeira
categoria a entrar em greve. Depois de nós, todos os demais servidores federais
fizeram o mesmo. Arrancamos a maior reposição de todas as classes do
funcionalismo pela força da nossa greve. Ficássemos de braços cruzados, nenhum
tipo de correção teria havido. É bem verdade que não reporá toda a nossa
capacidade de compra do período. No entanto, só a Polícia Federal conseguiu
reposição similar. Ao assinar acordo forjado com a Federação-Fantasma, o
Governo Federal nos induziu a esquecer desse ganho fundamental da greve ou a
negá-lo. O ganho da reposição salarial é nosso. E não podemos abrir mão dele. A
carreira proposta é pior que a que temos? É. Mas nossa capacidade de lutar não
se esgota com a greve. Nesse ponto está o flanco aberto para buscarmos, na
Justiça, a garantia dos direitos adquiridos. Mesmo no caso do PL 4.368/2012, é
possível tentar torná-lo menos pior por meio dos parlamentares. Em geral,
deputados e senadores são serviçais do Governo. Deixar de lutar, no entanto,
não é a melhor opção. Tivemos uma derrota fragorosa com relação às condições de
trabalho. Sobre esse ponto o Governo se negou a discutir. Não esqueçamos,
porém, que faz parte da própria política do estado mínimo na Educação “fingir
que tudo está bem”. O Governo aposta em calarmos diante da “oferta de vagas”
para professores e na expansão física irresponsável. Essa foi uma das nossas
outras vitórias: denunciamos o descaso no qual se encontram as universidades
públicas brasileiras. Não conseguimos mexer, também, na questão do produtivismo
dominante. Ele parece ter sido introjetado na mente dos que passei a denominar “Pesquisadores
Qualis A”. Eles são tão presunçosos e prepotentes que já defendem que os
reitores das universidades devem ser escolhidos entre os “pesquisadores com
artigos publicados em revistas Qualis A”. Vejam a que ponto chegamos! Essa é
mais uma guerra que temos de vencer; contra os nossos próprios colegas que não
se consideram trabalhadores, mas, uma casta acima do bem e do mal. A guerra mal
começou!
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