Perdura há tempos, por isso é tradicional, a ideia de que a Ciência é
neutra. Na academia, então, o método é a figura central dessa
pseudoneutralidade. É como se o método fosse capaz de promover a “limpeza”
necessária à Ciência para fazer dela (a Ciência) a mais tradicional e respeitada
das ideologias. Não só neutra, a Ciência tradicional é, em tese, objetiva. Essa
objetividade do método tradicional sustenta-se não na relação, mas, no
distanciamento entre o sujeito e o objeto de pesquisa. Para ser neutra e
objetiva, portanto, a Ciência (tradicional) não admite “proximidade” entre
sujeito e objeto. É como se, na pesquisa, o autor (pesquisador) tenha de usar
luvas para não ser contaminado pelo objeto pesquisado. É a esse mito da
objetividade e da neutralidade na Ciência que denomino de assepsia. A criação
do mito do método cartesiano, por ser de René Descartes, termina, ao final de
tudo, por legislar em favor da Ciência como a “ mais objetiva das tradições”.
Na sociedade atual, práticas científicas são consideradas exatas, ou seja, corretas,
pelo uso do método, mas, práticas religiosas, por exemplo, são apenas questões
de fé. O método, portanto, torna-se o bastião, o protetor, a garantia da “infalibilidade”
da Ciência. Há, no entanto, uma apropriação desse discurso da neutralidade e da
objetividade por parte do Capital, logo do Capitalismo, para legitimar o
próprio capitalismo como se a Ciência (por consequência os cientistas) fosse a
única tradição a ser respeitada na e pela sociedade. Há que se contestar,
principalmente no ambiente acadêmico, essa unicidade, neutralidade e
imparcialidade da Ciência como forma, inclusive, de tirá-la desse patamar de
mito e aproximá-la definitivamente da sociedade. Em nome da Ciência, já se
praticaram atrocidades inaceitáveis. Usar a Ciência como suporte para a
manutenção do status quo, inclusive dentro da própria academia, é o tipo de
prática que não se pode aceitar. Admitir a pessoalidade do cientista e a “relação”
sujeito e objeto, ao invés do distanciamento é um caminho que a “nova Ciência”
defende. Talvez não seja o ideal, mas, não percorrê-lo é um indicador da
própria estreiteza do olhar.
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