terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Título de doutor deveria ser validado a cada 5 anos


Imaginem o espanto dos presentes, em pleno auditório da Cásper Líberto, Avenida Paulista, quando um desconhecido, nascido no Acre, criado no Amazonas, pede a palavra e diz que tudo aquilo é uma bobagem e que o título de doutor deveria ser renovado a cada cinco anos?.Pois bem! Defendi essa tese em um seminário (cujo nome não me lembro), em São Paulo, na Cásper Líbero, pouco tempo após ter chegado a cidade para cursar Mestrado na Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA) da Universidade de São Paulo (Usp), em 1996. As reações foram das mais variadas, inclusive aquelas vazias de conteúdo, mas transbordando de raiva, a insinuar que eu só defendia aquela posição por ainda não possuir o título de doutor. Hoje, nove anos após defender minha tese e sem nenhum receio de refazê-la a cada cinco anos, mantenho a mesma posição sobre o assunto com uma clareza ainda maior. Principalmente após ler “A Ciência em uma sociedade livre”, de Paul Feyerabend, lançado pela Editora da Unesp. Nele, entre tantos temas polêmicos relacionados à Ciência e ao “metodologismo”, o autor diz, com todas as letras: “o parecer de especialistas é muitas vezes preconceituoso, não confiável e precisa de controle externo”. Posso imaginar o que Feyeraben não deve ter sofrido ao lançar “Contra o método”! A reação da academia deve ter sido tão raivosa e ruidosa quanto foi quando propus a revalidação constante do título de doutor. Essa, porém, é uma das obviedades mais evidentes. Se o conhecimento é dinâmico e se renova constantemente, como garantir que um doutor mantenha o mesmo desempenho se defende uma tese, baseada em um “recorte epistemológico”, em alguns casos, produz no máximo dois artigos científicos por ano? E se levarmos em conta que, na estrutura de financiamento das universidades brasileiras, os doutores são obrigados a se envolverem (ainda que, algumas vezes apenas emprestem o nome) em inúmeros projetos institucionais para garantir recursos financeiros? Pode parecer esdrúxula, atinge frontalmente a “zona de conforto” da maioria, mas, não duvidem, chegará o dia em que a sociedade não aceitará financiar pesquisas “a fundo perdido”. Quero viver para ver!

segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

O círculo virtuoso da rapinagem ao arrependimento


Muita gente deve ter se espantado com as informações que circularam de que Bill Gates não deixará nada da sua fortuna para os filhos. Outros devem se espantar, mais ainda, se visitarem o site da Bill & Melinda Gates Foudation (Fundação Bill e Melinda Gates) e verificarem o tanto de projetos sociais, pesquisas e ajudas humanitárias que a fundação deles incentiva ou patrocina. Faz inveja às obras de muitos países ditos desenvolvidos. Embora muitos pais contestem, Gates acerta em cheio ao não deixar nem uma agulha para os filhos. As pessoas precisam, definitivamente se espelhar nos outros seres vivos para tornarem o mundo melhor. Entre os animais, o que os pais deixam para os filhos? O mundo. Investir em um mundo mais justo e melhor, sem desigualdades e problemas sociais graves, não será um caminho mais lógico? Privar os filhos de degustar o sabor das descobertas e das conquistas não é um grave erro? Fiquei a pensar cá com meus botões: a atitude de Gates (e a própria vida, assim como a Fundação) parece ser a confirmação das teorias de Abraham Maslow, sobre as necessidades humanas, e Adam Smith, sobre a mão invisível do mercado, mescladas. Para Maslow, alimento, sono, repouso, abrigo e etc. correspondem ao conjunto das necessidades básicas do ser humano. Garantem a sobrevivência do indivíduo e a preservação da espécie. Em seguida, estão as necessidades de segurança: são a busca de proteção contra a ameaça, privação, fuga e perigo. No campo das necessidades sociais estão associação, a participação, aceitação por parte dos companheiros, a troca de amizade, o afeto e o amor. Já as necessidades de autoestima estão ligadas à autoapreciação, a autoconfiança, necessidade de aprovação social e de respeito, de status, prestígio e consideração. Envolvem ainda o desejo de força e de adequação, bem como a confiança perante o mundo, a independência e a autonomia. Por fim, as necessidades de autorealização foram consideras por Maslow como “as mais elevadas”. Nesse ponto, cada pessoa realiza o próprio potencial e autodesenvolver-se continuamente. Ao que me parece, quando diz que não deixará nada para os filhos, Gates a se usar a Pirâmide de Maslow como base, supre as necessidades básicas, as necessidades de autoestima e as necessidades de segurança. E deixa a cargo deles conquistar os próprios espaços no campo das necessidades sociais, de autoestima e de autorealização. Na tese que defendi em março de 2003, na Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo denominada “Por um clique: o desafio das empresas jornalísticas tradicionais no mercado da informação – Um estudo sobre o posicionamento das empresas jornalísticas e a prática do jornalismo em redes, em Manaus”, sobre Smith, excplico: “O economista ADAM SMITH (1904), na obra clássica “An inquiry into the nature and causes of the wealth of nations” (Uma investigação sobre a natureza e as causas da riqueza das nações), apresenta o conceito da “mão invisível” como o último estágio de evolução do ser humano. Na visão de SMITH, a “mão invisível” seria capaz de levar o homem a usar a ambição e o egoísmo para criar o bem-estar geral da comunidade.” Se os dois teóricos estão corretos, e a mim me parece que sim, a primazia do capitalismo se explica exatamente por esse ciclo da vida que vai da rapinagem ao arrependimento: o ser humano (capitalista) nos três primeiros estágios da pirâmide de Maslow, e para acumular riquezas, é capaz até de explorar mão-de-obra escrava, crianças. Nos estágios seguintes, até chegar ao que Smith chamou de “mão invisível”, o homem passa a usar a ambição e o egoísmo com o fim de criar o bem-estar geral da comunidade. Parecer ser isso!

domingo, 29 de janeiro de 2012

Humanismo e tecnicismo na Educação Superior


É louvável a expansão das Escolas Técnicas promovida pelo Governo Federal com o nome de Institutos Federais. Ao que tudo indica, foi realizada com as condições muito melhores do que a dos campi das universidades brasileiras, que padecem da falta de condições estruturais mínimas para funcionamento. Esses institutos ganharam, inclusive, status administrativo de universidade. Chamo a atenção, porém, para algo que parece essencial: o regime didático-pedagógico. Na visão tradicional da educação, as escolas técnicas, embora transformadas em institutos, praticam o ensino técnico, ou seja, voltado especificamente para o mercado de trabalho, conhecimento popularmente como “tecnicista”, por meio do qual o estudante aprende técnicas do “fazer” e ponto final. A universidade, em tese, deve formar humanisticamente, para o exercício da cidadania. É algo como ensinar a refletir sobre o fazer. Acontece que, por exigência dos próprios estudantes e da sociedade, as universidades passaram a praticar um regime misto: reflexão sobre o fazer à medida que tenta ensinar a fazer. Uma tentativa de estruturar currículos que atendam as exigências do mercado e cumpram a essência da universidade: a formação humanística. Há algum erro em misturar os dois propósitos? Em tese, não vejo nenhum. Para que ocorra, porém, as universidades precisam ter laboratórios equipados comparativamente aos Institutos Federais. Seria preciso, também, flexibilizar o processo de contratação de professores para as disciplinas específicas e técnicas. Por exemplo: quem disse que um bom professor ou professora de Rádio e TV precisa necessariamente ter Mestrado e Doutorado? A carreira teria de mudar, também. Afinal, Mestrado e Doutorado não podem funcionar apenas como forma de engordar o salário dos professores. Não podem ser muletas para a carreira. O problema é muito maior do que o Governo publicar decretos dizendo: agora você é universidade e você é instituto tecnológico. Trata-se de um problema de alta complexidade que não se resolve apenas com a ampliação do número de uma ou de outro.

sábado, 28 de janeiro de 2012

O racionalismo que mata a criatividade


Recentemente citei o livro “A aventura da universidade”, do hoje senador Cristóvam Buarque (PTB-DF), antigo reitor da Universidade de Brasília (UnB) no qual ele reitera que a universidade pouco ousa, portanto, cria poucos espaços para as descobertas. Trata-se de um dos melhores livros que já livre pelo retrato que faz da universidade ao longo dos tempos. Mas me deixa sempre um questionamento: como, se tem um diagnóstico tão claro da universidade, a UnB pouco mudou com a administração dele? Entra, então, na busca dessa resposta, a afirmação de Edgar Morin de que nós, os seres vivos, somos complexos, portanto, somos 100% razão e 100% emoção, ao mesmo tempo. Essa parece ser a chave para a resposta: a universidade matou a emoção. Trabalha apenas com a perspectiva da razão. E esse racionalismo extremista destrói a criatividade. Oras, se destrói a criatividade, também leva junto a ousadia. É como se a universidade, mundo afora, fosse um daqueles times de futebol da maior eficiência possível, mas no qual é proibido driblar, correr com a bola, tentar uma jogada diferente, que surpreenda o adversário. E é nesse mastodonte burocrático que nós todos trabalhamos. E foi esse animal extremamente burocrático que poucas chances de mudanças deu ao então reitor Cristóvam Buarque. Quando o racionalismo mata a criatividade, deve ser repensado dia após dia.

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Credibilidade do Enem: maior desafio de Mercadante


Um dos grandes desafios do novo ministro da Educação, senador Aloizio Mercadante (PT-SP), se não o maior, é dar credibilidade ao Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). A ideia do ex-ministro Fernando Haddad, candidato de Lula a quebrar a hegemonia do PSDB em São Paulo na disputa pela prefeitura, de um Exame nacional que sirva de parâmetro para avaliar a qualidade do Ensino Médio e, ao mesmo tempo ingressar nas universidades e instituto federais não é inédita. O problema é que exames com esse formato são aplicados em Países cuja área não chega a um estado de Rondônia, por exemplo. Quantas cabeças de presidentes do Instituto Nacional de Pesquisas Educacionais Anysio Teixeira (Inep) rolarão até que o Enem dê certo e seja aplicado sem nenhuma denúncia de fraude? A última a perdê-la foi Malvina Tuttmann, ex-reitora da UniRio. Exatamente como a primeira medida de Mercadante para “moralizar o Enem”. Seu sucessor, o ex-secretário de Educação Superior, Luiz Cláudio Costa, terá de trabalhar muito para ter vida longa. Ainda assim, corre o mesmo risco de todos quando se trata do Enem: logística. O Brasil é um país de dimensões continentais. Logo, distribuir provas e aplicá-las nos mesmos dia e horário, em todos os rincões, sem a possibilidade de fraudes é quase impossível. Por isso usei o verbo “dar” e não “recuperar” na relação com a credibilidade. Afinal, só se recupera aquilo que já se teve um dia. E o Enem, por enquanto, não sabe o que é credibilidade.

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Quanto vale o trabalho de um professor?


Que a Luiza vá para o Canadá, pouco me importa? Que ela volte, menos ainda. Quando li hoje, porém, que após virar hit no Twitter e se tornar celebridade nacional a jovem paraibana de 17 anos passou a cobrar R$ 15 mil para se fazer presentes em festas de hotéis (e que um já havia pago por tal serviço) aí fiquei a me perguntar: quanto vale o trabalho de um professor universitário neste País? Todos os meses, diariamente, a não ser quando estou viajando a serviço do Ministério da Educação ou como representante do Programa de Pós-graduação que ora coordenava, compareço religiosamente ao meu local de trabalho: a Universidade Federal do Amazonas (Ufam). Sou professor associado, quase no topo da carreira, e não ganho, em 30 dias, o que a Luíza Canadá passou a ganhar apenas por estar em uma festa VIP. Não há algo de errado no Reino da Dinamarca? Meus colegas professores, com doutorado, em início de carreira, recebem cerca de R$ 7.300,00. Não é nem a metade do que a Luiza Canadá ganha para ser VIP em uma festa. Que a senhorita Canadá receba seus R$ 15 mil por festa, tudo bem. É problema de quem paga. A sociedade, porém, não estaria desvalorizando demais o trabalho de um professor (ou professora)? Será que não somos VIPs aos olhos da sociedade? Em 30 dias não valemos a festa de um dia da Luiza. Algo precisa ser feitos pelo poder público para corrigir tão grave distorção nos salários dos professores universitários brasileiros.

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Há Educação para a tolerância e a liberdade?


A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN) propaga que a Educação no País deve ter como base a tolerância e a liberdade. Talvez fosse precipitado da minha parte, e até desonesto, dizer que o legislador, Darcy Ribeiro, ao propor a Lei, sabia que se transformaria em uma quimera, pelo menos nessas duas acepções. Há tolerância nas escolas brasileiras, dos ensinos Fundamental e Médio, e até nas universidades? Ribeiro sabia muito bem que tolerância não é um valor que adquire por decreto ou “da noite para dia”. Trata-se de um processo lento, gradual e que leva anos para se adquirir, pois habita o campo da cultura. Uma sociedade que viveu décadas sob a égide da ditadura militar, tendo o autoritarismo como regra, não muda, como num passe de mágica, todos os seus professores e professoras, todos os profissionais da Educação, e os transforma em tolerantes. E se a sociedade, no todo, for intolerante com as minorias, dificilmente o processo educacional será baseado na tolerância. A Educação, em si, a mim me parece mais um processo de domesticação de mentes e corações para adequá-los aos sistemas político e econômico vigentes. O segundo valor, o da liberdade, portanto, em essência, jamais existirá, pois o aprisionamento do indivíduo é um processo que começa na própria família. No papel, a LDBEN apresenta valores interessantes, na prática, porém, transformam-se em “Contos de fadas”.

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

O silêncio dos dissidentes: reputação da Ciência preservada


Polêmico no livro “Contra o Método”, quando chegou a ser chamado de anarquista, Paul Feyerabend, deveria ser lido e relido em todas as universidades por ser instigador. Por tentar trazer de volta o espírito crítico à própria Ciência. No livro “A Ciência em uma sociedade livre”, ele não deixa a polêmica de lado. Muito menos o espírito instigador: “A unanimidade é muitas vezes resultado de uma decisão política: os dissidentes são suprimidos ou permanecem em silêncio para preservar a reputação da Ciência como fonte de conhecimento confiável e quase infalível. Em outras ocasiões, a unanimidade é resultado de preconceitos compartilhados...”. [...] Assim, mais uma vez, a unanimidade pode indicar uma redução de consciência crítica: a crítica permanece fraca enquanto apenas uma opinião está sendo considerada. Esta é a razão pela qual uma unanimidade que depende apenas de considerações “internas” acaba sendo errônea.
Tais erros podem ser descobertos por leitos e diletantes, e muitas vezes foram realmente descobertos por eles. Inventores construíram máquinas “impossíveis” e fazem descobertas “impossíveis”. A Ciência progrediu a pessoas alheias a ela ou cientistas com formação pouco comum. Einstein, Bohr e Born eram todos diletantes e o disseram em inúmeras ocasiões. Schliemann, que refutou a ideia de que o mito e a lenda não têm conteúdo factual, começou a vida como um homem de negócios bem-sucedido; Alexander Marschack, que refutou a ideia de que homem da Idade da Pedra era incapaz de pensamentos complexos, era um jornalista. Robert Ardrey era dramaturgo e veio para a Antropologia em virtude de sua crença na íntima relação entre Ciência e poesia. Colombo não tinha educação universitária e teve de aprender o latim bem tarde na vida. Robert Mayer sabia apenas as linhas gerais da Física do início do século XIX. E os comunistas chineses dos anos de 1950, que obrigaram a Medicina tradicional a voltar para as universidades e com isso começaram linhas de pesquisa bastante interessantes no mundo todo, tinham apenas um pequeno conhecimento das complexidades da Medicina científica. Como isso é possível? Como é possível que o ignorante ou mal informado possa ocasionalmente ter melhor resultado que aqueles que conhecem uma disciplina a fundo?
Uma resposta está relacionada à própria natureza do conhecimento. Todo conhecimento contém elementos valiosos ao lado de ideias que impedem a descoberta de coisas novas. Tais ideias não são simplesmente erros. Elas são necessárias para a pesquisa: o progresso em uma direção não pode obtido sem bloquear o progresso em outra. Mas a pesquisa naquela “outra” direção pode revelar que o “progresso” conseguido até então era apenas uma quimera. E pode solapar seriamente a autoridade daquela área como um todo. Assim, a Ciência precisa tanto da intolerância que coloca obstáculos no caminho da curiosidade sem limites e da ignorância que ou desconsidera os obstáculos ou é incapaz de percebê-los. A Ciência precisa tanto do especialista quando do diletante”.
No livro “A aventura da universidade”, o hoje senador Cristóvam Buarque (PTB-DF) faz críticas contundes às universidades, diz que elas precisam se aventurar mais e diz que as grandes descobertas da humanidade não passaram pelas universidades. Em várias postagens tenho dito que Steve Jobs, Bill Gattes e Mark Zuckerberg, para se tornarem bem-sucedidos, tiveram de abandonar a toda-poderosa (e considerada a melhor do mundo) Universidade de Harvard. O próprio Paul Feyerabend, critica a hegemonia da Ciência, diz que ela se aliou ao Capital para legitimar o capitalismo como a única saída para a humanidade. Para ele, a Ciência é uma tradição, mas não é a única forma de “verdade”.

A verdade científica é retórica e sem conteúdo objetivo


Trago de volta Paul Feyerabend, agora no livro “A Ciência em uma sociedade livre”, para provocar reflexões dos que ainda não o conhecem. Desta vez sobre o autoritarismo retórico da Ciência e dos racionalistas: ”O fato de o apelo à verdade e à racionalidade ser retórico e sem conteúdo objetivo fica claro com a falta de articulação de sua defesa. Na Seção 1 vimos que a pergunta “O que é tão importante para a Ciência?” quase nunca é feita e não tem nenhum resposta satisfatória. O mesmo se aplica a outros conceitos básicos. Os filósofos investigam a natureza da verdade, ou a natureza do conhecimento, mas quase nunca se perguntam por que a verdade deve ser buscada (a pergunta surge sempre na linha de fronteira entre tradições – por exemplo, surgiu na linha limítrofe entre a Ciência e o Cristianismo). As próprias noções de Verdade, Racionalidade e Realidade, que supostamente eliminaram o Relativismo, estão rodeadas por uma vasta área de ignorância (que corresponde à ignorância que o argumentador tem da tradição que fornece o material para suas exibições retóricas).
Não há, portanto, quase nenhuma diferença entre os membros de uma tribo “primitiva” – que defendem suas leis porque elas são as leis em nome da tribo – e um racionalista, que apela para padrões “objetivos”, a não ser o fato de os primeiros saberem o que estão fazendo e os últimos não.
As regras de uma Ciência racional, dizem os intelectuais liberais, não envolvem interesses especiais. Elas são “objetivas” no sentido que enfatizam a verdade, a razão, etc., coisas que são independentes das crenças e dos desejos de grupos de interesses especiais. Distinguindo entre a validade de uma demanda, de uma regra, de uma sugestão e o fato de essa demanda regra ou sugestão ser aceita, os racionalistas críticos parecem transformar o conhecimento e a moralidade de ideologias tribais na representação de circunstâncias independentes da tribo. Mas as ideologias tribais não deixam de ser ideologias tribais apenas por não terem sido abertamente caracterizadas como tais. As demandas que os racionalistas defendem e as noções que usam falam “objetivamente”, e não em nome de Sir Karl Popper ou do professor Gerard Radnitzty, porque foram forçadas a falar dessa maneira, e não porque os interesses de Sir Karl ou do professor Radnitzty já não estão sendo levados em consideração; e elas foram forçadas a falar dessa maneira para lhes garantir um público mais amplo, para manter a aparência de libertarianismo e porque os racionalistas têm pouca sensibilidade para aquilo que chamaríamos de qualidades “existenciais” da vida. Sua “objetividade” não é em nada diferente da “objetividade” de um funcionário colonial que, tendo lido um livro ou dois, agora deixa de se dirigir aos nativos em nome do Rei e se dirige a eles em nome da Razão ou da “objetividade” de um sargento instrutor que, em vez de gritar “Agora, seus cachorros, ouçam o que eu estou dizendo – isso é o que eu quero que façam e Deus tenha misericórdia de vocês se não fizerem exatamente o que estou mandando!”, fala mansinho “Bem, eu acho que o que devemos fazer é...”. A obediência às ordens e à ideologia do orador é exigida nos dois casos. A situação fica ainda mais clara quando examinamos como os racionalistas argumentam. Eles postulam uma “verdade” e métodos “objetivos” para encontrá-la. Se os conceitos e métodos necessários não são conhecidos por todas as partes do debate, então nada mais precisa ser dito. O debate pode começar imediatamente. Mas se uma das partes não conhece os métodos, ou usa métodos próprios, então ela precisa ser instruída, o que significa que ela não é levada a sério a não ser que seu procedimento coincida com o do racionalista. Os argumentos são centrados na tribo e o racionalista é o senhor.”


OBS: Post do dia 23/01/2012

domingo, 22 de janeiro de 2012

A Razão entorpecida pelo exterminismo intelectual


As discussões sobre o SOPA (Stop Online Piracy Act) e o PIPA (Project IP Act), ambos projetos norte-americanos que apresentam regras mais rígidas contra a pirataria parecem estar entorpecidas pelo que Paul Feyerabend, citando Thompson, chamou de exterminismo, no livro “Adeus à razão”, publicado pela editora da Unesp, em 2010. A obra nunca esteve tão atual e fragmentos da introdução podem nos esclarecer sobre alguns argumentos que consubstanciam as discussões equivocadas sobre o SOPA e o PIPA. Vejamos o que ele diz:”As informações são surpreendentemente desinformadas. É verdade que a “cultura” ocasionalmente fica um tanto desorganizada. Mas a tendência não é nada nova e é compensada por poderosas tendências contrárias: as escolas superam, passam às frente ou absorvem outras escolas, cientistas de campos diferentes criam áreas de estudos interdisciplinares (exemplo: sinergia, biologia molecular), grandiosos “esquemas unificadores” (evolução, holismo, soluções dualistas do problema mente-corpo, especulações linquistas) embaçam distinções importantes, o cinema a arte informatizada, o rock, a física de alta energia misturam princípios comerciais, inspiração artística e descoberta científicas de uma maneira que nos lembra o que ocorreu no Renascimento no século XV. Há fragmentação, mas há também uniformidades novas e poderosas.
A falta de perspectiva exibida pelos críticos é ainda mais surpreendente. Eles falam da “(!) crise da cultura contemporânea” ou da “cultura mundial”, quando o que querem dizer é da vida acad6emica e artística ocidental. Mas as brigas de professores e as contorções da arte ocidental tornam-se insignificantes quando comparadas à expansão constante do “progresso” e do “desenvolvimento”no Ocidente, o que corresponde à disseminação do comércio, da ciência e da tecnologia ocidentais. Esse é um fenômeno internacional: ele caracteriza tanto sociedades capitalistas quanto as socialistas; ele é independente das diferenças ideológicas, raciais e políticas e influencia um número cada vez maior de povos e culturas. Quase não há aqui nenhum vestígio dos debates e desacordos que tanto exercitam nossos intelectuais. O que está sendo imposto, exportado e mais uma vez imposto é uma coleção de ideias e práticas uniforme que têm o apoio intelectual e político de grupos e instituições poderosas. [...] Decisiva entre esses grupos é uma nova classe, uma elite científico-tecnológica que, segundo alguns autores (Daniel Bell e John Kenneth Galbraith entre eles), cada vez mais determina o prestígio e o poder. Bakunin (1972, p. 319), que enfatizou a importância do conhecimento científico, também nos alertou contra “o reino da inteligência científica, o mais aristocrático, despótico, arrogante e elitista de todos os regimes”. Hoje seus temores se tornaram realidade. Pior ainda, o conhecimento passou a ser uma mercadoria, sua legitimidade relacionada com a legitimação do legislador: “a ciência parece mais completamente subordinada aos poderes prevalecentes do que nunca e ... está em risco de se tornar um fator importante no conflito deles...”(Lyotar, 1984, p. 8). A elite que administra a comunidade muitas vezes apoio aquilo que Thompson (1982, p. 1ss, especialmente p. 20) chamou de “exterminismo”, uma estrutura de pesquisa abstrata e desenvolvimento tecnológico direcionada para assassinatos em massa. Também Chomsky (1986), bem como os debates sobre a função dos laboratórios nacionais reimpresso no Bulletin of the tomic Scientists, de 1985.” A leitura é esclarecedora e instigante. Recomendo o livro inteiro, mas, se você poder ler esses fragmentos da Introdução já será um bom começo.

sábado, 21 de janeiro de 2012

Conservadores massacram a cultura hacker


É impressionante que alguns pensadores ditos progressistas, inclusive dentro das universidades, nunca tenham lido ou ouvido falar em “cultura hacker”. Conservadores de todos os níveis, inclusive grande parte dos baluartes da esquerda brasileira e amazonense, confundem propositalmente hackers com invasores de redes. Desconhecem os três pilares dessa cultura: liberdade, responsabilidade e cidadania. Hackers são todas as pessoas que agem para que as informações, a cultura e o conhecimento circulem livremente. Foram jovens estudantes do Massachusetts Institute of Technology (MIT), nos Estados Unidos da América (EUA), quem investiram em divulgar essa cultura, mas, o Finlandês Pekka Himanen, que foi doutor pela universidade de Helsinque aos 20 anos, ganhou notoriedade ao escrever, conjuntamente com Manuel Castells e Linus Torvalds (criador do Linux), o livro “A Ética dos Hackers e o Espírito da Era da Informação: a Diferença entre o Bom e o Mau Hacker”. Para quem não se dá ao trabalho de estudar sobre o que fala, escreve ou lê eis a dica de uma boa leitura. Que pode ser complementada com “A ciência em uma sociedade livre”, de Paul Feyerabenb. Assim, não ficariam dando SOPA nem PIPA para, embora se dizendo progressista, abancar-se ao lado dos conservadores que, propositalmente, confundem as pessoas porque, no fundo, quando as informações, a cultura e o conhecimento circulem livremente o povo se liberta. E os conservadores de direita e de esquerda jamais querem essa libertação. É como diz Himanen: “compartilhar informações é um poderoso bem concreto, ou seja, é um dever moral compartilhar sua perícia”. Conservadores de esquerda e de direita desconhecem esse dever.


sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Relações promíscuas entre as fundações e as universidades


Já não era sem tempo de o Ministério Público Federal (MPF) investigar as relações promíscuas entre as ditas “fundações de apoio” e a s universidades. Em nome da agilidade nas compras, porém, ferindo de morte a transparência necessária no uso do dinheiro público, essas fundações são contratadas sim, sem concorrência, no fundo para carimbar obras polêmicas com o selo das universidades as quais dão apoio e “limpar” a barra dos governos. As relações incestuosas não se limitam às fundações ligadas às universidades federais, muito embora os reitores da Universidade de Brasília (UnB) e Universidade Federal de Rondônia (Unir) tenham caído exatamente por problemas com as tais “fundações de apoio”. E só caíram após a mobilização da comunidade universitárias das duas instituições, porém, em várias outras universidades, até hoje, pululam denúncias de corrupção e favorecimento nas relações com as fundações. Em Manaus, de quando em vez surgem notícias nada agradáveis, principalmente de falta de transparência, como agora, envolvendo a Fundação Muraki, que após a Universidade do Estado do Amazonas (UEA) e a Fundação Rio Solimões (Unisol), que apóia a Universidade Federal do Amazonas (Ufam). Mas não fica só nisso. Não faz muito tempo, a Prefeitura Municipal de Manaus (PMM) contratou, sem licitação, por quase R$ 3 milhões, a Fucapi, para organizar nove audiências públicas com vistas ao Plano Diretor da cidade. E nem se tratava do menor preço. O contrato é obscuro, porém, pouco se falou no assunto. Se o MPF centrasse fogo apenas nos contratos das administrações públicas, em todos os níveis, com essas fundações, encontraria, certamente, procedimentos no mínimo duvidosos no uso dos recursos públicos que, necessariamente, só podem ser utilizados com transparência plena.

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Professores das federais ganham menos que no Governo FHC

Essa ideia do senador Cristóvam Buarque (PTB) de transferir o gerenciamento da Educação Superior do País do Ministério da Educação (MEC) para o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCT) tem pelo menos um problema crucial a ser resolvido: a equiparação das carreiras, portanto, dos salários dos professores das universidades aos pesquisadores do MCT. Há uma grave distorção que, ao que se sabe, o projeto do senador não pretende corrigir. Hoje, no Brasil, um professor em início de carreira, com doutorado, recebe cerca de R$ 7.300,00 enquanto um pesquisador do MCT recebe pouco mais de R$ 10.300,00 na mesma condição: início de carreira. E se for comparar com um pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica e Aplica (Ipea), a distância fica muito maior: ele recebe cerca de R$ 13 mil, também em início de carreira. O Blog Acerto de Contas demonstra claramente que os professores das universidades federais, comparativamente, já recebem menos do que no Governo de Fernando Henrique Cardoso (FHC). Será que o senador Cristóvam Buarque pensou em desatar esse nó? Será que ao passar para o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCT) a equiparação será feita automaticamente? A mim me parece que as centrais sindicais e até, nós, os professores, individualmente, não deveríamos esperar que um dia o Governo Federal corrigisse essa aberração. Temos de buscar, na Justiça, que a Constituição seja comprida e servidores que exercem os mesmos cargos tenham salários iguais. Essa isonomia é direito dos professores e uma bandeira de luta a ser levantada urgentemente pelo Andes – Sindicado nacional, que se encontra reunido em Manaus. O que não se pode mais agüentar é permanecer com os salários em níveis inferiores aos da era FHC.

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Universidades no Ministério da Ciência e Tecnologia

Que me perdoe o Senador Cristóvam Buarque (PDT-DF), autor do projeto que muda a gestão da Educação Superior do País do Ministério da Educação (MEC) oara o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCT), já aprovado na a Comissão de Ciência, Tecnologia, Inovação, Comunicação e Informática do Senado Federal (CCT), mas a sua justificativa para a troca não se sustenta. O argumento de que o MEC concentra todo o gerenciamento da Educação no País e privilegia o Ensino Superior em detrimento do Ensino Básico é, se não falso, pelo menos silogístico. O senador Buarque tem méritos, algumas boas ideias para a Educação brasileira, mas, nesse caso, pisou na bola em não consultar a comunidade universitária brasileira, muito menos os reitores, e menos ainda, as escolas do ensino básico. Dissociar a Educação Superior brasileira dos demais níveis do País é assumir publicamente um viés tecnicista que não condiz nem como o novo pensamento epistemológico da ciência no mundo inteiro. Não se devem dissociar os níveis de educação nem em tese, muito menos em gerenciamento. A educação é um processo sistêmico no qual a Educação Superior interfere na Educação básica e vice versa. Esvaziar o MEC e pensar que com isso o Ensino Básico no Brasil alcançará níveis de primeiro mundo é de uma ingenuidade que não me parecia ser algo que o Senador Buarque possuísse. Até agora o projeto do Senador caminha a passos largos. Só falta passar pela Comissão de Educação e pela Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania para entrar em vigor. Até lá, porém, as entidades dos reitores e representantes dos professores talvez reajam. É esperar para ver!

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

A exploração de professores pelo poder público

Ontem abordei neste espaço um assunto espinhoso: a exploração de professores por parte das instituições particulares do Ensino Superior. O poder público também explora, miseravelmente, professores, em todos os níveis: federal, estadual e municipal. A contratação de “temporários” ad eternum é uma das maiores vergonhas deste País que, esperava, seria corrigida pelo Partido dos Trabalhadores (PT). Uma vez no poder, o PT também usa dos mesmos artifícios para a contratação temporária de professores. E isso se agrava mais nas prefeituras do interior. Há professores que estão há mais de 10 anos como temporários, a espera de um concurso público. Esses professores e professoras convivem anualmente com a insegurança e terminam por se transformar em alvos fáceis das pressões políticas. Na prática, são demitidos em dezembro, sem direito às férias e ao décimo terceiro salário, e recontratados em janeiro. Pelo gosto dos prefeitos, essa categoria dos temporários não teria fim nunca: é uma espécie de curral eleitoral permanente. O que os governos precisam é dar dignidade a essa gente, com a oportunidade de um concurso público e todas as garantias trabalhistas. O que se faz hoje é uma exploração descabida de profissionais estratégicos para um Brasil melhor.

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Os horistas na Educação Superior brasileira

Dia desses minha colega Clara Del Pilar Guzman Daza, que se locomove com o auxílio de uma cadeira de rodas, chamou-me a atenção para um problema grave da Educação Superior brasileira: a contratação de horistas pelas universidades, faculdades e centros universitários. Como a legislação exige um número muito pequeno de professores com tempo integral, grande parte das instituições particulares usa e abusa da contratação de horistas. No mais das vezes, esses professores recebem apenas pelas aulas ministradas. Não há tempo dedicado ao planejamento e o que se tem é uma espécie de “linha de produção” da Educação. Como não possuem tempo integral, os professores são obrigados a correr de uma instituição para outra a fim de obterem renda familiar mais digna. Quem assim não o fizer, mal ganhará o suficiente para a sobrevivência. Trata-se de uma Legislação que beneficia os “mercadores da Educação” e penaliza diretamente os professores e indiretamente os estudantes. É preciso repensar qual Educação Superior queremos para o Brasil. Atualmente há uma tendência de monopólio do Ensino Superior nas mãos de cinco ou seis grandes grupos internacionais e nacionais. O Governo do Partido dos Trabalhadores não modificou a política “do estado mínimo na Educação”. Ao contrário, refinou os mecanismos e criou um ambiente propício à proliferação de grandes grupos. Isso não mudou a qualidade do Ensino Superior e transformou, de vez, a Educação em simples negócio. Daí os horistas se transformaram em amparo legal para a exploração dos professores. Lastimável!

domingo, 15 de janeiro de 2012

A inferioridade na Educação Superior

Possuir a denominação de “Ensino Superior” não quer dizer que sejamos superiores a ninguém. Superior por estamos no topo, no fim da classificação que, normalmente, vem dos gabinetes de Brasília, especificamente de alguns iluminados escolhidos pelo Ministério da Educação. Acontece que a Educação um processo muito maior e mais complexo do que a taxionomia oficial consegue explicar. Esse adjetivo “superior” não pode (e nem deve) mexer demais com a cabeça dos que nessa dimensão atuam a ponto de assumirem uma atitude de Pilatos, ou seja, “de lavar as mãos” diante dos problemas enfrentados pelos demais níveis do Ensino no País. Quem assume a atitude prepotente de apenas fazer a “sua parte” esquece que os profissionais que trabalham nos demais níveis do Ensino no País passaram pelo dito Ensino Superior. Ou se entende o problema da Educação como um processo ou se cometerá o erro grave da posição prepotente a qual nos referimos. E quem assume essa atitude de prepotência, no fundo, joga como inferior e não como superior. Em todos os sentidos.

sábado, 14 de janeiro de 2012

Mídias digitais não devem assustar

Professores que temem o uso das Mídias Digitais em sala-de-aula deveriam, antes de tudo, experimentá-las. Condená-las de imediato é um equívoco dos mais graves. O que se deve é estabelecer uma relação de convivência e respeito entre professores, estudantes e os equipamentos, bem como o uso respeitoso desses, sem que seja ferida a autonomia do professor, dos estudantes e do coletivo chamado turma. É preciso exercitar o processo de tomada de decisões coletivas. Mais que tudo, nesse momento de transição, o contrato social firmado entre o professor e a turma deve ser honrado (e modificado quando necessário). Relações éticas, de ambas as partes, são fundamentais para que os equipamentos não sejam vistos como inimigos do professor e do processo de aprendizagem. Tê-los como aliados é transformar todas as Mídias Digitais em parte desse processo complexo de aquisição do conhecimento do mundo moderno. Vale a pena o desafio! E não há fórmulas. A descoberta coletiva é fundamental.

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Segurança reforçada na Ufam

Além da contratação de uma nova empresa de Segurança, a reitoria da Universidade Federal do Amazonas (Ufam) resolveu tomar medidas administrativas para garantir o controle da circulação de professores, técnicos de estudantes aos domingos e feriados nas dependências do Campus Universitário Arthur Virgílio Filho. Por intermédio da Portaria 037/2012, a reitora, Márcia Perales Mendes e Silva, determina que a entrada aos domingos e feriados só será permitida com autorização expressa da própria reitora, do vice-reitor, de algum pró-reitor, diretor de unidade acadêmica ou diretor de órgão suplementar por meio de documento, em duas vias. Uma dessas vias deverá ser deixada na Portaria do Campus. Trata-se de uma medida correta, uma vez que a entrada no Campus não tinha nenhum tipo de controle. Causa estranheza, apenas, a linguagem dos documentos oficiais, que denomina de Minicampus e Campus Universitário uma área que, há muito, é única e passou a ser denominada Setor Norte e Setor Sul. O inconsciente de alguém que elabora os documentos ainda registra, certamente, a denominação anterior.

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Cobrar mensalidades nas federais é ilegal

Qualquer tipo de cobrança de mensalidades nas universidades federais é ilegal. As que insistem em cobrar mensalidades ou serviços prestados, em quaisquer dos níveis, sofreram mais revés. Por meio do processo n.º 2008.35.00.014568-0, a Universidade Federal de Goiás (UFG), entrou com recurso no Tribunal Federal da 1ª Região para ter direito a cobrar mensalidades em seus cursos de Especialização. É entendimento, não só da UFG, mas de todas as universidades federais brasileiras, que nos cursos de pós-graduação, em especial nos de especialização, mensalidades podem ser cobradas. A 5ª Turma do Tribunal Federal da 1ª Região negou recurso da UFG por entender que Constituição Federal não discrimina níveis para a gratuidade do ensino público, logo, todos devem ser gratuitos, inclusive os de pós-graduação. Os desembargadores entenderam, também, que a autonomia da universidade não pode prescindir de que os princípios da legalidade sejam seguidos. A decisão joga um balde de água fria em todas as tentativas de cobranças, em quaisquer dos níveis e cursos, nas universidades brasileiras. Como há jurisprudência sobre o assunto, essa decisão só reforça que nenhuma atividade das universidades públicas pode ser cobrada.

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

A sucessão ganha os corredores da Ufam

Não sei se em função do período do recesso, mas, o assunto sucessão ganha os corredores da Universidade Federal do Amazonas (Ufam). Há algum tempo o professor Sylvio Puga, da Faculdade de Estudos Sociais (FES), que terminou a última consulta em terceiro lugar, assumiu que disputará mais uma vez a Reitoria da Ufam. Nos bastidores, se dizia que a professora Márcia Perales Mendes e Silva não seria candidata à reeleição e lançaria o seu vice, Hedinaldo Narciso, como “o candidato da situação”. Pois eu vos digo, sem medo de errar, embora corra o risco de fazê-lo: a professora Márcia Perales é candidatíssima à reeleição e, embora jamais alguém da administração superior admita, está em plena campanha. Não obtive nenhuma informação sobre o assunto, mas afirmo que a reitora será candidata sim pelo momento político e administrativo que vive. Há quem diga que ela não quer ser candidata de jeito nenhum. Pura ilusão! Trata-se de uma boa estratégia para despistar os possíveis adversários na disputa. Volto a dizer: posso estar errado, porém, o momento político de Márcia Perales é muito melhor do que o de Hidembergue Frota na reeleição. Portanto, por enquanto, a disputa será entre Perales e Puga. Não se deve esquecer, porém, que a consulta só ocorrerá no primeiro semestre de 2013.

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

MEC atesta que não há PAD contra a Ufam

A Chefe de Gabinete do Ministério da Educação (MEC), Roberta Adami, encaminhou documento à reitora da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), Márcia Perales Mendes e Silva, atestando que não há nenhum Processo Administrativo Disciplinar (PAD) contra a Ufam nem contra a Administração Superior da IES desde 2008. Eis o teor do documento disponível no Portal da Ufam: “Informo que, em atendimento a vossa solicitação, consultei a Assesoria de Controle Interno deste Ministério da Educação, e a mesma me instruiu que não existe nenhum Procedimento Administrativo Disciplinar (PAD) vigente, a instaurar ou arquivado contra a Univesidade Federal do Amazonas desde o ano de 2008." Os esclarecimentos foram solicitados pela própria reitora da Ufam em função de notícias publicadas em jornais de circulação nacional e repercutidas, inclusive neste Blog, dando conta de que a Ufam enfrentava Processo Administrativo Disciplinar.

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Inscrições no SiSu do MEC encerram-se quinta

As inscrições para a primeira lista do Sistema de Seleção Unificada (SiSU), do Ministério da Educação (MEC) para o ano de 2012, com vagas para a Universidade Federal do Amazonas (Ufam) e para o Instituto Federal de Educação do Amazonas (Ifam) encerram-se às 24h de quinta-feira, dia 12. Foram disponibilizadas 2.603 vagas para a Ufam e 119 vagas para o Ifam. Ao todo, o SiSU abre 108.552 vagas em 95 instituições de ensino superior. Hoje o site do SiSU, que está disponível 24h por dia para que os candidatos façam as consultas e troquem de Instituições se for o caso, divulga nova nota de corte em todos os cursos oferecidos. Com isso, se o estudante estiver em uma IES cuja nota de corte do curso esteja muito próxima da nota obtida por ele, poderá mudar de curso ou de IES até a hora-limite: 24h do dia 12. Após esse procedimento, no dia 15 de janeiro, será divulgada a primeira lista. Para essa lista, a previsão de matrículas é entre 19 e 23 de janeiro. Quem não fizer a matrícula nesse período perde a vaga. Uma lista de segunda chamada, com as vagas remanescentes, será disponibilizada Pelo Sistema no dia 26 de janeiro. O calendário completo pode ser obtido no site do SISU.

domingo, 8 de janeiro de 2012

Diploma não garante procura por curso

Alguns dados recentes do Sistema de Seleção unificada (Sisu) do Ministério da Educação parecem indicar que não é o fato da exigência do diploma para o exercício da profissão que faz com que um curso seja procurado ou não pelos estudantes. Às 0h, de hoje, a nota de corte para o curso de jornalismo da Ufam, era 640,80; superior, inclusive, ao curso de Comunicação Social, habilitação Relações Públicas (curso para o qual o exercício da profissão exige diploma), que está em 619,66, e não muito distante do tradicional curso de Medicina, cuja nota de corte no início da madrugada de hoje era de 748,99 pontos. Números às vezes mascaram a realidade. Pessoas com excelente pontuação podem ter decidido cursar jornalismo e elevam a nota de corte do curso. Não é o caso de Medicina, cuja nota de corte sempre foi alta em qualquer tipo de concurso. O cerne da discussão, porém, principalmente para professores, estudantes e profissionais de jornalismo é: a procura pelo curso não diminuiu em função pura e simplesmente da queda do diploma. Ao que parece, a discussão maior deve ser sobre o processo de formação dos estudantes. Com diploma ou sem diploma, um curso só se firma pela qualidade dos professores e dos seus estudantes. Esse é o desafio a ser vencido dia-a-dia!

sábado, 7 de janeiro de 2012

Amar a cidade: uma questão de Educação

Que os políticos não amem a cidade de Manaus e a tratem como se fosse cobaia de experiências populistas e de assistencialismo explícito, cuja base está na troca de favores, até se entende. A população, porém, nem que sem por meio das entidades da sociedade civil, das universidades, independentemente dos governantes, tem de tomar uma decisão estratégica: AMAR A CIDADE! Se a Universidade do Estado do Amazonas (UEA) não o fizer, pelas ligações diretas com o grupo que está no poder, a Universidade Federal do Amazonas (Ufam) tem a obrigação de capitanear uma mobilização popular, uma campanha de “amor a Manaus”. E esse amor tem de ser demonstrado inclusive na escolha dos seus representantes. Mas, também, em cada ato do dia-a-dia. Pessoas em área de risco, o lixo tomando conta das ruas, alagamentos, tudo isso é uma questão de Educação, de esclarecimento e de políticas públicas capazes de solucionar os problemas e melhorar a cidade. É uma questão de educação, sim, dos políticos e da sociedade. Quem não assumir esse compromisso estará “lavando as mãos” na pia da cidade. Nós, os intelectuais, precisamos pensar em prol da cidade e da qualidade de vida da população. Sem isso, a pesquisa e a ciência não servem para nada.

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

A EAD não salva a Educação brasileira

Sou entusiasta da Educação a distância (EAD). Conheço o processo de implantação no Brasil desde o Instituto Universal Brasileiro (IUB), que oferecia os mais diversos cursos por correspondência. Discordo, porém, da forma como tem sido incentivada em todos os âmbitos da administração pública: federal, estadual e municipal. Os problemas estruturais da educação brasileira não serão resolvidos com a pura e simples distribuição de diplomas. O pressuposto fundamental da EAD é a participação efetiva dos estudantes, coisa que ocorre em nível muito menor do que na educação presencial. Oferecer cursos de graduação a distância para pessoas que passaram por um Ensino Médio de péssima qualidade é por em risco o sistema educacional inteiro. O que sem tem, na verdade, hoje em dia, é um sistema de EAD centrado em formar “no atacado” para, ao final, serem apresentadas estatísticas de “desempenho acadêmico” melhor que o da educação presencial. Acontece que na EAD o sistema de avaliação é diferente. Quando estudantes são reprovados, existe o “plano de estudo”, que tem a pretensão de “recuperar” em um mês o que não foi possível de ser aprendido em três ou quatro meses. Educação presencial e educação a distância são formas complementares de tentar suprir a vala entre os que possuem a educação formal e os que não a possuem. No entanto, uma modalidade não substitui a outra. A EAD não salva a educação brasileira. Tentar alçá-la a esse nível é um erro grosseiro, que trará conseqüências funestas com o passar dos anos.

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Falsos argumentos em prol da EAD

É falso o argumento usado por muitos defensores da “Educação a distância” de que a Lei de Diretrizes e Base da Educação Nacional (LDBEN) obriga à virtualização de até 20% (vinte por cento) dos cursos ou das disciplinas. Quem disse que o verbo permitir é sinônimo de obrigar? A LDBEN permite que até 20% do conteúdo das disciplinas ou dos cursos seja “virtualizado”. Outro erro é confundir “virtualização” com Educação a Distância (EAD). Conteúdos e habilidades trabalhadas e desenvolvidas em sala de aula, presencialmente, podem receber o apoio das redes e tecnologias da informação, ou seja, das chamadas Mídias Digitais, para serem desenvolvidos em sala de aula ou ambiente de aprendizagem equivalente. Isso é “virtualização”. Diferentemente da modalidade de aula feita mediada por computador, ou até feita por carta, essa a chamada “Educação a Distância” (EAD). Portanto, é falacioso o argumento de que a Lei obriga à virtualização. O que as universidades brasileiras deveriam era avaliar com muito cuidado esse “boom” da educação a distância, isso sim. Há problemas inclusive na modalidade presencial, o que se dizer da modalidade a distância. Transformar as universidades em meras máquinas de egorda das estatísticas da Educação Superior não irá melhorar a qualidade da Educação brasileira.

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

A prática da venda casada das escolas particulares

Há uma espécie de cartel, de venda casada, entre o serviço educacional prestado pelas escolas e a venda do material escolar e dos uniformes. Nós, os pais, e consumidores, portanto, não temos o direito de escolha. Somos obrigados a comprar os uniformes nas empresas escolhidas pelas escolas para fornecerem camisas, shorts e bermudas. Os preços são tabelados e, portanto, não se pode negociar nem a forma de pagamentos, muito menos quaisquer tipos de descontos: eles não existem. Dizem as escolas que se trata de criar comodidade aos pais. Na prática, trata-se de venda casada pura e simples. Como ocorre, também, com o material didático, inclusive os livros: as listas são previamente negociadas com as escolas e nós, os pais, que arquemos com valores absurdos no preço dos livros. Quando se reclama dos preços nas lojas de uniformes tem sempre alguém que ainda se acha no direito de perguntar: “o senhor já viu o preço dos livros?”. “Quem irá nos proteger?”.

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Visão equivocada sobre cursos de férias

Há uma visão equivocada sobre os cursos de férias nas universidades brasileiras. Na maioria dos cursos, inclusive, a opção existe no papel, porém, na prática, não são oferecidos. Educadores à antiga acreditam que se os cursos de férias forem oferecidos, os estudantes vão se aproveitar, não cursá-lo no período normal para “levar vantagem” nos cursos de férias. Muitos argumentam que ministrar a mesma disciplina, todos os dias, durante um mês, prejudica o desempenho dos estudantes ou a disciplina é “mal ministrada” pelo professor. Fosse verdade, os cursos de pós-graduação brasileiros que funcionam em módulos nem seriam autorizados. Não tenho uma visão fatalista do processo educacional e nem me preocupo se há estudantes levando vantagem ou não. Preocupa-me sim, essa visão equivocada de não deixar que o estudante adiante seu progresso na Instituição. É salutar, se um estudante tiver disponibilidade, que a universidade ofereça cursos de férias. Melhor seria, inclusive, se parte dos professores gozasse o período normal de férias no meio do ano e outra parte no início do ano. O planejamento seria mais bem administrado e as universidades não ficariam praticamente às moscas durante mais de 30 dias. Cursos de férias são necessários e não há mal nenhum em oferecê-los constantemente. Isso evitaria a retenção de estudantes e melhoraria o desempenho das universidades.