Imaginem o espanto dos presentes,
em pleno auditório da Cásper Líberto, Avenida Paulista, quando um desconhecido,
nascido no Acre, criado no Amazonas, pede a palavra e diz que tudo aquilo é uma
bobagem e que o título de doutor deveria ser renovado a cada cinco anos?.Pois
bem! Defendi essa tese em um seminário (cujo nome não me lembro), em São Paulo,
na Cásper Líbero, pouco tempo após ter chegado a cidade para cursar Mestrado na
Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA) da Universidade de
São Paulo (Usp), em 1996. As reações foram das mais variadas, inclusive aquelas
vazias de conteúdo, mas transbordando de raiva, a insinuar que eu só defendia
aquela posição por ainda não possuir o título de doutor. Hoje, nove anos após
defender minha tese e sem nenhum receio de refazê-la a cada cinco anos,
mantenho a mesma posição sobre o assunto com uma clareza ainda maior.
Principalmente após ler “A Ciência em uma sociedade livre”, de Paul Feyerabend,
lançado pela Editora da Unesp. Nele, entre tantos temas polêmicos relacionados
à Ciência e ao “metodologismo”, o autor diz, com todas as letras: “o parecer de
especialistas é muitas vezes preconceituoso, não confiável e precisa de
controle externo”. Posso imaginar o que Feyeraben não deve ter sofrido ao
lançar “Contra o método”! A reação da academia deve ter sido tão raivosa e
ruidosa quanto foi quando propus a revalidação constante do título de doutor.
Essa, porém, é uma das obviedades mais evidentes. Se o conhecimento é dinâmico
e se renova constantemente, como garantir que um doutor mantenha o mesmo desempenho
se defende uma tese, baseada em um “recorte epistemológico”, em alguns casos,
produz no máximo dois artigos científicos por ano? E se levarmos em conta que,
na estrutura de financiamento das universidades brasileiras, os doutores são
obrigados a se envolverem (ainda que, algumas vezes apenas emprestem o nome) em
inúmeros projetos institucionais para garantir recursos financeiros? Pode
parecer esdrúxula, atinge frontalmente a “zona de conforto” da maioria, mas,
não duvidem, chegará o dia em que a sociedade não aceitará financiar pesquisas “a
fundo perdido”. Quero viver para ver!
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