As discussões sobre o SOPA
(Stop Online Piracy Act) e o PIPA (Project IP Act), ambos projetos
norte-americanos que apresentam regras mais rígidas contra a pirataria parecem
estar entorpecidas pelo que Paul Feyerabend, citando Thompson, chamou de
exterminismo, no livro “Adeus à razão”, publicado pela editora da Unesp, em
2010. A obra nunca esteve tão atual e fragmentos da introdução podem nos
esclarecer sobre alguns argumentos que consubstanciam as discussões equivocadas
sobre o SOPA e o PIPA. Vejamos o que ele diz:”As informações são
surpreendentemente desinformadas. É verdade que a “cultura” ocasionalmente fica
um tanto desorganizada. Mas a tendência não é nada nova e é compensada por
poderosas tendências contrárias: as escolas superam, passam às frente ou absorvem
outras escolas, cientistas de campos diferentes criam áreas de estudos
interdisciplinares (exemplo: sinergia, biologia molecular), grandiosos “esquemas
unificadores” (evolução, holismo, soluções dualistas do problema mente-corpo,
especulações linquistas) embaçam distinções importantes, o cinema a arte
informatizada, o rock, a física de alta energia misturam princípios comerciais,
inspiração artística e descoberta científicas de uma maneira que nos lembra o
que ocorreu no Renascimento no século XV. Há fragmentação, mas há também
uniformidades novas e poderosas.
A falta de perspectiva
exibida pelos críticos é ainda mais surpreendente. Eles falam da “(!) crise da
cultura contemporânea” ou da “cultura mundial”, quando o que querem dizer é da
vida acad6emica e artística ocidental. Mas as brigas de professores e as
contorções da arte ocidental tornam-se insignificantes quando comparadas à
expansão constante do “progresso” e do “desenvolvimento”no Ocidente, o que
corresponde à disseminação do comércio, da ciência e da tecnologia ocidentais.
Esse é um fenômeno internacional: ele caracteriza tanto sociedades capitalistas
quanto as socialistas; ele é independente das diferenças ideológicas, raciais e
políticas e influencia um número cada vez maior de povos e culturas. Quase não
há aqui nenhum vestígio dos debates e desacordos que tanto exercitam nossos
intelectuais. O que está sendo imposto, exportado e mais uma vez imposto é uma
coleção de ideias e práticas uniforme que têm o apoio intelectual e político de
grupos e instituições poderosas. [...] Decisiva entre esses grupos é uma nova
classe, uma elite científico-tecnológica que, segundo alguns autores (Daniel
Bell e John Kenneth Galbraith entre eles), cada vez mais determina o prestígio
e o poder. Bakunin (1972, p. 319), que enfatizou a importância do conhecimento
científico, também nos alertou contra “o reino da inteligência científica, o
mais aristocrático, despótico, arrogante e elitista de todos os regimes”. Hoje
seus temores se tornaram realidade. Pior ainda, o conhecimento passou a ser uma
mercadoria, sua legitimidade relacionada com a legitimação do legislador: “a
ciência parece mais completamente subordinada aos poderes prevalecentes do que
nunca e ... está em risco de se tornar um fator importante no conflito deles...”(Lyotar,
1984, p. 8). A elite que administra a comunidade muitas vezes apoio aquilo que
Thompson (1982, p. 1ss, especialmente p. 20) chamou de “exterminismo”, uma
estrutura de pesquisa abstrata e desenvolvimento tecnológico direcionada para assassinatos
em massa. Também Chomsky (1986), bem como os debates sobre a função dos
laboratórios nacionais reimpresso no Bulletin
of the tomic Scientists, de 1985.” A leitura é esclarecedora e instigante.
Recomendo o livro inteiro, mas, se você poder ler esses fragmentos da Introdução
já será um bom começo.
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