Volto
à Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN) na definição de Educação
para discutir o lugar das Instituições de Ensino e Pesquisa na sociedade:
"TÍTULO
I
Da
Educação
Art.
1º. A educação abrange os processos formativos que se desenvolvem na vida familiar,
na convivência humana, no trabalho, nas instituições de ensino e pesquisa, nos movimentos
sociais e organizações da sociedade civil e nas manifestações culturais."
Fica
mais do que evidente, inclusive do ponto de vista legal, que Educação é
conceito bem mais amplo e que não se resume aos bancos e salas, às vezes mal arejadas,
das escolas, institutos e universidades.
No
livro “A Ciência em uma
sociedade livre”, lançado pela Editora da Unesp, Paul Feyerabend, autor de
"Contra o Método", é enfático: “o parecer de especialistas é muitas
vezes preconceituoso, não confiável e precisa de controle externo”. No limite,
talvez Feyerabend queira ironizar e dizer:"quem precisa dos
especialistas?!"
Em "Adeus à razão", o
mesmo autor vai mais longe:”As informações são surpreendentemente
desinformadas. É verdade que a “cultura” ocasionalmente fica um tanto
desorganizada. Mas a tendência não é nada nova e é compensada por poderosas
tendências contrárias: as escolas superam, passam às frente ou absorvem outras
escolas, cientistas de campos diferentes criam áreas de estudos
interdisciplinares (exemplo: sinergia, biologia molecular), grandiosos
“esquemas unificadores” (evolução, holismo, soluções dualistas do problema
mente-corpo, especulações linquistas) embaçam distinções importantes, o cinema
a arte informatizada, o rock, a física de alta energia misturam princípios
comerciais, inspiração artística e descoberta científicas de uma maneira que nos
lembra o que ocorreu no Renascimento no século XV. Há fragmentação, mas há
também uniformidades novas e poderosas.
A falta de perspectiva exibida pelos
críticos é ainda mais surpreendente. Eles falam da “(!) crise da cultura
contemporânea” ou da “cultura mundial”, quando o que querem dizer é da vida
acad6emica e artística ocidental. Mas as brigas de professores e as contorções
da arte ocidental tornam-se insignificantes quando comparadas à expansão
constante do “progresso” e do “desenvolvimento”no Ocidente, o que corresponde à
disseminação do comércio, da ciência e da tecnologia ocidentais. Esse é um
fenômeno internacional: ele caracteriza tanto sociedades capitalistas quanto as
socialistas; ele é independente das diferenças ideológicas, raciais e políticas
e influencia um número cada vez maior de povos e culturas. Quase não há aqui
nenhum vestígio dos debates e desacordos que tanto exercitam nossos
intelectuais. O que está sendo imposto, exportado e mais uma vez imposto é uma
coleção de ideias e práticas uniforme que têm o apoio intelectual e político de
grupos e instituições poderosas. [...] Decisiva entre esses grupos é uma nova
classe, uma elite científico-tecnológica que, segundo alguns autores (Daniel
Bell e John Kenneth Galbraith entre eles), cada vez mais determina o prestígio
e o poder. Bakunin (1972, p. 319), que enfatizou a importância do conhecimento
científico, também nos alertou contra “o reino da inteligência científica, o
mais aristocrático, despótico, arrogante e elitista de todos os regimes”. Hoje
seus temores se tornaram realidade. Pior ainda, o conhecimento passou a ser uma
mercadoria, sua legitimidade relacionada com a legitimação do legislador: “a
ciência parece mais completamente subordinada aos poderes prevalecentes do que
nunca e ... está em risco de se tornar um fator importante no conflito
deles...”(Lyotar, 1984, p. 8). A elite que administra a comunidade muitas vezes
apoio aquilo que Thompson (1982, p. 1ss, especialmente p. 20) chamou de
“exterminismo”, uma estrutura de pesquisa abstrata e desenvolvimento
tecnológico direcionada para assassinatos em massa. Também Chomsky (1986), bem
como os debates sobre a função dos laboratórios nacionais reimpresso no
Bulletin of the tomic Scientists, de 1985.”
Todos
os textos destacados já foram publicados neste Blog em algum momento. Trazê-los
de volta é uma forma de refletir e chamar à reflexão sobre o lugar a ser
ocupado pela Ciência na sociedade: a voz das elites com o carimbo e a nossa
assinatura.
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OBS:
Post do dia 23/11/2013