domingo, 24 de novembro de 2013

O lugar das Instituições de Ensino e Pesquisa na Sociedade

Volto à Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN) na definição de Educação para discutir o lugar das Instituições de Ensino e Pesquisa na sociedade:
"TÍTULO I
Da Educação
Art. 1º. A educação abrange os processos formativos que se desenvolvem na vida familiar, na convivência humana, no trabalho, nas instituições de ensino e pesquisa, nos movimentos sociais e organizações da sociedade civil e nas manifestações culturais."
Fica mais do que evidente, inclusive do ponto de vista legal, que Educação é conceito bem mais amplo e que não se resume aos bancos e salas, às vezes mal arejadas, das escolas, institutos e universidades.
No livro “A Ciência em uma sociedade livre”, lançado pela Editora da Unesp, Paul Feyerabend, autor de "Contra o Método", é enfático: “o parecer de especialistas é muitas vezes preconceituoso, não confiável e precisa de controle externo”. No limite, talvez Feyerabend queira ironizar e dizer:"quem precisa dos especialistas?!"
Em "Adeus à razão", o mesmo autor vai mais longe:”As informações são surpreendentemente desinformadas. É verdade que a “cultura” ocasionalmente fica um tanto desorganizada. Mas a tendência não é nada nova e é compensada por poderosas tendências contrárias: as escolas superam, passam às frente ou absorvem outras escolas, cientistas de campos diferentes criam áreas de estudos interdisciplinares (exemplo: sinergia, biologia molecular), grandiosos “esquemas unificadores” (evolução, holismo, soluções dualistas do problema mente-corpo, especulações linquistas) embaçam distinções importantes, o cinema a arte informatizada, o rock, a física de alta energia misturam princípios comerciais, inspiração artística e descoberta científicas de uma maneira que nos lembra o que ocorreu no Renascimento no século XV. Há fragmentação, mas há também uniformidades novas e poderosas.
A falta de perspectiva exibida pelos críticos é ainda mais surpreendente. Eles falam da “(!) crise da cultura contemporânea” ou da “cultura mundial”, quando o que querem dizer é da vida acad6emica e artística ocidental. Mas as brigas de professores e as contorções da arte ocidental tornam-se insignificantes quando comparadas à expansão constante do “progresso” e do “desenvolvimento”no Ocidente, o que corresponde à disseminação do comércio, da ciência e da tecnologia ocidentais. Esse é um fenômeno internacional: ele caracteriza tanto sociedades capitalistas quanto as socialistas; ele é independente das diferenças ideológicas, raciais e políticas e influencia um número cada vez maior de povos e culturas. Quase não há aqui nenhum vestígio dos debates e desacordos que tanto exercitam nossos intelectuais. O que está sendo imposto, exportado e mais uma vez imposto é uma coleção de ideias e práticas uniforme que têm o apoio intelectual e político de grupos e instituições poderosas. [...] Decisiva entre esses grupos é uma nova classe, uma elite científico-tecnológica que, segundo alguns autores (Daniel Bell e John Kenneth Galbraith entre eles), cada vez mais determina o prestígio e o poder. Bakunin (1972, p. 319), que enfatizou a importância do conhecimento científico, também nos alertou contra “o reino da inteligência científica, o mais aristocrático, despótico, arrogante e elitista de todos os regimes”. Hoje seus temores se tornaram realidade. Pior ainda, o conhecimento passou a ser uma mercadoria, sua legitimidade relacionada com a legitimação do legislador: “a ciência parece mais completamente subordinada aos poderes prevalecentes do que nunca e ... está em risco de se tornar um fator importante no conflito deles...”(Lyotar, 1984, p. 8). A elite que administra a comunidade muitas vezes apoio aquilo que Thompson (1982, p. 1ss, especialmente p. 20) chamou de “exterminismo”, uma estrutura de pesquisa abstrata e desenvolvimento tecnológico direcionada para assassinatos em massa. Também Chomsky (1986), bem como os debates sobre a função dos laboratórios nacionais reimpresso no Bulletin of the tomic Scientists, de 1985.”
Todos os textos destacados já foram publicados neste Blog em algum momento. Trazê-los de volta é uma forma de refletir e chamar à reflexão sobre o lugar a ser ocupado pela Ciência na sociedade: a voz das elites com o carimbo e a nossa assinatura.

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OBS: Post do dia 23/11/2013

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