Polêmico no livro “Contra
o Método”, quando chegou a ser chamado de anarquista, Paul Feyerabend, deveria
ser lido e relido em todas as universidades por ser instigador. Por tentar
trazer de volta o espírito crítico à própria Ciência. No livro “A Ciência em
uma sociedade livre”, ele não deixa a polêmica de lado. Muito menos o espírito
instigador: “A unanimidade é muitas vezes resultado de uma decisão política: os dissidentes são suprimidos
ou permanecem em silêncio para preservar a reputação da Ciência como fonte de
conhecimento confiável e quase infalível. Em outras ocasiões, a unanimidade é
resultado de preconceitos compartilhados...”. [...] Assim, mais uma vez, a unanimidade
pode indicar uma redução de consciência crítica: a crítica permanece fraca
enquanto apenas uma opinião está sendo considerada. Esta é a razão pela qual
uma unanimidade que depende apenas de considerações “internas” acaba sendo
errônea.
Tais erros podem ser descobertos por leitos e
diletantes, e muitas vezes foram
realmente descobertos por eles. Inventores construíram máquinas “impossíveis”
e fazem descobertas “impossíveis”. A Ciência progrediu a pessoas alheias a ela
ou cientistas com formação pouco comum. Einstein, Bohr e Born eram todos
diletantes e o disseram em inúmeras ocasiões. Schliemann, que refutou a ideia
de que o mito e a lenda não têm conteúdo factual, começou a vida como um homem
de negócios bem-sucedido; Alexander Marschack, que refutou a ideia de que homem
da Idade da Pedra era incapaz de pensamentos complexos, era um jornalista.
Robert Ardrey era dramaturgo e veio para a Antropologia em virtude de sua
crença na íntima relação entre Ciência e poesia. Colombo não tinha educação universitária
e teve de aprender o latim bem tarde na vida. Robert Mayer sabia apenas as
linhas gerais da Física do início do século XIX. E os comunistas chineses dos
anos de 1950, que obrigaram a Medicina tradicional a voltar para as
universidades e com isso começaram linhas de pesquisa bastante interessantes no
mundo todo, tinham apenas um pequeno conhecimento das complexidades da Medicina
científica. Como isso é possível? Como é possível que o ignorante ou mal
informado possa ocasionalmente ter melhor resultado que aqueles que conhecem
uma disciplina a fundo?
Uma resposta está
relacionada à própria natureza do
conhecimento. Todo conhecimento contém elementos valiosos ao lado de ideias
que impedem a descoberta de coisas novas. Tais ideias não são simplesmente
erros. Elas são necessárias para a pesquisa: o progresso em uma direção não
pode obtido sem bloquear o progresso em outra. Mas a pesquisa naquela “outra”
direção pode revelar que o “progresso” conseguido até então era apenas uma
quimera. E pode solapar seriamente a autoridade daquela área como um todo.
Assim, a Ciência precisa tanto da intolerância
que coloca obstáculos no caminho da curiosidade sem limites e da ignorância que ou desconsidera os
obstáculos ou é incapaz de percebê-los. A Ciência precisa tanto do especialista
quando do diletante”.
No livro “A aventura da
universidade”, o hoje senador Cristóvam Buarque (PTB-DF) faz críticas contundes
às universidades, diz que elas precisam se aventurar mais e diz que as grandes
descobertas da humanidade não passaram pelas universidades. Em várias postagens
tenho dito que Steve Jobs, Bill Gattes e Mark Zuckerberg, para se tornarem
bem-sucedidos, tiveram de abandonar a toda-poderosa (e considerada a melhor do
mundo) Universidade de Harvard. O próprio Paul Feyerabend, critica a hegemonia
da Ciência, diz que ela se aliou ao Capital para legitimar o capitalismo como a
única saída para a humanidade. Para ele, a Ciência é uma tradição, mas não é a
única forma de “verdade”.
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