No livro “A Ciência em uma
sociedade livre”, lançado pela Editora da Unesp, Paul Feyerabend, defende
ideias que eu defendia há tempos, sem conhecer a sua obra. Por isso publiquei
ontem, neste espaço, um dos episódios dos tantos que já enfrentei por propor
que o Doutorado seja renovado a cada cinco anos. Ele, porém, é muito mais
radical no referido livro: “Cientistas, educadores e físicos devem ser
supervisionados quando envolvidos em empregos públicos, mas também devem ser
observados cuidadosamente quando são chamados para solucionar os problemas de um indivíduo ou de uma
família. Todo mundo sabe que bombeiros, carpinteiros, eletricistas nem sempre
são confiáveis e que é uma boa ideia vigiá-los. Começamos comparando várias
firmas diferentes, escolhendo aquela que dá as melhores sugestões e
supervisiona cada passo do trabalho de seus funcionários. Isso também se aplica
às chamadas profissões “superiores”: um indivíduo que contrata um advogado,
consulta um meteorologista, solicita um relatório sobre os alicerces de sua
casa não pode dar tudo por certo de antemão ou vai se ver com uma enorme conta
nas mãos e problemas ainda maiores do que aqueles para os quais chamou o
especialista. Tudo isso é bastante conhecido. Mas há algumas profissões que
ainda parecem ser isentas de dúvidas. Muitas pessoas confiam em um medicou ou
em um professor como teriam confiado em um padre nos velhos tempos. Mas médicos
fazem diagnósticos incorretos, prescrevem remédios perigosos, cortam, fazem
raios X e mutilam à menor provocação, em parte porque são incompetentes, em
parte porque não lhes importa e até agora conseguiram escapar impunes, em parte
porque a ideologia básica da profissão médica que foi formada como conseqüência
da revolução científica só pode tratar de certos aspectos restritos do
organismo humano, mas, ainda assim, tenta cobrir tudo com o mesmo método. De
fato, o escândalo dos tratamentos inapropriados chegou a tal ponto que os
próprios médicos agora aconselham seus pacientes a não se satisfazerem com um
único diagnóstico, mas a procurar vários médicos e supervisionar o próprio
tratamento. É claro, uma segunda opinião não deve ser restrita à profissão
médica, pois o problema pode não ser a incompetência de um único médico ou de
um grupo de médicos; o problema pode ser a incompetência
da medicina científica de um modo geral. Assim, todo paciente deve ser o
supervisor de seu tratamento, assim como se deve permitir a cada grupo de
pessoas e a cada tradição que avalie os projetos que o governo deseja realizar
em seu meio e ser capaz de rejeitar aqueles projetos que não considerarem
adequados.
No caso dos educadores a
situação é ainda pior. Pois, enquanto é possível determinar se um tratamento
físico teve sucesso, não temos meios acessíveis para determinar o sucesso de um
tratamento mental, da chamada educação. Ler, escrever, fazer contas e o
conhecimento de fatos básicos podem ser avaliados. Mas o que pensar de um
tratamento que transforma as pessoas em existencialistas de segunda mão ou
filósofos da ciência? O que pensar das idiotices propagadas por nossos
sociólogos e das atrocidades consideradas “produções críticas” por nossos
artistas? Eles podem nos impingir suas ideias com impunidade, a menos que os
alunos comecem a verificar seus professores assim como os pacientes começaram a
verificar seus médicos: o conselho em todos os casos é usar especialistas, mas nunca confiar neles e certamente nunca depender deles inteiramente”. É curioso
como os intelectuais e cientistas defendem com fervor o Controle Externo do
Judiciário. Será que haveria o mesmo entusiasmo se fosse proposto, por exemplo,
o Conselho Nacional de Ciência (CNC)? Quem bancaria essa ideia?
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