Recentemente, o jornal Folha de S. Paulo, editado pela empresa Folha
da Manhã S.A, divulgou o “Ranking
Universitário Folha (RUF)”, com o objetivo de ser tornar referência, como o
fazem algumas empresas no exterior, na avaliação das universidades brasileiras.
A empresa usou quatro indicadores para atribuir notas: qualidade de ensino,
qualidade de pesquisa, avaliação do mercado e indicador de inovação para chegar
a uma “nota final”. A classificação, em ordem decrescente, portanto, foi
baseada na nota final. No critério utilizado pela empresa, a Universidade Federal
do Amazonas (Ufam) foi classificada como a 43º do País, com as seguinte notas:
zero em qualidade do ensino, 36,71 em qualidade de pesquisa, 9,37 em avaliação
do mercado e 3,63 em indicador de inovação. A nota final da Ufam foi 49,71. Apesar
de todos os pesares, a Ufam aparece a frente da Universidade Federal do Grande
ABC (Ufabc) e da Pontifícia Universidade de São Paulo (PUC-SP). Não se deve,
porém, supervalorizar ou subvalorizar esse tipo de classificação. Fazer ranking
é uma mania norte-americana que os brasileiros parecem ter incorporado ao
dia-a-dia. Nada mais que isso. No entanto, não se pode deixar de comentar, e
até se indignar, que a elaborar esse tal RUF, a Folha de S. Paulo chegou ao
mágico número de 132, das 191 avaliadas, com nota ZERO em “qualidade do ensino”.
Todos sabemos das péssimas condições de trabalho nas universidades brasileiras.
Esse, inclusive, foi o item da pauta de luta dos professores e professoras em
greve que mais unificou a categoria: muito além dos salários. Aliás, a divulgação
de um “ranking” desses justamente no auge da greve, com as melhores
classificadas sendo as assumidamente “produtivistas”, que seguem rigidamente a
cartilha da Capes e o CNPq não me parece algo “sem nenhuma intenção”. Não
chegarei ao extremo de dizer que o RUF não merece respeito e que não tem
credibilidade nenhuma porque, se isso fosse verdade, nem eu estaria aqui a
escrever sobre o assunto. Não sei as outras que “ganharam o Zero”, porém, como
professor da Ufam e orgulhoso do trabalho individual que desenvolvo e em nome
de muitos colegas que conheço, extremamente profissionais, que sacrificam horas
e horas na preparação de aulas, que compram os melhores livros do mercado e os
repassam aos seus estudantes, enfim, em respeito ao sacrifício individual e
coletivo de cada colega para superar as péssimas condições de trabalho e
exercer com dignidade a profissão (embora em condições indignas) digo a você
Folha de S. Paulo, com seu RUF, “qualidade de ensino Zero na Ufam uma ova”.
Como poderíamos chegar aos 36,71 de qualidade de pesquisa e aos ínfimos 3.63 de
índice de inovação se fossemos “zero” em ensino? Temos limitações sim, no
entanto, não somos ZERO. É bem-verdade que, com a carreira imposta pelo
Governo, temos grandes chances de piorar. Que o trabalho que desenvolvemos
diariamente em sala-de-aula precisa melhorar, não tenho dúvidas. Mantenho a
convicção de que o pior ambiente de aprendizagem dos nossos tempos é a sala de
aula. Não se pode ter aprendizagem dissociada da vida. Temos um grupo, na Ufam,
inclusive, que sempre defendeu publicamente a necessidade de excelência no
ensino de graduação desde 2005. De lá para cá, pouca coisa se fez nesse
sentido. Assumir publicamente um ZERO em qualidade de ensino, porém, seria
negar o acúmulo de experiências ao longo de toda a história da instituição. Que
as empresas sejam mais criteriosas e honestas quando forem publicar classificações
como essas é o que se espera!
Se você ainda não leu a “Carta aberta ao secretário Sérgio Mendonça”, cliquei
aqui, leia e replique. Todos precisamos refletir sobre o problema. Juntos!
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