terça-feira, 18 de setembro de 2012

Derrotados são os que fogem da luta ou fingem dela participar


Há uma turma de péssimos leitores dos fatos políticos, inclusive professores e professoras das universidades, que fazem uma leitura completamente negativa do movimento de 120 dias de greve das universidades brasileiras. Saio da greve com a sensação de que não era hora de suspendê-la, ou sair, qualquer que seja a denominação a usar, por não ter ocorrido nenhum fato novo naquele momento da suspensão. Passei momentos de tristeza e melancolia por entender que tínhamos forças para prosseguir. Enganei-me! Não se faz greve sozinho por mais convicção que se tenha. A partir do início de setembro o movimento não tinha mais a força coletiva que imaginávamos ter. Se, no auge da greve, das 59 universidades, 57 aderiram, no final de agosto, início de setembro, havia praticamente uma divisão entre as que queriam continuar e as que votaram pela suspensão. Sinal claro de que o movimento estava na descendente e eu, como muitas outras pessoas, teimávamos em não ver. Saio da greve, não do movimento, com uma certeza: derrotados são os que fogem à luta ou dela fingem participar. Lutei bravamente junto com meus colegas de Comando Local de Greve (CLG) e Comando Nacional de Greve (CNG). Participei de todas as atividades de rua, das assembleias, das reuniões. Tenho a consciência tranquila. Não sei se é o mesmo caso daqueles e daquelas que usaram o tempo da greve para passear, tirar férias, aparecer uma ou outra vez nas assembleias para, assim, fingirem que da greve participavam. Agisse eu dessa forma, morreria de vergonha. Alguns colegas e algumas colegas, no entanto, não ficam nem vermelhos. A maioria dos que fazem esse discurso da derrota, de que não ganhamos nada, são os mesmos que quase nunca apareciam em nenhuma atividade da greve. Terceirizaram o movimento como sempre o fizeram a vida inteira como se dissessem: “Vocês do Comando fazem a greve. Se vencermos, comemoramos. Caso não, atiraremos pedras e desqualificaremos o movimento”. Assim o fizeram a vida inteira! Assim o fazem hoje! Para além de derrotados, são cegos: daqueles que não querem ver. Ganhos obtivemos. E muitos. Até o dia 17 de maio, quando deflagramos nossa greve, o lema do Governo Federal era não negociar com categorias em greve. Fomos a primeira categoria a entrar em greve. Depois de nós, todos os demais servidores federais fizeram o mesmo. Arrancamos a maior reposição de todas as classes do funcionalismo pela força da nossa greve. Ficássemos de braços cruzados, nenhum tipo de correção teria havido. É bem verdade que não reporá toda a nossa capacidade de compra do período. No entanto, só a Polícia Federal conseguiu reposição similar. Ao assinar acordo forjado com a Federação-Fantasma, o Governo Federal nos induziu a esquecer desse ganho fundamental da greve ou a negá-lo. O ganho da reposição salarial é nosso. E não podemos abrir mão dele. A carreira proposta é pior que a que temos? É. Mas nossa capacidade de lutar não se esgota com a greve. Nesse ponto está o flanco aberto para buscarmos, na Justiça, a garantia dos direitos adquiridos. Mesmo no caso do PL 4.368/2012, é possível tentar torná-lo menos pior por meio dos parlamentares. Em geral, deputados e senadores são serviçais do Governo. Deixar de lutar, no entanto, não é a melhor opção. Tivemos uma derrota fragorosa com relação às condições de trabalho. Sobre esse ponto o Governo se negou a discutir. Não esqueçamos, porém, que faz parte da própria política do estado mínimo na Educação “fingir que tudo está bem”. O Governo aposta em calarmos diante da “oferta de vagas” para professores e na expansão física irresponsável. Essa foi uma das nossas outras vitórias: denunciamos o descaso no qual se encontram as universidades públicas brasileiras. Não conseguimos mexer, também, na questão do produtivismo dominante. Ele parece ter sido introjetado na mente dos que passei a denominar “Pesquisadores Qualis A”. Eles são tão presunçosos e prepotentes que já defendem que os reitores das universidades devem ser escolhidos entre os “pesquisadores com artigos publicados em revistas Qualis A”. Vejam a que ponto chegamos! Essa é mais uma guerra que temos de vencer; contra os nossos próprios colegas que não se consideram trabalhadores, mas, uma casta acima do bem e do mal. A guerra mal começou!

Se você ainda não leu a “Carta aberta ao secretário Sérgio Mendonça”, cliquei aqui, leia e replique. Todos precisamos refletir sobre o problema. Juntos!

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Um comentário:

  1. Sábio é direcionar a sua raiva para os problemas, não para as pessoas. Focar as energias nas respostas, não em desculpas.

    William Arthur Ward

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