domingo, 27 de março de 2011

Jornalismo de araque

Nas minhas aulas de Jornalismo, na Universidade Federal do Amazonas (Ufam), sempre alerto os estudantes para o cuidado que devem ter com a “leitura dos números”. Hoje encontrei um exemplo perfeito de como se pode escrever algo eivado de mentiras como se fosse uma possível verdade. Em uma revista semanal de circulação nacional li: ”Ao contrário do que diz o senso comum, o Brasil é um país de gente que lê. Ou, pelo menos, que leu em 2010 mais do que em 2009. É isso o que mostra o faturamento das livrarias brasileiras no ano passado: R$ 2,1 bilhões. Um crescimento de 9,6% em relação ao ano anterior”. Do texto, só a última frase pode ser considerada verdadeira, uma vez que, em se tratando de faturamento, o crescimento pode ser atestado e comprovado com uma regra de três simples. Se o jornalista não errou nas contas, o dito pode ser atestado. No entanto, tomar a variável “faturamento das livrarias” para afirmar que o brasileiro lê mais ou é má-fé ou é falta de conhecimento que beira a burrice. Só seria possível, com base na variável faturamento, afirmar que o brasileiro lê mais (ou menos), se as livrarias brasileiras vendessem apenas livros. Como as livrarias brasileiras são imensas “mega-stores”, dizer que o brasileiro aumentou o índice de leitura porque as livrarias faturaram mais não engana a mais singela criança. Sempre defendo que a prática do bom-jornalismo não depende de laboratórios, depende de postura crítica e capacidade de indignação diante as mazelas sociais. Uma nota dessas, em uma revista de circulação nacional é um indicador de que o péssimo jornalismo espalha-se pelo país. Todos somos responsáveis e devemos ter cuidado ao emitir opiniões. Elas precisam ser sustentadas. E, no caso dessa nota, quase nada se sustenta.

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