quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Acordo-fantasma mata a universidade em 10 anos


O acordo-fantasma assinado entre o Governo Federal e a entidade-fantasma denominada Federação de Sindicatos de Professores de Instituições Federais de Ensino Superior (Proifes-Federação) tem um potencial bélico homeopático: acaba com a universidade pública brasileira em menos de 10 anos. Podem escrever! E não se trata de um mero exercício de futurologia. Basta tomarmos alguns pontos da “nova proposta de carreira” que o Governo teima em enfiar goela abaixo dos professores e professoras em greve. No início, por exemplo, um professor com doutorado, terá de esperar no mínimo os três anos de estágio probatório para ter a primeira ascensão na carreira. Só depois disso poderá pedir a promoção para professor Adjunto I. Em sendo bem-avaliado e não tendo nenhum problema com os critérios (sabe Deus de onde o Ministério da Educação (MEC) os buscará) demorará mais 8 anos para ascender. Imaginemos que o professor deste exemplo hipotético tenha ingressado na universidade como recém-doutor. Já terá 11 anos de casa. Como o reenquadramento para a classe de Professor Associado I depende de 17 anos da obtenção do título de doutor, esse professor “estaciona” em Adjunto IV por mais seis anos. “Vira” Professor Associado I. Então, demora mais seis anos para ascender três níveis, ou seja, só após 23 anos de casa, passará a Professor Associado IV. Daí em diante, só com a morte de um professor titular, poderá concorrer à vaga. De novo, só Deus sabe o tempo que esse professor do nosso exemplo poderá chegar ao topo da carreira e receber os mágicos R$ 17 mil que o Governo promete para 2015. Para quem está na carreira atual, então, o golpe é ainda mais trágico. Hoje sou professor Associado I. Com o acordo-fantasma do Governo, só poderei ser reenquadrado como professor Associado II com 19 anos após a obtenção do título de doutor. Obtive o título em 2003. Logo, só poderei ser reenquadrado como Associado II em 2022, ou seja, ficarei estacionado como Associado I durante 10 anos. Passaria a Associado II ano que vem. Essa é a crueldade escondida por trás da proposta do Governo e que a mídia brasileira não esclarece. Minha forma de reagir coletivamente é manter-me em luta, na greve. Individualmente, não terei saída: tenho mais 15 anos de trabalho. Aposentar-me-ei aos 65 anos. Dos 15 anos de trabalho que ainda me restam, se vivo ficar, passarei 10 anos sem promoção. Lutarei de todas as formas e com todas as forças para que esse acordo-fantasma não seja referendado pelo Senado Federal. Caso não consigamos, tomarei a atitude individual que me cabe: solicitarei o descredenciamento dos dois programas de Pós-graduação nos quais atuo. Grande parte dos professores-doutores, quando acordarem desse torpor e perceberem a roubada para a qual foram levados pela Federação-Fantasma também tomarão a mesma decisão que tomarei. Um movimento coletivo desses, ao longo do tempo, também matará a Pós-graduação nas universidades públicas brasileiras. Quando, no dia 07 de julho deste ano, em Carta aberta ao secretário Sérgio Mendonça, chamei-o de covarde, exagerei. Covarde não é ele. Covarde é o Governo que ele representa. Covarde é essa trama urdida para acabar com a universidade pública brasileira e ainda enganar o povo fingindo que lança uma proposta sólida de carreira. O tempo dirá quem tem razão.

Se você ainda não leu a “Carta aberta ao secretário Sérgio Mendonça”, cliquei aqui, leia e replique. Todos precisamos refletir sobre o problema. Juntos!

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