O acordo-fantasma assinado entre o Governo Federal e a
entidade-fantasma denominada Federação de Sindicatos de Professores de
Instituições Federais de Ensino Superior (Proifes-Federação) tem um potencial
bélico homeopático: acaba com a universidade pública brasileira em menos de 10
anos. Podem escrever! E não se trata de um mero exercício de futurologia. Basta
tomarmos alguns pontos da “nova proposta de carreira” que o Governo teima em
enfiar goela abaixo dos professores e professoras em greve. No início, por
exemplo, um professor com doutorado, terá de esperar no mínimo os três anos de
estágio probatório para ter a primeira ascensão na carreira. Só depois disso
poderá pedir a promoção para professor Adjunto I. Em sendo bem-avaliado e não
tendo nenhum problema com os critérios (sabe Deus de onde o Ministério da
Educação (MEC) os buscará) demorará mais 8 anos para ascender. Imaginemos que o
professor deste exemplo hipotético tenha ingressado na universidade como
recém-doutor. Já terá 11 anos de casa. Como o reenquadramento para a classe de
Professor Associado I depende de 17 anos da obtenção do título de doutor, esse
professor “estaciona” em Adjunto IV por mais seis anos. “Vira” Professor
Associado I. Então, demora mais seis anos para ascender três níveis, ou seja,
só após 23 anos de casa, passará a Professor Associado IV. Daí em diante, só
com a morte de um professor titular, poderá concorrer à vaga. De novo, só Deus
sabe o tempo que esse professor do nosso exemplo poderá chegar ao topo da
carreira e receber os mágicos R$ 17 mil que o Governo promete para 2015. Para
quem está na carreira atual, então, o golpe é ainda mais trágico. Hoje sou
professor Associado I. Com o acordo-fantasma do Governo, só poderei ser
reenquadrado como professor Associado II com 19 anos após a obtenção do título
de doutor. Obtive o título em 2003. Logo, só poderei ser reenquadrado como Associado
II em 2022, ou seja, ficarei estacionado como Associado I durante 10 anos. Passaria
a Associado II ano que vem. Essa é a crueldade escondida por trás da proposta
do Governo e que a mídia brasileira não esclarece. Minha forma de reagir
coletivamente é manter-me em luta, na greve. Individualmente, não terei saída:
tenho mais 15 anos de trabalho. Aposentar-me-ei aos 65 anos. Dos 15 anos de
trabalho que ainda me restam, se vivo ficar, passarei 10 anos sem promoção. Lutarei
de todas as formas e com todas as forças para que esse acordo-fantasma não seja
referendado pelo Senado Federal. Caso não consigamos, tomarei a atitude
individual que me cabe: solicitarei o descredenciamento dos dois programas de
Pós-graduação nos quais atuo. Grande parte dos professores-doutores, quando
acordarem desse torpor e perceberem a roubada para a qual foram levados pela Federação-Fantasma
também tomarão a mesma decisão que tomarei. Um movimento coletivo desses, ao
longo do tempo, também matará a Pós-graduação nas universidades públicas
brasileiras. Quando, no dia 07 de julho deste ano, em Carta
aberta ao secretário Sérgio Mendonça, chamei-o de covarde, exagerei.
Covarde não é ele. Covarde é o Governo que ele representa. Covarde é essa trama
urdida para acabar com a universidade pública brasileira e ainda enganar o povo
fingindo que lança uma proposta sólida de carreira. O tempo dirá quem tem
razão.
Se você ainda não leu a “Carta aberta ao secretário Sérgio Mendonça”, cliquei
aqui, leia e replique. Todos precisamos refletir sobre o problema. Juntos!
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