O governo brasileiro e parte dos intelectuais do País (se é que essa
figura existe pelas bandas de cá) defendem, ainda que não abertamente, um
modelo de educação no qual o Estado abre mão de “cuidar”, no nível superior,
dos cursos de graduação e passa a ter um olhar dirigido aos cursos de
Pós-graduação. A tendência atual parece ser de transferir à iniciativa privada
a tarefa de formar os estudantes de graduação e, às universidades públicas, a
formação em pós-graduação. Ao sancionar a lei que troca dívidas das
instituições particulares por bolsas do Programa Universidade para todos
(ProUni), o Governo Federal, além de transferir recursos públicos para a
iniciativa privada, manda o recado: cuidem da graduação no País! Paralelo a esse
movimento, o Governo, ao invés de investir efetivamente na carreira de docente
federal, investe abertamente em criar uma disputa insana dentro da própria
categoria: forja um acordo com a Federação de Sindicatos de Professores de Instituições
Federais de Ensino Superior (Proifes-Federação) que só acentua a vala abissal
que existe entre os professores dentro da própria carreira. E se isso já existe
na carreira atual, com os 17 níveis, essa distância entre os que iniciam (com
títulos menores como de especialização e mestrado) e os mais próximos do topo
da carreira (com títulos de doutores), a carreira proposta acentua ainda mais
esse desnível e, por incrível que pareça, prejudica sensivelmente os
professores Associados, faixa na qual, ou estão, ou vão entrar os professores
que atuam nos programas de Pós-graduação no País. Ora, ao retirar o incentivo
financeiro, quando não, dificultar a progressão dos professores que trabalham
nos cursos de Pós-graduação, o Governo manda outro recado: virem-se! A criação
dos mestrados profissionalizantes, com a possibilidade de esses cursos serem
pagos, é mais um movimento para, também, o governo sair, de mansinho da
pós-graduação financiada pelo Estado. Esse modelo produtivista, portanto, tem
uma lógica perversa: retira do Estado a obrigação constitucional de financiar a
educação superior no País e transfere aos professores “produtivos” o mérito
pelo financiamento das instituições. Na concepção de carreira defendida pelo Sindicato
Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior (Andes-SN), os
professores recebem uma remuneração justa e digna para ser professor e
desenvolver atividades de ensino, pesquisa e extensão de forma equilibrada. E
foi por acreditar nessa concepção de carreira que entramos em greve. Não cabe
ao professor captar recursos para as instituições. Isso é tarefa do Estado e da
administração superior. Ao cair na armadilha de que “é o melhor, o mais
produtivo”, o professor termina por funcionar como fonte de exploração do
capitalismo de Estado. Com isso, nas greves, passa a atuar ao lado do patrão, o
Estado, e não ao lado dos demais colegas professores. Refletir sobre isso é
fundamental para entender a lógica da carreira que defendemos conjuntamente por
meio do Andes-SN.
Se você ainda não leu a “Carta aberta ao secretário Sérgio Mendonça”, cliquei
aqui, leia e replique. Todos precisamos refletir sobre o problema. Juntos!
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