A reação
provocada por Rubem Alves, ao ser citado na Conferência "Ecossistemas
comunicacionais: os dispositivos móveis como extensão da mente humana" com
a qual o professor do PPGCCOM da UFAM, Gilson Monteiro, encerrou o II Congresso
Internacional Jornalismo e Dispositivos Móveis (SMARTPHONES/TABLETS/WEB
2.0/CONVERGÊNCIA), na Universidade da Beira Interior (UBI), ontem, em Covilhã,
Portugal, parece indicar que o educador e filósofo brasileiro tem dificuldades
em ser aceito na academia. Ou, que a academia ainda reage ferozmente ao prazer.
Talvez, induzida pela própria editora que na ficha catalográfica de "Variações
sobre o prazer", de Rubem Alves, informa que o livro trata de Erotismo,
Prazer, Corpo e Mente (terapia), Relaxamento, Sexo (Psicologia), Corpo Humano,
Aspectos Sociais, Saúde." O livro de Alves é uma deliciosa e provocante
crítica à Educação e à Ciência tradicionais, jamais um livro de Sexo,
Relaxamento ou coisa parecida. Já no primeiro capítulo, provoca: "Por que
não consegui terminar este livro - Originalmente: Contra o método", numa
clara referência ao livro "Contra o Método", de Paul Karl Feyerabend.
A provocação aparece logo no prefácio, com um ESCLARECIMENTO:"neste livro
não haverá notas de rodapé. Rodapé é coisa que fica por baixo, na altura do pé,
e é incômodo ficar olhando o tempo todo para baixo. Assim como estou escrevendo
este livro sob uma inspiração culinária e gastronômica, incluirei, no meio do
texto, "notas de canapé",
coisas pequenas e saborosas, algumas doces, outras apimentadas, que abrem o
apetite e que são servidos no meio da festa. Se você não quiser provar o
canapé, pode declinar o contive e continuar a leitura". De forma
genialmente criativa, Alves, de cara abomina a tradicionais "Notas de
Rodapé" exigidas pelos tradicionais "cientistas" que tanto falam
em Inovação, palavra que virou moda em algumas áreas ou campos do conhecimento,
mas que, na prática, não aceitam anda de novo. Em seguida, Alves solta pitadas
de provocações: "...Um artigo científico é isso: o relato do caminho que
se seguiu para se ir do ponto de onde se partiu até o ponto aonde se chegou.
Isso se chama método". "Mas o corpo não entende a linguagem do
Método. Métodos são procedimentos racionais. Mas o corpo é um ser musical. Ele
só entende a linguagem da Estética." "...O corpo, tocado por uma
imagem poética, repercute, ressoa, vibra..." E tasca:
"...Eu
me vi escrevendo um livro para os habitantes do "País dos Saberes".
No "País dos saberes há regras precisas que regulam a fala e a escrita.
Regras claras, rigorosamente definidas. Quem tropeça é expulso. Para se entrar
no "País dos saberes" há de se passar por rituais de exame de
linguagem. Tais rituais têm o nome de "defesa de tese".
"...O
que se exige em um texto de saber é que o autor faça uma assepsia rigorosa nos
seus materiais. Tudo aquilo que NÂO diz respeito ao caminho em linha reta, que
leva do problema inicial à conclusão, deve ir para a lixeira. Assim, as
experiências malsucedidas, hipóteses equivocadas e erros vão para a lixo do
esquecimento. É como se não tivessem acontecido." (29/30)
É
assim que se ensina ciência em nossas escolas. Os alunos aprendem a equação de
2° grau, mas não os caminhos e descaminhos do pensamento do matemático que a
elaborou".
Há
mais provocações, que devem ser deliciosamente devoradas por quem ainda não as
leu. O livro de Rubem Alves, garanto, deve sim, ser usado como uma Introdução a
Feyerabend. Com a vantagem fundamental de valorizarmos um filósofo e educador
brasileiro com ideias extremamente provocantes e inovadoras. Talvez, assim, a
academia deixe de reagir ao prazer como se fosse um pecado imperdoável.
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