Lembro-me, como se fosse hoje, do meu
avô, Alfredo Guedes Monteiro, que se foi, nos meus braços, como se a vida fosse
um mero sopro. Respirou fundo, ouvi um som mais forte, e parou de respirar.
Corri, gritei, “o vovô morreu”. Tinha morrido mesmo. Como um passarinho. Aquele
cabelo branquinho, um gosto permanente por me ensinar. O Fredó era a imagem
permanente que tenho, até, hoje, da sabedoria. Foi ele que me ensinou, e com
ele aconteceu exatamente assim, que quando um doente terminal tem uma melhora
absurda e aparente, é porque a morte está próxima. Passei a observar mais
acuradamente o que ele me ensinara. É raro que assim não o seja. Em tudo na vida,
quando as partes envolvidas tentam demonstrar mais força, é quando arquejam,
dão o último suspiro: estão prestes a morrer, a acabar, a decretar o fim.
Arroubos, frases feitas, palavras de ordem não passam de claras demonstrações
de que o fim está próximo, mas, não se quer (nem se pode admitir). Lutar é uma
das coisas mais lindas da vida. Não querer morrer é admirável, mas, todos
sabemos: a morte é a única certeza. Logo, o que começa nesta vida terá um fim.
Nada é indeterminado. A sabedoria popular não se explica. Começa a observar
mais acuradamente e verás: quanto mais se tenta demonstrar forças é porque
nenhuma força se tem mais.
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