Desde a infância ouço o que se
convencionou chamar de expressão idiomática “com uma mão na frente e outra
atrás”. Das explicações que encontrei, nenhuma foi capaz de me convencer
plenamente. Há explicações relacionadas ao fato de o ladrão deixar você “com
uma mão na frente e outra atrás”, ou seja, levar tudo (no meu entendimento,
inclusive as vestes). Se você disser que o Fulano é um liso, que vive “com uma
mão na frente e outra atrás”, você quer reduzi-lo ao mais alto grau de pobreza,
modernamente, de vulnerabilidade social. A expressão aplica-se, também, àquela
pessoa que entrou em uma disputa com algo, perdeu o que tinha e ainda tiraram
mais de o quê se tinha. Diz-se que o Cicrano entrou saiu da disputa “com uma
mão na frente e outra atrás”. Com quem reivindica acontece o mesmo: dependendo
de o que se pede, a derrota é certa. A saída, no mais das vezes, é “com uma mão
na frente e outra atrás”. É como se significasse que o rei está nu. Que o líder
levou seus liderados à derrota vergonhosa por um erro de avaliação. Lutar tem
dois riscos: perder ou ganhar. Entrar em uma disputa, porém, com a certeza de
que a possibilidade de sair “com uma mão na frente e outra atrás” é real não
faz sentido. Particularmente, confesso, que sempre associo a imagem a alguém
(ou a algum grupo). E quando faço isso, os fatos e a história demonstram que “o
rei está nu”. E para sair correndo e esconder a sua vergonha (individual ou
coletiva) só existe uma forma: por uma mão na frente e outra atrás, proteger as
partes mais “sagradas” do corpo e desandar a correr. É uma forma de tentar
demonstrar aos demais uma capacidade de reagir que não existe. E não há como
existe porque as mãos estão ocupadas, Avaliar criteriosa e friamente uma
conjuntura é crucial para se entrar em uma disputa. Sob pena de ao final, você
ter de atravessar a cidade “com uma mão na frente e outra atrás”, mas, nem
poder levantar o punho para comemorar sob pena de todos perceberem a nudez que
se tenta esconder.
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