sábado, 3 de fevereiro de 2018

Nossa educação é misógina e machista


Tenho convicção: não sou o melhor exemplo para falar do tema. Dos meus 54 anos de idade, fui aculturado misoginomachisticamente, talvez, uns 30 a 40 anos. Ao ingressar na Universidade Federal do Amazonas (UFAM), em 1985, ainda como estudante do Curso de Comunicação Social (Habilitação em Jornalismo), tive os primeiros contatos com a professora Conceição Derzi. Foi com ela que tomei as primeiras doses de antídotos antimisoginia e antimachismo. Tenho plena consciência de que não estou curado. Ainda preciso tomar, todos os dias, doses cavalares de medicação tarja-preta, para não ter recaídas. Convivo com machistas o tempo inteiro. Mas, hoje em dia, por conta das doses cavalares de consciência do meu papel de educador, combate, a cada segundo o machismo e a misoginia, como um viciado que se recupera permanentemente, para não deixar que doses tóxicas circulem pelo meu sangue. Dias desses, jogava dominó com os amigos, na beira da churrasqueira. A TV estava ligada justamente naquela emissora que, segundo todos eles, “só mostrava o que não prestava e era um ataque frontal às famílias brasileiras”. Isso no momento que os personagens gays apareciam ou quando mãe e filha “pegavam” o mesmo homem. Não falei nada: só ouvia e deixava cada um destilar o seu veneno. Sobre um tal “programa dos Brothers” os comentários eram os mesmos. De repente, cenas deste dito “programa que destrói a família brasileira” entram no ar. Cenas de mulheres em trajes mínimos. Olhos esbugalhados, os mesmos críticos de há pouco, só falavam nas qualidades das “gostosas”. Não me contive: “quer dizer que para vocês, quando aparecem cenas de gays e de mulheres com comportamento sexual nada convencionais, a família brasileira está em perigo, é? Agora o programa condenado há pouco é o melhor do mundo? Gostariam muito que vocês mantivesse a coerência do discurso. Caso não, tudo o que falaram antes é pura hipocrisia”. E o fiz com o tom de voz muito mais alto. Uns concordaram e ficaram sérios. Outros, riram e disseram que eu tinha sido radical demais. Talvez a minha reação indignada, ate no tom da voz, tenha servido pouco. Mas, se provocou algum tipo de reflexão naqueles machistas inveterados, terei cumprido, em parte o meu papel de educador. Tenho certeza que não mudarei o mundo machista e misógino. O que posso fazer é provocar ranhuras nas mentes machistas. Assim fazendo, tento me redimir dos meus pecados machistas do passado e ser uma pessoa melhor no futuro. Não sei se conseguirei. Porém, tento todos os dias!

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