A piada mais trágica que resulta da política pública de remuneração
dos professores das universidades federais “implantada pelo governo FHC e refinada
pelo Governo Lula”, como sempre gosto de frisar, é que “professor universitário
hoje não faz plano (de curso) faz programa”. Na discussão realizada ontem na
sede da Associação dos Docentes da Universidade Federal do Amazonas (Adua-Ad)
sobre o Plano Nacional de Formação dos Professores da Educação Básica (Parfor)
grande parte dos professores que defende a não-paralisação das atividades do
Parfor o faz com o discurso de que os estudantes, no interior, fazem sacrifícios
adicionais e precisam “ser respeitados”. Estranho que não tenham esse cuidado
com os estudantes de Manaus. Será que os estudantes de Manaus também não
merecem respeito? A mim me parece que não se trata de defender o respeito aos
estudantes do interior, mas sim de defender as seis bolsas de R$ 1.300,00 que
cada “iluminado” do Parfor recebe como professor. Essa política de implantar “programas
emergenciais” no fundo não passa de uma estratégia do governo federal com duas
finalidades: desmobilizar a categoria em momentos de greve, como agora, e
remunerar temporariamente professores com bolsas ao invés de pagar salários
dignos. O trocadilho “fazer programas” cai bem para a situação e me fez
lembrar, enquanto a discussão transcorria, de um episódio ocorrido entre mim e
o jornalista Umberto Calderaro Filho que é hilário e didático, ao mesmo tempo.
Quando iria lançar meu livro Rhumores, na Bienal do Livro, em São Paulo (nem me
lembro do ano), fui ao gabinete do dono o jornal que eu trabalhava para
solicitar uma carta de recomendação ao Sistema Globo, uma vez que A Crítica era
parceira. Calderaro me garantiu a carta de apoio, mas, como de hábito fazia com
os demais jornalistas da época, resolveu “dar um agrado”. Puxou do bolso algo
equivalente a R$ 500,00 e disse: “tome, é para ajudar nas despesas da viagem”.
O dinheiro já tinha sido posto no bolso da frente da minha camisa. Ato contínuo,
peguei o dinheiro, devolvi a ele e disse: “obrigado, seo Calderaro! Mas, se o
senhor quiser incluir esse valor como aumento no meu salário vou ficar muito
contente”. Ele me respondeu com uma gargalhada acompanhada de um palavrão,
impublicável é claro. O Governo Federal age da mesma forma: ilude professores
com programas e bolsas, ou seja, ganhos imediatos, mas não quer nem saber de
negociar remuneração justa e digna. Os incautos são a prova de que a
remuneração é miserável a ponto de muitos esquecerem a dignidade e pararem as
atividades na capital para correrem rumo às atividades do Parfor nos
municípios. É um ganho a mais em dinheiro, porém, um golpe fatal no
comportamento digno e ético. E muitos (e muitas) nem se dão conta disso Ou
fingem não entender!
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