Por conta da postagem de ontem, aqui neste espaço, denominada “Escapadas
noturnas na educação superior brasileira”, fiquei a “matutar” o que nos
empurrou para esse individualismo tacanho, que destruiu nossa carreira de
magistério superior e nos transformou na pior remuneração do serviço público
federal. É muito provável que esse estado de coisas seja resultado da própria
política pública implantada nos governos militares e lapidada, à exaustão, nos
governos democráticos, de destruição da autoestima da categoria dos professores
(e professoras). Não há espírito de categoria porque ele foi destruído nos
governos militares. Todas as conquistas, todos os avanços da Educação Superior
do País foram conseguidos à custa de muita luta, muito suor, muitas greves. Já
no fim dos governos militares, a estrutura foi modificada para tirar espaços,
inclusive físicos, de convivência, de discussão política. Os governos ditos
democráticos, mais ainda nos últimos 12 nos, investiram na política do “Estado
mínimo na educação”. Por meio de medidas provisórias, decretos, leis e
pareceres do Conselho Nacional de Educação, transformaram as universidades
públicas em espaço para a “prestação de serviços” dos mais diversos matizes,
menos os educacionais. Não tivemos a capacidade de vislumbrar a armadilha na
qual estávamos caindo: a da desoneração financeira do Estado. Quando não, o
Estado investe, mas, ao invés de fazê-lo na carreira dos professores, o faz por
meio de editais e de concorrências fratricidas que levam ao cúmulo do absurdo
como o que ocorreu na Universidade Federal do Amazonas (Ufam): um professor
surrar o outro por não poder acumular duas bolsas do Plano Nacional de Formação
de Professores da Educação Básica (Parfor). Programas do Governo Federal, como
esses, são criados não com o fim de efetivamente investir na qualificação dos
professores da educação básica e do ensino médio, mas, sim, de engordar as
estatísticas do Poder Central. Concluídos, a presidente Dilma Roussef poderá
tomar os números, encher o peito, como o fez o governador Eduardo Braga, quando
anunciou a “formatura” de 7 mil professores, de uma tacada só, feita pela
Universidade do Estado do Amazonas (UEA), e dizeer que o Governo Federal “formou”
tantos professores da Educação Básica. Semelhantemente ao que fez o presidente
Lula, com o Reuni e o Prouni, ao anunciar a “ampliação das vagas” e a criação
de novos cursos e universidades. Sabe-se lá Deus à custa de muito sofrimento de
professores que foram para os mais distantes rincões do País, seduzidos pelo
belo discurso da ampliação, como Pólo de Benjamin Constant, da Ufam, e se
transformaram em doentes, zumbis da educação superior, distantes da família,
sem prédios, laboratórios e equipamentos suficientes para as aulas básicas. Só
para ficar em um exemplo, as aulas práticas do curso de Fisioterapia da Ufam em
Coari eram ministradas em piscinas residências, algo reprovável e digno de
vergonha. O fato sempre foi escondido de todos para se manter um erro grave da
ampliação sem planejamento e sem se dar condições mínimas de funcionamento de
um curso e de dignidade aos seus professores e estudantes. Assim foi feita a
expansão atual: atabalhoada, desavergonhada e com o fim de aumentar as
estatísticas pró-governo do Partido dos Trabalhadores. Esse processo de
incentivo oficial ao individualismo fez com que grande parte dos nossos colegas
professores (e professores) não se vejam como trabalhadores. Criou-se uma
categoria de miseráveis que, no entanto, não se misturam. Para grande parte dos
PHDeuses, ser pesquisador, porque nem professores eles se consideram mais, é um
privilégio, uma dádiva do estado que, além de elevar a remuneração a um patamar
bem acima dos colegas de profissão, os transforma em elite da elite. A luta
dessa turma é por publicar em revista com Qualis A, por participar de
Seminários e Congressos com seus artigos. Os que lutam por salários e fazem
greve são umas “malas” que “nunca tiveram competência para se qualificar”. Nós
não podemos parar: devemos cumprir o calendário da Capes. Somos diferenciados,
portadores de bolas do CNPq e quetais. Ou seja: a política pública atual criou
uma casta de individualistas, pesquisadores, que não gosta nem de ministrar
disciplinas nos cursos de graduação e se sente desconfortável em ser da
categoria dos professores. Formam uma categoria à parte: a dos pesquisadores.
Ao que parece, o Estado obteve sucesso em destruir a categoria dos professores,
trabalhadores, por meio do individualismo que destrói o coletivo. Certamente,
aos olhos dessa gente, professor que faz greve é professor, talvez, Qualis C.
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