terça-feira, 29 de maio de 2012

Consuni da Ufam suspende calendário acadêmico


Por maioria de 31 votos contra 7, o Conselho Universitário (Consuni) da Universidade Federal do Amazonas (Ufam) suspendeu o calendário acadêmico desde o dia 17 de maio, data da deflagração da Greve dos Professores. Com isso, todas as atividades desenvolvidas por professores que “furavam a greve” estão invalidadas e terão de ser repostas quando um novo calendário acadêmico for discutido e votado, ao final da greve. Além disso, foi aprovada uma moção de apoio à greve sugerida pelo Comando de Greve dos professores. Foram cinco horas de discussões com falas históricas como as dos professores Edson Oliveira, que chegou a chorar emocionado ao apoiar o movimento, e a do professor Aloysio Nogueira. Para além dos que estavam presentes, uma das “falas” mais importantes favoráveis à greve veio por intermédio de uma carta dirigida aos Conselheiros da Ufam, enviada pelo representante docente do Curso de Medicina no Consuni, professor Edson de Oliveira Andrade, lida pelo diretor da Faculdade de Medicina, Dirceu Benedicto Ferreira. Quando as “falas” ainda não se posicionavam claramente favoráveis à Greve no Consuni, o professor Dirceu leu uma carta argumentos convincentes e claros, que abriram as portas para a decisão histórica tomada pelo Consuni. Autorizado pelo professor Edson de Oliveira Andrade, publico, na íntegra, a histórica carta destinada aos conselheiros da Ufam.
“Caros Conselheiros
Infelizmente não posso compartilhar com vocês este momento tão decisivo para a Universidade Pública Brasileira. Compromissos agendados há mais de seis meses  me obrigam estar fora de Manaus nestes dias tão conturbados.
Mesmo ao longe quero manifestar a minha posição perante este Conselho e a comunidade universitária amazonense.
O pensamento que aqui exponho já o fiz perante os professores e alunos do curso de Medicina da UFAM, portanto não é algo novo perante os meus pares.
Entendo que esta greve não foi ocasionada pelos professores da IFES, muito menos pelas lideranças de nossas entidades de classe. Ela é fruto da arrogância e do longo descaso de nossos dirigentes nacionais, que ontem fingiam estar ao nosso lado para adquirir a nossa confiança - e votos -, bem como usurpar os nossos sonhos; e que agora mostram a verdadeira face.
Fomos empurrados para esta situação, não a criamos. Mas não vamos e não devemos fugir dela.
Hoje, este Conselho tem o dever de analisar a questão sobre os seus mais diversos aspectos. Por certo esta não é a instância onde a greve deva ser declarada.  A greve independe de aprovação nesta instância. ELA EXISTE, e ponto!
O que penso que este Conselho tem a obrigação de definir é o que chamo de aspectos éticos, políticos e operacionais.
Considero ético e, portanto imperativo, a defesa da Universidade Pública em nosso país. A greve ora em curso tem na sua essência este objetivo, já que é impossível a permanência deste ideário com a destruição do espaço docente público e livre.
Por político, entendo ser dever deste colegiado manifestar de forma cristalina o seu apoio  a este movimento social. Já o fizemos em passado recente ao movimento dos técnico-administrativos e não podemos furtar este apoio político ao corpo docente.
Embora, como já afirmei anteriormente, este Conselho não tenha o condão de decretar greve no seio da UFAM, ele não pode se recusar a analisar a extensão do movimento no âmbito da Universidade. Hoje existe um fato, hoje existe uma realidade: A UFAM ESTÁ EM GREVE! Digo mais: AS UNIVERSIDADES FEDERAIS BRASILEIRAS ESTÃO EM ESTADO DE GREVE!
Penso que esta situação traz enorme impacto sobre a operacionalidade da UFAM e em especial sobre as atividades didáticas.  Eu sei o quanto é doloroso parar as atividades didáticas. Eu sei quantos prejuízos isto acarreta. Para os que estão vivendo o momento presente, e tão somente esse, parece ser o fim de tudo. Isto me foi verbalizado por alunos que tenho no mais alto conceito acadêmico. Mas este é um equívoco de avaliação que se prevalecer comprometerá de forma brutal o futuro da Universidade Pública Brasileira.
A Universidade Pública não pode ser vista com o olhar voltado apenas para o já e o agora. Ela, enquanto instituição, transcende o nosso momento e nos impõe obrigações com as futuras gerações.
Hoje como médico, por certo não dependo do que aqui ganho para manter a minha vida. Mas isto não pode ser usado por mim como um argumento para não apoiar o movimento; muito pelo contrário.  A minha ciência-arte tem como pedra fundamental a solidariedade. Isto é o que une o médico do passado ao médico atual. Esta é a nossa história. Este é nosso compromisso ético.
Em suma, se me considero forte e não dependente destes parcos vencimentos docente, tenho mais é a obrigação de me solidarizar com aqueles que precisam dele para comprar o alimento que tentam por na mesa para os seus filhos. Não fazendo isso, estou apenas expondo uma face arrogante não muito diferente da dos dirigentes nacionais que nos levaram a esta situação tão triste. Mas a Medicina – a que sonho, batalho e acredito – tem a sua fortaleza no servir e neste momento tão grave ela vai se por a serviço do futuro, mesmo que a custa de um pouco de sacrifício ao presente.
Por todo o dito, peço aos colegas conselheiros que apóiem os seguintes encaminhamentos que fisicamente de longe faço, mas em espírito ao lado de cada um de vocês.
1)Apoio incondicional ao movimento grevista docente nacional, e em especial na Universidade Federal do Amazonas.
2)Reconhecer, por fático, o ESTADO DE GREVE, na UFAM
3)Em face desta situação e por considerar insustentável a manutenção do atual calendário acadêmico de modo desintegrado e sem unidade universitária,  proponho a suspensão de sua aplicação até o restabelecimento das atividades docentes regulares no âmbito da UFAM.
Fraternalmente”

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