Por
maioria de 31 votos contra 7, o Conselho Universitário (Consuni) da
Universidade Federal do Amazonas (Ufam) suspendeu o calendário acadêmico desde
o dia 17 de maio, data da deflagração da Greve dos Professores. Com isso, todas
as atividades desenvolvidas por professores que “furavam a greve” estão
invalidadas e terão de ser repostas quando um novo calendário acadêmico for
discutido e votado, ao final da greve. Além disso, foi aprovada uma moção de
apoio à greve sugerida pelo Comando de Greve dos professores. Foram cinco horas
de discussões com falas históricas como as dos professores Edson Oliveira, que
chegou a chorar emocionado ao apoiar o movimento, e a do professor Aloysio
Nogueira. Para além dos que estavam presentes, uma das “falas” mais importantes
favoráveis à greve veio por intermédio de uma carta dirigida aos Conselheiros
da Ufam, enviada pelo representante docente do Curso de Medicina no Consuni, professor
Edson de Oliveira Andrade, lida pelo diretor da Faculdade de Medicina, Dirceu
Benedicto Ferreira. Quando as “falas” ainda não se posicionavam claramente
favoráveis à Greve no Consuni, o professor Dirceu leu uma carta argumentos
convincentes e claros, que abriram as portas para a decisão histórica tomada
pelo Consuni. Autorizado pelo professor Edson de Oliveira Andrade, publico, na
íntegra, a histórica carta destinada aos conselheiros da Ufam.
“Caros
Conselheiros
Infelizmente
não posso compartilhar com vocês este momento tão decisivo para a Universidade
Pública Brasileira. Compromissos agendados há mais de seis meses me obrigam estar fora de Manaus nestes dias
tão conturbados.
Mesmo
ao longe quero manifestar a minha posição perante este Conselho e a comunidade
universitária amazonense.
O
pensamento que aqui exponho já o fiz perante os professores e alunos do curso
de Medicina da UFAM, portanto não é algo novo perante os meus pares.
Entendo
que esta greve não foi ocasionada pelos professores da IFES, muito menos pelas
lideranças de nossas entidades de classe. Ela é fruto da arrogância e do longo
descaso de nossos dirigentes nacionais, que ontem fingiam estar ao nosso lado
para adquirir a nossa confiança - e votos -, bem como usurpar os nossos sonhos;
e que agora mostram a verdadeira face.
Fomos
empurrados para esta situação, não a criamos. Mas não vamos e não devemos fugir dela.
Hoje,
este Conselho tem o dever de analisar a questão sobre os seus mais diversos
aspectos. Por certo esta não é a instância onde a greve deva ser
declarada. A greve independe de
aprovação nesta instância. ELA EXISTE,
e ponto!
O
que penso que este Conselho tem a obrigação de definir é o que chamo de
aspectos éticos, políticos e operacionais.
Considero
ético e, portanto imperativo, a
defesa da Universidade Pública em nosso país. A greve ora em curso tem na sua
essência este objetivo, já que é impossível a permanência deste ideário com a
destruição do espaço docente público e livre.
Por político, entendo ser dever deste
colegiado manifestar de forma cristalina o seu apoio a este movimento social. Já o fizemos em
passado recente ao movimento dos técnico-administrativos e não podemos furtar
este apoio político ao corpo docente.
Embora,
como já afirmei anteriormente, este Conselho não tenha o condão de decretar
greve no seio da UFAM, ele não pode se recusar a analisar a extensão do
movimento no âmbito da Universidade. Hoje existe um fato, hoje existe uma
realidade: A UFAM ESTÁ EM GREVE! Digo mais: AS UNIVERSIDADES FEDERAIS
BRASILEIRAS ESTÃO EM ESTADO DE GREVE!
Penso
que esta situação traz enorme impacto sobre a operacionalidade da UFAM e em especial sobre as atividades
didáticas. Eu sei o quanto é doloroso
parar as atividades didáticas. Eu sei quantos prejuízos isto acarreta. Para os
que estão vivendo o momento presente, e tão somente esse, parece ser o fim de
tudo. Isto me foi verbalizado por alunos que tenho no mais alto conceito
acadêmico. Mas este é um equívoco de avaliação que se prevalecer comprometerá
de forma brutal o futuro da Universidade Pública Brasileira.
A
Universidade Pública não pode ser vista com o olhar voltado apenas para o já e
o agora. Ela, enquanto instituição, transcende o nosso momento e nos impõe
obrigações com as futuras gerações.
Hoje
como médico, por certo não dependo do que aqui ganho para manter a minha vida.
Mas isto não pode ser usado por mim como um argumento para não apoiar o
movimento; muito pelo contrário. A minha
ciência-arte tem como pedra fundamental a solidariedade. Isto é o que une o
médico do passado ao médico atual. Esta é a nossa história. Este é nosso
compromisso ético.
Em
suma, se me considero forte e não dependente destes parcos vencimentos docente,
tenho mais é a obrigação de me solidarizar com aqueles que precisam dele para
comprar o alimento que tentam por na mesa para os seus filhos. Não fazendo
isso, estou apenas expondo uma face arrogante não muito diferente da dos
dirigentes nacionais que nos levaram a esta situação tão triste. Mas a Medicina
– a que sonho, batalho e acredito – tem a sua fortaleza no servir e neste
momento tão grave ela vai se por a serviço do futuro, mesmo que a custa de um
pouco de sacrifício ao presente.
Por
todo o dito, peço aos colegas conselheiros que apóiem os seguintes encaminhamentos
que fisicamente de longe faço, mas em espírito ao lado de cada um de vocês.
1)Apoio incondicional ao movimento grevista
docente nacional, e em especial na Universidade Federal do Amazonas.
2)Reconhecer, por fático, o ESTADO DE GREVE,
na UFAM
3)Em face desta situação e por considerar
insustentável a manutenção do atual calendário acadêmico de modo desintegrado e
sem unidade universitária, proponho a
suspensão de sua aplicação até o restabelecimento das atividades docentes
regulares no âmbito da UFAM.
Fraternalmente”
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