É
inexplicável a posição de alguns professores e professoras das universidades
públicas brasileiras de só aderir às greves após a reunião dos Conselhos
Universitários (Consunis) que, quase sempre, divulgam moções de apoio. Nem
sempre, porém, essas moções refletem o pensamento dos reitores e reitoras das Instituições
de Educação Superior (IES). Covenhamos, nesse processo todo de “apoio” dos
reitores aos professores em greve há muito de hipocrisia, de um lado, e proselitismo
político de outro. Se não, vejamos! Os professores, lá na ponta do processo, são
trabalhadores. Fazem greve ou não queiram ou não os Consunis das IES. Na outra
ponta, estão os reitores (e reitoras) inegavelmente, representantes do
Ministério da Educação (MEC), que é Governo Federal, portanto, patrão nessa
história. Ao emprestar apoio aos professores em greve, reitores e reitoras, o
fazem por dois motivos fundamentais. O primeiro é muito claro: são escolhidos
por voto direto da comunidade, num tipo de eleição na qual os professores
possuem 70% do peso dos votos. Ficar “mal” com a fatia mais combativa dessa
categoria é dar um tiro nos próprios pés. O segundo motivo é ainda mais claro:
como a Associação Nacional dos Dirigentes Instituições Federais de Ensino
Superior (Andifes), antes do “Governo dos Trabalhadores” um peso-pesado nas
negociações com o Governo Federal, hoje é um gatinho de pelos que, de tão manso,
mais parece de pelúcia. Perdeu completamente o poder político que tinha. Fosse
uma entidade de respeito e vergonha, a Andifes botaria a boca no trombone e
denunciaria, sem meias palavras, a fraude eleitoral que foi a expansão das
universidades brasileiras: houve um aumento significativo no número de
ingressantes, sem a contratação de professores e técnicos na mesma proporção,
e, muito menos, sem a compra de equipamentos laboratoriais necessários. O
aumento na estatística do número de universidades e estudantes nelas
ingressados serve bem à sanha política do Partido dos Trabalhadores em dizer
que o Ensino Superior melhorou no País. A greve dos professores, com mais de 50
universidades paradas, é um grito, acima de tudo, contra as péssimas condições
de trabalho e de salários. E contra isso a Andifes nunca se posicionou clara e
abertamente. O Reuni foi empurrado goela abaixo nas universidades brasileiras,
numa espécie de chantagem oficial (que não aderisse não receberia recursos) e
nada disse foi denunciado. Reitores e reitoras preferiram optar pela lógica do “pegar
ou largar”. Resultado: instituições lotadas de estudantes, mas, sem
professores, técnicos e laboratórios para dar conta da demanda recebida. Como
não se posicionou firmemente contra a calamitosa imposição do Governo Federal,
a Andifes decide apoiar incondicionalmente a greve dos professores, ainda que não
seja o que grande parte dos reitores (e reitoras) defende. Nós, os professores,
porém, agradecemos muito o apoio dos reitores e dos Consunis, mas, que fique
claro uma coisa: não dependemos deles para entrar em greve ou dela sair. Se
assim o fosse, estaríamos a fazer uma greve chapa-branca. E dessas não
participo. E se sentir o cheiro dela no nosso movimento saio do Comando de
Greve na hora.
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