A
cada dia tenho mais convicção de que existe uma visão mediana e míope sobre o
ato de educar. Faz muito tempo, mas, muito tempo, que eu ouvia pais e mães
dizerem, a respeito das filhas que entravam na adolescência: "este
passarinho está começando a querer voar. Vou cortar as asinhas dele!". Não
há nada mais doloroso e irracional, bem como completamente fora de quaisquer
dos propósitos do ato de educar, do que cortar asas. Tolher a liberdade de voar
de quem está apto a fazê-lo é um ato de violência sem precedentes. O papel dos
pais não é cortar as asas das filhas (curioso, dos filhos, eles tentam até dar
asas aos que ainda não as possuem). É ensiná-las a voos seguros, de acordo com
a capacidade as assas que possuem. Na escola brasileira, em todos os níveis, o
processo é o mesmo: pouco adianta você ter capacidade de voar, de seguir em
frente. Nós, os professores e professoras, tomamos nas mãos a enorme tesoura do
arcaico sistema e passamos a usá-las sem pena e sem dó naqueles mais hábeis,
mais habilitados. Importa cumprir o período letivo, o semestre acadêmico. O
sistema educacional brasileiro existe para tolher, para cortar asas, para
amarrar a vida dos geniais. Pensamos pela média, educamos pela média e, em
quase tudo o que fazemos, vale a média. O estudante nota 10 em tudo, no
entanto, não ganha nada a mais por isso. Embora a Lei permita, não os deixam
avançar. Toram as suas asas! A míope visão sobre o ato de educar não foi
vencida. Que nos venham as asas!
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