Nos últimos dias, a democracia
brasileira entrou em pleno parafuso, no que se pode chamar de processo de gourmetização.
E o que está no formol, que fede a mofo, passou a ter a cara de novidade, de
sofisticação. Aquele ato típico de pobretão, o bater panelas (para anunciar que
estava sem dinheiro, como fome) passou a ser o mais chique ato da atual
democracia brasileira. Também virou chique pedir a renúncia ou o impeachment de
Dilma Rousseff (PT). E a esquerda radical uniu-se à direita ruminante para dizer
que é pelego ou pouco inteligente quem não pensar igual a eles. Qualquer
palavra em defesa da permanência de Dilma significa que você ou é alienado ou
faz parte “da corja de ladrões” que assola o País. Para o democrático gourmet,
vale o mantra: se pensas igual a mim, és admirável. Caso não, és detestável! “Ei,
você aí! Pare e escute....”, parafraseando o narrador esportivo Jaime Barreto,
pensam que isso só ocorre do mundo real? Não, a democracia gourmet está cravada
dentro da universidade brasileira. Os intelectualoides modernosos consideram
que se a análise política não é de um deles, não merece ser compartilhada ou
lida, quando a deles, muitas vezes, é tão profunda quanto uma meme de Facebook.
Apresentam discursos da década de 70, goumertizados, para tentarem parecer sofisticados.
Tanto a esquerda radical quanto a direita ruminante, se pudessem, recuariam a
1964, quando, nas palavras esclarecedoras de Juremir Machado da Silva, “o golpe
foi midiático-civil-militar. Sem o trabalho da imprensa não haveria
legitimidade para a derrubada do presidente João Goulart. Os jornais de cada
capital atuaram como incentivadores e árbitros”. Abraçados, Tradição Família e
Propriedade (TFP), evangélicos e a assumida esquerda radical, querem ver Dilma Rousseff
sangrar, em praça pública, até a última gota. Esquecem, todos eles, que Eduardo
Cunha (PMDB-RJ) é a representação mais transparente das lideranças da
democracia gourmet: um aproveitador que manobra, na Câmara dos Deputados, e
chantageia, por meio de artifício legais, o Governo. E a vítima das chantagens,
a presidente, passou a ser vilã, sem que haja nenhuma prova concreta contra
ela. Enquanto alguns peixes graúdos do Partido dos Trabalhadores (PT) nada na
sujeira desde o Mensalão, até o Eletrolão, passando pelo Petrolão, a denúncia
do pagamento de propina de R$ 5 milhões a Eduardo Cunha é relativizada. Assim
estamos hoje: se a denúncia for contra o PT deve ser apurada a fundo e a todos
os envolvidos, cadeia, imediatamente. Em não sendo, são manipulações para
envolver adversários inocentes. A insanidade coletiva é tamanha que, se a
Operação Lava Jato não concluir que Lula e Dilma Dousseff são culpados e não
forem presos, o queridinho das memes digitais, o juiz federal Sérgio Moro, será
execrado. Eis a face mais cruel da democracia gourmet, em quaisquer dos
ambientes: a idolatria é efêmera e só dura o tempo que pensas ao teu adversário
político atual.
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