Hoje, pela manhã, tive uma das piores sensações de toda a minha vida. Meu filho precisou sair da escola mais cedo por problemas de saúde. Para entrar na escola, o porteiro tirou um cadeado do portão e um ferrolho enorme foi deslocado. Ali, o barulho não tão intenso do ferrolho mais parecia daquelas celas mostradas nos cinemas. Eu, definitivamente, não entrava em um local de aprendizagem, um local prazeroso. Acabara de entrar em uma prisão. Pensei: Deus do céu, um ser humano demora 9 meses dentro de um útero, aprisionado, naquela escuridão sem fim; quando vê uma luz, se liberta, ou seja, nasce, não ganha o mundo. Precisamos aprender muito com os animais, cuja escola é a própria vida: nascem andando, se arrastando ou voando e ganham o mundo e, talvez por instinto, saibam quem é o pai ou a mãe. Eles não padecem de complexo de Édipo nem de Electra, são responsáveis pelos seus atos (e voos) e aprendem, com a vida, que se não forem hábeis, morrem. Subi a ladeira que separa a entrada da recepção. Foucault, Vigiar é punir! Olhei para os lados. Algumas crianças brincavam “presamente” às regras de socialização estabelecidas, certamente, pelos professores, pedagogos ou administradores escolares. Uma rajada sombria de vento bateu em meu rosto. O panótico foucaultiano brotara em minha frente naquele desenho em “u”. De repente uma voz: “o senhor já foi atendido?”. Era a “delicada” supervisora escolar que, nem sonha, tirou-me do transe foucaultiano. Ela foi à sala do administrador escolar, meu filho lá não estava. Passou por mim, pediu para eu esperar que “meu filho já tinha a autorização” e estava em sala de aula. Ele desceu, tirou da mochila um formulário que o autorizava a sair antes do horário estabelecido. O porteiro recebeu o documento, olhou e abriu novamente o cadeado. Cruzamos o portão. Estávamos na rua! Respirei mais levemente. Não tenho dúvidas: a escola como lócus de aprendizagem deve ser urgentemente repensada: o ar da rua é muito melhor. O ópio do mundo talvez não seja a religião, mas, a educação. Definitivamente, essa história de educação libertadora é mera figura decorativa. A escola é “prendedora” por natureza. Só quem dela (e dos ensinamentos ali firmados) se libertar será capaz de viver e vivenciar os prazeres do mundo, da vida.
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