De
um lado os mais radicais dos sindicatos dos docentes tratam o problema como se
fosse uma conspiração do Governo Federal com o fim de privatizar de vez a
universidade pública brasileira. Do outro, reitores e reitores ficam sem saber
como enfrentar o problema que, se visto ao pé da letra morta dos números é uma
prova cabal de ineficácia. Não acredito em "teoria da conspiração"
por parte do Governo Federal. Tão pouco diria que reitores e reitores, bem como
suas equipes, são ineficazes. Tenho uma convicção: a retenção (e seus variantes
o abandono e o jubilamento) destrói a universidade pública brasileira. E nós,
professores e professoras, como a nossa visão estreita sobre o processo de
Educação, somos os maiores predadores da instituição na qual trabalhamos. Não é
mais possível a visão preconceituosa, tacanha e tão antiga que cheira a mofo,
de que o estudante tem de vencer série por séria, período por período, semestre
por semestre, para poder "se formar". Acreditar na homogeneidade das
turmas, da formação, é um erro crasso. E um dos fatores que mais interfere na
retenção. Não permitir que os estudantes "adiantem" seus cursos é
outro erro ainda maior. Investir em cursos longuíssimos, em pré-requisitos absurdos,
e uma carga horária em sala de aula aviltante são demonstrações de que o
problema não é do Governo Federal nem dos reitores e reitoras. É nosso. É da
nossa atuação como professores e professoras. É da nossa visão extremamente
estreita do processo de aprendizagem. Permitir que se acelerem os cursos não
tem nenhuma relação com "deixar passar à vontade". Temos de ser
criativos, encontrar novas formas de avaliar o conhecimento que não sejam meras
"provas". Ou mudamos a forma de olhar o processo de aquisição de saberes
ou não teremos mais condições de jogar para o Governo Federal ou para as
administrações superiores um problema que é nosso: de cada 10 estudantes que
ingressam em uma universidades brasileira, três, no máximo quatro, se formam.
Os sete ou seis restantes ficam retidos, abandonam ou são jubilados. O máximo
que podemos dizer é que a ineficácia pode ser dividida. Podemos, no entanto,
fazer muito para mudar esse quadro vergonhoso da universidade pública
brasileira.
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