sábado, 16 de agosto de 2014

Versões fantasiosas de um acidente

Não me espanta que um estivador do Porto de Santos e uma dona de casa do bairro Boqueirão tenham espalhado dúvidas Brasil afora a ponto de se levantarem hipóteses de que um acidente aéreo fora um atentado. O primeiro, na maior cara-de-pau do mundo, enganou a maior emissora de televisão do País com uma versão fantasiosa de que vira, até, o corpo do presidenciável Eduardo Campos, "seu amado candidato". Tanto o estivador quando a moradora espalharam a versão de que uma bola de fogo desceu, seguida de uma explosão. O delegado que conduz as investigações praticamente descartou a possibilidade de ter havido alguma explosão antes da queda do avião. E sou capaz de apostar que o delegado está correto. Durante a cobertura do acidente e depois dela lembrei-me de algumas dicas que passava aos meus estudantes de Jornalismo da Universidade Federal do Amazonas (UFAM). Faço questão de alertá-los para o fato de que o Jornalismo, ao contrário do que pregam muitos teóricos, não publica ou divulga fatos, mas, versões dos fatos. Portanto, se várias versões fantasiosas de fatos são publicadas, o que se tem, ao longo do dia, e a cobertura do acidente comprova isso, é uma grande mentira apresentada como verdade. Jornalismo não é Ciência. No máximo, um conjunto de técnicas investigativas que nos auxiliam a captar versões mais próximas dos fatos. Nada a mais que isso! E na era das Mídias Digitais, até o mais experiente dos jornalistas pode ser engolido pela necessidade de aparecer das pessoas. A distinção entre a realidade e a fantasia dificilmente é captada, nem mesmo quando os fatos são escandalosamente distorcidos. Risco de quem opta por ser jornalista.


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