Um
gênio precoce, de apenas 15 anos, foi matéria
de capa da revista Nature como coautor de um trabalho científico. É pouco
provável que, na estrutura educacional brasileira, uma criança de 15 anos
tivesse permissão para vivenciar um ambiente laboratorial capaz de, ao fim de
tudo, ser participante ativo, ou seja, o coautor, de um trabalho desta
natureza. Ainda mais, em um trabalho cujo autor é o próprio pai. Examinemos um
trecho da matéria que divulga o fato:"[...] Outro fato curioso sobre o trabalho é um “fato-satélite”, de
caráter mais pessoal, divulgado hoje pelo jornal francês Le Figaro: Neil Ibata,
um dos co-autores do trabalho, tem apenas 15 anos e é o filho do autor
principal, Rodrigo Ibata, do Observatório Astronômico de Estrasburgo, na França
(que, apesar do nome português, não é brasileiro). Provavelmente um dos
“cientistas” mais jovens da história a assinar um trabalho na Nature — uma das
mais prestigiadas revistas científicas do mundo, na qual foi publicada, por
exemplo, o estudo de Watson e Crick que revelou a estrutura de dupla hélice do
DNA, o sequenciamento do genoma humano e coisas desse tipo (apenas dois
exemplos da biologia que eu tenho na ponta da língua)." A moral acadêmica
brasileira, combinada com a desconfiança latente (talvez em função das práticas
corriqueiras, negadas até a morte), levantariam suspeitas imediatas sobre o
trabalho do garoto. Maldosamente, iriam dizer que "o garoto não deve ter
feito nada e o pai colocara o nome dele no artigo para dar notoriedade".
Pra ser sincero, apenas com base em uma matéria de jornal replicada aqui no
Brasil, não se pode afirmar nem que sim nem que não. Ainda assim, o ambiente
educacional brasileiro, à parte picuinhas que envolvem ética e comportamento
dos pesquisadores, dificilmente é propício ao desenvolvimento de gênios. Gênios
são crianças diferençadas, acima da média. Nesses casos, a escola brasileira
não está preparada para com eles conviver. No mais das vezes, os gênios são
obrigados a se mediocrizar ou são mediocrizados pelos professores e
professoras. Se a criança é genial, capta "conteúdos" com rapidez e
tem desempenho superior aos colegas de turma, na própria sala de aula, o
professor (ou professora) podam o seu desenvolvimento com palavras de ordem do
tipo:"Só quer ser mais do que os outros... Faz tudo em 10 minutos só para
bagunçar o restante de aula" e coisas desse gênero para desqualificar os gênios
e geniais. Quando se trata de um filho crítico, que leva o problema aos pais,
ainda se pode tentar uma solução. Quando não, de tanto ser incentivado à
mediocridade, a criança termina por se tornar medíocre para melhor conviver
socialmente em sala de aula. Por outro lado, se os pais, cientes do problema, procuram
a direção da escola, para que o filho mude de série, suba mais um ano para
adequar os "conteúdos" às suas habilidades, são aconselhados pelos
pedagogos a manterem a criança na turma que está "pois ele não tem idade biológica"
para mudar de turma. Serão tantas as guerras contra o sistema educacional
estabelecido que, muito provavelmente, gênios da estirpe do garoto da matéria
que comentamos aqui, no Brasil, são mortos no nascedouro. É a triste realidade
da educação formal, burocrática e bancária brasileira. Romper a burocracia que
empurra à mediocridade não é tarefa das mais fáceis. Desistir, porém, não é o
melhor caminho. Enfrentemos! Caminhemos!
Se você ainda não leu a “Carta aberta ao secretário Sérgio Mendonça”, cliquei
aqui, leia e replique. Todos precisamos refletir sobre o problema. Juntos!
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