Parece
haver um certo cinismo, quiçá não seja cretinice, na universidade pública
brasileira. Durante a greve de 120 dias dos professores e professoras, grande
parte da categoria fez discursos veementes contra o Programa Nacional de Formação
de Professores da Educação Básica (Parfor). Hoje, porém, não sei a realidade
das demais universidades brasileiras, mas, na Universidade Federal do Amazonas
(Ufam), a maioria absoluta dos professores viajou ao interior para ministrar
disciplinas no Programa. Do ponto de vista financeiro, é uma mina. Além dos
salários que recebem ao final do mês, professores e professoras que participam
do Parfor são agraciados com a seguinte remuneração: para disciplinas de 40h,
recebem quatro bolsas de R$ 1.300,00, ou seja, um total de R$ 5.200,00. Se a
disciplina fora de 60h, são seis bolsas de R$ 1.300,00 durante seis meses, o
que dá um total de R$ 7.800,00. Cada professor ou professora pode participar de
até duas disciplinas. Para ter direito a uma das duas modalidades de bolsa o professor
ou professora precisa passar 15 dias em uma cidade do interior do estado. Em 30
dias, um professor (ou professora) pode acrescer ao seu salário duas bolsas de
até R$ 7.800,00, o que perfaz um total de R$ 15.600,00. Só que, para fazer jus
a esse montante, professor ou professora devem deixar seus estudantes da sede
sem, no mínimo, 30 dias de aulas, uma vez que não pode ministrar duas
disciplinas, ao mesmo tempo, no Parfor. Até aqui, tocamos apenas na questão
financeira. Nessa perspectiva, para professores e professoras mal-remunerados
como somos, é o que se pode chamar de "mão na roda". Do ponto de
vista pedagógico, porém, é a comprovação do cinismo, da cretinice e da
mediocridade levados ao extremo. O mesmo professor que, na capital, ministra a
disciplina em quatro meses e reprova a maioria da turma, sai para um Parfor,
quando tem de ministrar até nove horas diárias da mesma disciplina e aprova
todos os estudantes. Há algo de errado no reino da Dinamarca. Enquanto, em
Manaus, dos 5.500 estudantes que ingressam na Ufam, 30% (trinta por cento) são
reprovados, no Parfor, são 100% de aprovação. Oras, não se precisa ser nenhum
ser inteligente para perceber que, do ponto de vista do Ministério da Educação
(MEC) e da política pública em vigor, o melhor é que a universidade brasileira
inteira se transforme em um grande Parfor. Para se chegar aos resultados
exigidos pelo MEC, o melhor mesmo é que cada disciplina seja um Parfor.
Imaginem o que seria um disciplina, em apenas 15 dias, com 100% de aprovação? É
tudo o que o MEC quer. Depois de 15 dias os professores e professoras ficariam
livres para desenvolver atividades de Pesquisa e Extensão. Se não somos
crápulas e enganadores, o melhor modelo é o do Parfor que, em 15 dias, ministra
uma disciplina de até 60 horas com 100% de aprovação. Não sejamos cretinos!
Isso é um modelo que, pedagogicamente, é a maior enganação da universidade
brasileira. Serve aos interesses eleiçoeiros do Governo Federal mas, do ponto
de vista didático-pedagógico, é assumir a mediocridade como regra. Sejamos
menos cretinos e assumamos que enganar estudantes e a população é a melhor
política e criemos um Parfor para Manaus. Assim, cada disciplina da Ufam será
oferecida em 15 dias com aprovação total. Em não sendo assim, peitemos o
Governo Federal e não aceitamos esses programas que nos colocam em disputa
constante com os colegas pelos minguados reais de remuneração. Sejamos, no mínimo,
honestos conosco e deixemos de criticar esses programas "meia-bocas"
do Governo. É o que se espera de quem realmente defende uma universidade
pública, gratuita e socialmente referenciada. Quem se torna escravo desses
programas como forma de complementar os salários não moral para criticar
ninguém. E quem defende esse modelo nefasto de universidade que não me venha
pedir apoio na candidatura para reitoria, Candidatos que representam e defendem
esse modelo de universidade não terão o meu apoio. Defendo uma Ufam e uma universidade
brasileira diferente deste modelo neoliberal que aí está. Reflitamos sobre esse
modelo que usa programas como forma de engordar salários. Empurra para a morte
da universidade pública brasileira e questiona qualidade dos cursos na capital.
Reprovar aqui uma média de 30% de estudantes aqui em Manaus e aprovar o total
no Parfor é cretinice. Que não aceitemos essa prática como normal.
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