Ontem,
como membro da Comissão de Seleção de Mestrado do Programa de Pós-graduação em
Sociedade e Cultura na Amazônia (PPGSCA), tive a oportunidade de descobrir mais
uma nobre missão de quem atua nos programas de Pós-graduação na Amazônia:
acompanhante (unissex) de estudantes-candidatos ao banheiro. Não me senti nem
menos "nobre", nem sem prestígio por exercer mais essa árdua missão a
mim delegada pelas frias letras de um Edital. Depois de acompanhar mais de meia
dúzia de estudantes mulheres e outra meia dúzia de estudantes homens ao
banheiro fiquei a me perguntar: em qual aba da Plataforma
Lattes lançar minha recente atividade? Sem constar no me Lattes, a
atividade não contaria nenhum pontinho, nem para a meus índices de
"produtividade" como professor do Programa de Pós-graduação em
Sociedade e Cultura (PPGSCA) da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), nem
para o próprio Programa. Como lançar no Coleta Capes? Como lançar uma atividade
relativa ao ano de 2012 que, só agora, em 2013, está a se realizar? Será que
meus colegas avaliadores da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível
Superior (Capes) pontuariam tão complexa atividade acadêmica: acompanhar
candidatos ao banheiro? Claro que não pontuariam. Nossos pares, professores e professoras
que prestam serviços à Capes, às vezes, até sem nenhum tipo de remuneração,
talvez não entendam que, no Amazonas (e na Amazônia), nós, que atuamos em
programas de Pós-graduação, exercemos atividades que variam de coordenador a
entregador de documentos, passando pelo exercício do secretariado do Programa. Em
situações inusitadas, como essas, temos de acompanhar estudantes ao banheiro
quando fazemos parte de uma Comissão de Seleção de candidatos. Não nos
desmerece! Não nos diminui! No entanto, serve para ilustrar a forma como
dividimos as atividades de "produção" artigos, capítulos e de livros,
com atividades, digamos, assim, não menos acadêmicas. Por não serem ligadas
diretamente ao processo de produtividade, são menos nobres? Claro que não.
Acontece que não contam nada na avaliação. Por isso, são pouco concorridas e
quase ninguém quer assumi-las nos programas. Como existirem os programas sem a maçantes
atividades burocrático-administrativas que fazem parte de um processo de
seleção? Talvez seja necessário reavaliarmos o próprio processo de avaliação
dos programas. Centrar o peso de todo o processo da produtividade dos
professores e dos estudantes prejudica o funcionamento, o dia após dia do próprio
programa. E pode levá-lo a vivenciar crises internas insuperáveis. Talvez
acompanhar estudantes ao banheiro seja tipicamente uma atividade das secretarias
dos Programas. Um programa pode, porém, se dar ao luxo de fechar a secretaria
durante uma tarde apenas para se dedicar ao processo de seleção? A complexidade
das atividades que se interconectam é muito maior do que a nossa racionalidade
administrativa consegue imaginar. É nosso dever, em alguns casos, encarar com
bom-humor uma nova atividade, mas, não deixar de executá-la. Ainda que não seja
reconhecida nem renda ponto no Lattes. Faz parte da vida acadêmica.
Principalmente de quem atua nos programas na Amazônia. Ônus e bônus cintilam
sobre nossos ombros.
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