terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Uma nova missão para quem atua em Pós no Brasil


Ontem, como membro da Comissão de Seleção de Mestrado do Programa de Pós-graduação em Sociedade e Cultura na Amazônia (PPGSCA), tive a oportunidade de descobrir mais uma nobre missão de quem atua nos programas de Pós-graduação na Amazônia: acompanhante (unissex) de estudantes-candidatos ao banheiro. Não me senti nem menos "nobre", nem sem prestígio por exercer mais essa árdua missão a mim delegada pelas frias letras de um Edital. Depois de acompanhar mais de meia dúzia de estudantes mulheres e outra meia dúzia de estudantes homens ao banheiro fiquei a me perguntar: em qual aba da Plataforma Lattes lançar minha recente atividade? Sem constar no me Lattes, a atividade não contaria nenhum pontinho, nem para a meus índices de "produtividade" como professor do Programa de Pós-graduação em Sociedade e Cultura (PPGSCA) da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), nem para o próprio Programa. Como lançar no Coleta Capes? Como lançar uma atividade relativa ao ano de 2012 que, só agora, em 2013, está a se realizar? Será que meus colegas avaliadores da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) pontuariam tão complexa atividade acadêmica: acompanhar candidatos ao banheiro? Claro que não pontuariam. Nossos pares, professores e professoras que prestam serviços à Capes, às vezes, até sem nenhum tipo de remuneração, talvez não entendam que, no Amazonas (e na Amazônia), nós, que atuamos em programas de Pós-graduação, exercemos atividades que variam de coordenador a entregador de documentos, passando pelo exercício do secretariado do Programa. Em situações inusitadas, como essas, temos de acompanhar estudantes ao banheiro quando fazemos parte de uma Comissão de Seleção de candidatos. Não nos desmerece! Não nos diminui! No entanto, serve para ilustrar a forma como dividimos as atividades de "produção" artigos, capítulos e de livros, com atividades, digamos, assim, não menos acadêmicas. Por não serem ligadas diretamente ao processo de produtividade, são menos nobres? Claro que não. Acontece que não contam nada na avaliação. Por isso, são pouco concorridas e quase ninguém quer assumi-las nos programas. Como existirem os programas sem a maçantes atividades burocrático-administrativas que fazem parte de um processo de seleção? Talvez seja necessário reavaliarmos o próprio processo de avaliação dos programas. Centrar o peso de todo o processo da produtividade dos professores e dos estudantes prejudica o funcionamento, o dia após dia do próprio programa. E pode levá-lo a vivenciar crises internas insuperáveis. Talvez acompanhar estudantes ao banheiro seja tipicamente uma atividade das secretarias dos Programas. Um programa pode, porém, se dar ao luxo de fechar a secretaria durante uma tarde apenas para se dedicar ao processo de seleção? A complexidade das atividades que se interconectam é muito maior do que a nossa racionalidade administrativa consegue imaginar. É nosso dever, em alguns casos, encarar com bom-humor uma nova atividade, mas, não deixar de executá-la. Ainda que não seja reconhecida nem renda ponto no Lattes. Faz parte da vida acadêmica. Principalmente de quem atua nos programas na Amazônia. Ônus e bônus cintilam sobre nossos ombros.

Se você ainda não leu a “Carta aberta ao secretário Sérgio Mendonça”, cliquei aqui, leia e replique. Todos precisamos refletir sobre o problema. Juntos!

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