domingo, 15 de dezembro de 2013

A avaliação ideal é apenas um ideal

Sou daqueles que não acredita que a avaliação ideal exista. E, se existe, está ligada a metas e objetivos, geralmente numéricos, portanto, na linguagem popular acadêmica, produtivista. O Movimento contra a Ciência Produtivista não ocorre só no Brasil. Aliás, iniciou-se na Alemanha, é chamado de "slow science", e prega que os cientistas precisam ter mais tempo para pesquisar. É algo como se fosse uma ciência desacelerada. O Prêmio Nobel de Física de 2013, Peter Higgs, é um clássico exemplo de que, se os moldes atuais de se avaliar a produção científica fossem tão exatos (e corretos) como dois mais dois são quatro, estaria fora de qualquer curso de Pós-graduação das universidades brasileiras. O que não se pode esquecer é que a avaliação, como a Educação, são processos que possuem metas. Sem contar que medição não é avaliação. A medição deveria ser, na prática, um dos componentes da avaliação. No Brasil, e em boa parte do mundo, a parte, medição, transformou-se no todo, avaliação. A avaliação ideal, portanto, não passa de um ideal. Na prática, é pouco provável que exista. Vejamos o próprio caso de Peter Higgs. Ele previu, em 1964, há 49 anos, portanto, o chamado "Bosão de Higgs". Era uma teoria de que partículas fundamentais seriam as responsáveis pelo mundo e suas interações. Somente em 2012 se descobriu a existência de partículas com as mesmas características propostas por ele. Quem de nós, em são consciência, apostaria quantias astronômicas em uma ideia que, depois de quase 50 anos se transformou em realidade? Não se pode encarar o investimento público em pesquisa como recursos a fundo perdido. Parâmetros mínimos devem ser exigidos sim. Porque acionista não tem bola de cristal. E o povo é o principal acionista, o dono dos recursos públicos. Higgs é único. O que se precisa discutir como pano de fundo de toda a questão é: há recursos públicos infinitos para a pesquisa? A universidade, por ser pública, é um templo de iluminados que podem, ou não, passar a vida inteira dedicados a uma ideia a espera de que, dela, surja um Prêmio Nobel? Gênios são gênios. E devem ser tratados como tais. Um sistema de Ciência e Tecnologia, porém, não possui Orçamento ad infinitum. Há que se ter um processo de avaliação. Sem esquecer, porém, que a avaliação ideal não passa de um ideal. Logo, o próprio processo de avaliação deve ser permanentemente avaliado e não apenas medido.


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