terça-feira, 24 de dezembro de 2013

Natal de pai para filho

Ouvi e li boas referências sobre o filme "Luiz Gonzaga - De pai para filho", de Breno Silveira, com roteiro dele e de Patrícia Andrade. Não fui um dos mais de cinco milhões de espectadores a assistir "Dois Filhos de Francisco", de 2005, estrondoso sucesso de bilheteria entre os filmes brasileiros. A história da dupla sertaneja Zezé de Camargo e Luciano nunca me apeteceu. No caso de Luiz Gonzaga e Gonzaguinha era diferente. Esperava uma oportunidade para ver o filme. E ela apareceu às vésperas do Natal, hoje, dia 24 de dezembro de 2013. E me fez usar este espaço afeito às discussões sobre Educação para voltar a um gênero que abandonei há tempos: a crítica de cinema. Nas férias escolares dos meus filhos desenvolvi o hábito de ficar até altas horas a ver filmes e discuti-los com eles, principalmente com a minha filha. Há pouco, ao "zapear" pelos canais encontro o que desejava ver. "Luiz Gonzaga - De pai para filho", embora não seja propriamente profundo como o poema "Morte e Vida Severina", de João Cabral de Melo Neto, termina por nos conduzir ao universo do retirante nordestino que busca, no Rio de Janeiro, vida melhor. Gonzaga perde um pouco da profundidade ao ser retratado como uma espécie de D. Juan de Meia Tigela, ou até de tigela inteira. Se nos apresenta como o estereótipo do nordestino mulherengo, no fundo, um traço do machismo que ainda perdura tanto por lá quanto pelas bandas de cá. O filme é envolvente por desnudar a relação conflituosa de anos entre Luiz Gonzaga, o Rei do Baião, e o seu filho adotivo, Gonzaguinha, que consegui vencer os maus tratos da madrasta e do próprio para e se transformar em um dos maiores nomes da Música Popular Brasileira (MPB). Resistência ao Regime Militar, motivo que levou o pai a destruir seu violão e ele a se libertar das amarras do pai e da madrasta depois de vencer a tuberculose, fizeram de Gonzaguinha um nome respeitado. Intensas relações conflituosas "De pai para filho" e de filho para pai marcam o filme. Comovente, profundo e extremamente apropriado para uma noite de Natal caso a reflexão seja o tempero mais importante para a data. Como retirante acreano que se fixou em Manaus, o filme me tocou profundamente. Além do quê, foi revelador desvendar um pouco da história de um dos meus ídolos da MPB, Gonzaguinha.


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