Descia
a avenida Rebouças, em São Paulo, com o Felipe, meu primeiro filho, ainda muito
criança, na cadeira fixada no banco traseiro do carro. Salvo engano, era uma
Parati preta. Mal começara a falar. De repente ele joga uma pergunta, com a
força de um soco no fígado:"Papaito, o que é ser um pai?" Fiquei
impressionado com a precisão da pergunta, assustei-me, mas, dei uma resposta
filosófica, longa, nem sei direito se o convenci. Em essência, disse a ela que
"ser um pai" é diferente de "por no mundo". É orientar,
impor limites, quando necessário, mas, essencialmente, ter a capacidade de dar
liberdade. Porque um filho não é para os pais, nem deles o é. É para o mundo. É
do mundo. Tentei por em prática a resposta que dei a ele naquele dia qualquer,
provavelmente do ano de 1998. No início de 2013, prestes a decidir qual curso
superior tentaria na Universidade Federal do Amazonas (UFAM), pois já havia
feito dos testes do Processo de Seleção Continuada (PSC) daquela Instituição na
qual trabalho, perguntou-me:"Papai, o que o senhor acha? Faço opção para
Petróleo e Gás ou para Ciência da Computação?" Falei das vantagens do curso
de Petróleo e Gás, mas, alertei que se tratava de um curso novo. E que ele era
"vidrado" em jogos de computador, de celular e de qualquer tipo de
aparelho eletrônico. "Ciência da Computação, meu filho, tem mais a sua
cara. Além de ser, comprovadamente, um dos melhores cursos da UFAM." Ao
que parece, o argumento o convenceu. Depois, com a pressão da família (menos a
minha) de que teria de "ingressar na Faculdade" logo ao sair do
Ensino Médio, tentou o Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM), Processe Seletivo
Macro da Universidade do Estado do Amazonas (UEA), Instituto Federal de
Educação Tecnológica do Amazonas (IFAM). Não obteve êxito em nenhum deles. Eram
cursos completamente díspares dos dois que ele havia, inicialmente, conversado
comigo: Engenharia, Educação Física, Química. Abatido, procurou-me dia 9,
quinta-feira, para dizer que tinha perdido as esperanças. Que só restava o
curso que ele mais queria, Ciência da Computação, no PSC da UFAM. Eu
disse:"Filho, com a minha bolsa do CNPq foi a mesma coisa. Era a última
esperança, muito embora eu estivesse assim como você, sem acreditar mais. Pode
ser que aconteça o mesmo". Aconteceu! Aqui em Sena Madureira, passando as
festas de Ano Novo com ele, a irmã e a nossa família, estava no banheiro, ontem
à tarde, quando ouvi os gritos dele:"Passei, passei, passei".
Conseguiu o que o pai não conseguira: passou, de primeira, do Ensino Médio para
a UFAM. Saí do banheiro, corri para ele, dei um abraço e não contive as
lágrimas de alegria. Não sei se dei a liberdade suficiente, mas, fico com a
sensação de que as orientações o ajudaram. Meu desafio de pai, parece, começa a
ter êxito.
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