Não
se precisaria ser nenhum gênio, mágico, xamã, feiticeiro ou qualquer outro tipo
de "adivinhador" para se concluir que a decisão de aderir ao Exame
Nacional do Ensino Médio (Enem) como parte do processo Sistema de Seleção
Unificada (Sisu), tomada pela Universidade Federal do Amazonas (Ufam), em 2009,
daria no que deu: no Sisu de 2013, nenhum amazonense foi aprovado nas 49 vagas
destinadas ao Enem do curso de Medicina da Ufam. Em 2009, quando fui um dos
candidatos à reitor da Ufam, perguntado, no debate realizado no Instituto de
Ciências Humanas e Letras (ICHL) se era favorável à adesão da Ufam ao Enem como
forma de seleção os ingressantes, cantei a pedra. Disse que, embora ainda não
tivesse àquela época, estudado a fundo o assunto, tinha convicção que, em uma
concorrência contra estudantes de outros estados, os estudantes amazonenses
teriam "chance zero" em função da "péssima qualidade do Ensino
no Amazonas". Não tenho bola de cristal, porém, avalio que qualquer pessoa
com o mínimo de inteligência seria capaz de antever o quadro que se nos
apresenta. Este ano, o curso de Medicina da Ufam, por exemplo, teve 5.798
inscrições. Foi o 8º mais procurado do País, com média de 104 estudantes a
disputar as 49 vagas ofertadas. De acordo com o Departamento de Registro
Acadêmico (DRA) da Pró-reitoria de Ensino de Graduação (Proeg) da Ufam todas
essas vagas foram ocupadas por estudantes paulistas, paranaenses e mineiros.
Vale ressaltar que o Conselho Universitário (Consuni) da Ufam foi de uma
prudência exemplar ao não optar pelo ingresso não de todos os estudantes via Sisu,
mas, sim, de apenas 50% das vagas. Dessa forma, os estudantes disputam 50% das
vagas via Sisu e 50% das vagas via Processo Seletivo Contínuo (PSC). Foi uma
saída messiânica que nos permite avaliar, de forma mais serena, os impactos do
Enem neste processo. Se tem um viés negativo de "nenhum estudante do
Amazonas ingressar no curso de Medicina da Ufam", atesta, de forma
inequívoca, a má qualidade do sistema educacional do Estado e suas implicações
na educação do município. Por uma dessas coincidências difíceis de se explicar,
ontem, neste espaço, antecipei o debate que hoje ganhou os meios de comunicação.
Na postagem "A
universidade e o processo de melhoria na Educação", não isentamos a
universidade brasileira, muito menos a Ufam, da sua parcela de
"culpa" (se é que se deve falar em culpa). Ao desnudar o estado
lastimável em que se encontra a Educação no Amazonas, o Enem, no entanto, só
terá efeito positivo quando Governo do Estado, Governo do Município e Governo
Federal (no caso, representado pela Ufam) esquecerem a pequenez das desavenças
políticas (se existirem) e pensarem em uma política pública global efetiva para
a Educação no Amazonas. Transferir para a Ufam o ônus de nenhum estudante do
Amazonas ter ingressado na Instituição por meio do Enem, via Sisu, se não for
má-fé ou ingenuidade, é de uma ignorância que beira a asnice. O modelo de
dividir ao meio as entradas, adotado pela Ufam, tem se revelado o mais
equilibrado. A presença de estudantes de outros estados na vida acadêmica na
Instituição não pode ser vista como ponto negativo. Ao contrário, revigora a
Instituição, oxigena os corredores e a transforma. Sem contar que tem um lado
altamente positivo: a implosão das verdadeiras capitanias hereditárias que se
formaram em torno de famílias, nos cursos de direito e medicina, por exemplo.
Com a concorrência nacional, esses cursos deixaram de ser uma casta formada por
filhos, netos e bisnetos de médicos e advogados. Um ganho desses supera todos
os demais equívocos que se possa ter cometido ao longo do percurso.
Se você ainda não leu a “Carta aberta ao secretário Sérgio Mendonça”, cliquei
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