A
universidade pública brasileira precisa, definitivamente, deixar de lado a
visão tacanha, retrógrada e reacionária, de "investir na retenção de
estudantes" e passar a trabalhar com a perspectiva de aumentar o fluxo de
saídas em todos os cursos. Não apenas por questões pedagógicas, mas, por uma
questão de melhoria da vida das pessoas na sociedade. O sistema de crédito
atual é conservador e retira do estudante a possibilidade de avançar nos
estudos quando limita, por exemplo, um número máximo de créditos a ser cursado
por semestre. Na Universidade Federal do Amazonas (Ufam) este número máximo é
23. Raríssimas vezes os créditos cursados em outros cursos podem ser
aproveitados. Sem levar em conta que, o estudante não pode se aprofundar em
estudos fora da sua área de atuação. Há um casolapidar na própria Ufam. O curso
de Jornalismo aprovou, no seu novo Projeto Pedagógico de Curso (PPC), que seus
estudantes poderiam cursar até 300 horas de disciplinas complementares. A ideia
era formar jornalistas especializados em diversas áreas do conhecimento, caso
os estudantes tivessem tempo para cursar disciplinas além das previstas no
currículo do curso. Por exemplo, se um estudante quisesse se especializar em
"Jornalismo Esportivo", teria a liberdade de, no turno da tarde, por
exemplo, estudar disciplinas do curso de Educação Física. Isso serviria para
qualquer das demais áreas do conhecimento. Não saiu do papel. Pelo simples fato
de, mesmo com o que foi aprovado no PPC, os estudantes não terem sido
autorizados a cursar mais de 23 créditos por semestre. O mesmo serve, por
exemplo, para estudantes que, por meio dos cursos de férias, queiram
"encurtar" o término dos seus cursos. Na prática, são proibidos. O
argumento de quem é contra o oferecimento dos cursos de férias é de que as
disciplinas não possuem a mesma qualidade dos cursos ao longo do período. Oras,
se não possuem a mesma qualidade, não deveriam ser oferecidos. O que não se
pode é investir na política institucional de "prender o estudante".
Cada ano de retenção de um estudante significa um prejuízo médio de 8 mil
dólares para a sociedade. Sem falar que, um estudante, ao se transformar em
profissional, no mercado de trabalho, passa a reconhecer impostos, por exemplo,
e se torna um contribuinte. Ou seja, deixa de ser investimento (da sociedade) e
passar a ser investidor, por meio dos impostos. Portanto, tanto do ponto de
vista financeiro quanto pedagógico, investir na "política de retenção"
é erro gravíssimo. E essencial que todas as universidades brasileiras discutam
uma mudança de visão a fim de romper com esse atraso histórico de só se buscar
a reprovação como meta.
Se você ainda não leu a “Carta aberta ao secretário Sérgio Mendonça”, cliquei
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