segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

O erro da política de reprovação como meta


A universidade pública brasileira precisa, definitivamente, deixar de lado a visão tacanha, retrógrada e reacionária, de "investir na retenção de estudantes" e passar a trabalhar com a perspectiva de aumentar o fluxo de saídas em todos os cursos. Não apenas por questões pedagógicas, mas, por uma questão de melhoria da vida das pessoas na sociedade. O sistema de crédito atual é conservador e retira do estudante a possibilidade de avançar nos estudos quando limita, por exemplo, um número máximo de créditos a ser cursado por semestre. Na Universidade Federal do Amazonas (Ufam) este número máximo é 23. Raríssimas vezes os créditos cursados em outros cursos podem ser aproveitados. Sem levar em conta que, o estudante não pode se aprofundar em estudos fora da sua área de atuação. Há um casolapidar na própria Ufam. O curso de Jornalismo aprovou, no seu novo Projeto Pedagógico de Curso (PPC), que seus estudantes poderiam cursar até 300 horas de disciplinas complementares. A ideia era formar jornalistas especializados em diversas áreas do conhecimento, caso os estudantes tivessem tempo para cursar disciplinas além das previstas no currículo do curso. Por exemplo, se um estudante quisesse se especializar em "Jornalismo Esportivo", teria a liberdade de, no turno da tarde, por exemplo, estudar disciplinas do curso de Educação Física. Isso serviria para qualquer das demais áreas do conhecimento. Não saiu do papel. Pelo simples fato de, mesmo com o que foi aprovado no PPC, os estudantes não terem sido autorizados a cursar mais de 23 créditos por semestre. O mesmo serve, por exemplo, para estudantes que, por meio dos cursos de férias, queiram "encurtar" o término dos seus cursos. Na prática, são proibidos. O argumento de quem é contra o oferecimento dos cursos de férias é de que as disciplinas não possuem a mesma qualidade dos cursos ao longo do período. Oras, se não possuem a mesma qualidade, não deveriam ser oferecidos. O que não se pode é investir na política institucional de "prender o estudante". Cada ano de retenção de um estudante significa um prejuízo médio de 8 mil dólares para a sociedade. Sem falar que, um estudante, ao se transformar em profissional, no mercado de trabalho, passa a reconhecer impostos, por exemplo, e se torna um contribuinte. Ou seja, deixa de ser investimento (da sociedade) e passar a ser investidor, por meio dos impostos. Portanto, tanto do ponto de vista financeiro quanto pedagógico, investir na "política de retenção" é erro gravíssimo. E essencial que todas as universidades brasileiras discutam uma mudança de visão a fim de romper com esse atraso histórico de só se buscar a reprovação como meta.

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