Incomoda-me
profundamente quando as discussões sobre "reforma administrativa" nas
universidades públicas brasileiras, em especial na Universidade Federal do
Amazonas (Ufam) da qual faço parte, tomam um rumo diametralmente oposto ao que
se deve levar em conta nesses tipo de reformas. Antes de mais nada, é preciso
deixar muito claro que, "democratites" conquistadas à parte, o modelo
decisório vigente e extremamente burocrático e lento. Além do mais, não se faz
funcionar um modelo colegiado de decisões, como é o caso do modelo vigente na
Ufam, sem que haja comprometimento dos membros de cada um dos colegiados. Não
se faz democracia por decreto ou pela decisão de meia-dúzia de pessoas. No
modelo de "democracia participativa", usada nas universidades e na
política em geral, comprometimento da comunidade é item de sobrevivência.
Quando a própria comunidade abre mão de fiscalizar os gestores (como abre mão
de fiscalizar seus representantes nos vários parlamentos) a democracia fica
enfraquecida e se passa a gerir (ou governar) por meio de acordos espúrios para
se obter maioria. No caso das universidades, o problema se repete: a maioria
nos Conselhos independe da representativa e do confronto de ideias, que, em
tese, deveria mudar de acordo com os projetos e os objetos de votação, se
transforma em um exercício de maioria absoluta de quem consegue ser eleito
reitor ou reitor, só para ficar nos exemplos dos conselhos superiores. Uma
reforma administrativa, portanto, ao invés de levar em conta aspectos do
dia-a-dia da organização, termina por ser uma síntese do que pensa (ou
determina) quem está no poder. Mais graves são os argumentos centrais que
envolvem essa "bendita" reforma administrativa. Centram-se na
necessidade de representação nos conselhos ou em questões administrativas e não
no ponto crucial: melhoria dos processos de aprendizagem. Antes de se decidir
por uma reforma desse tipo, é preciso primeiro definir qual a finalidade da
Ufam, por exemplo: formar para o mercado de trabalho ou para o exercício pleno
da cidadania, ou seja, para a vida? Tomada essa decisão básica, é preciso
definir o modelo pedagógico: vamos continuar agostinianos ou vamos ousar no
modelo. Manter a Ufam em "disciplinas", manter o saber dividido em
caixinhas, é um erro crasso. O conhecimento é complexo: não dividido. Optar por
dividir um instituto como o Instituto de Ciências Humanas e Letras (ICHL), por
exemplo, sem que esses princípios basilares sejam discutidos é um erro tão
grave que a história pode nos cobrar, no futuro, a fatura pelo desastre
pedagógico que provocaremos. Enquanto não tomarmos consciência de que a
formação é tão importante quando a administração, discutiremos as reformas
administrativa sempre de forma rasa. E isso é trágico para uma instituição cujo
fim é exatamente a formação.
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