quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

O poder tem de ser da formação


Incomoda-me profundamente quando as discussões sobre "reforma administrativa" nas universidades públicas brasileiras, em especial na Universidade Federal do Amazonas (Ufam) da qual faço parte, tomam um rumo diametralmente oposto ao que se deve levar em conta nesses tipo de reformas. Antes de mais nada, é preciso deixar muito claro que, "democratites" conquistadas à parte, o modelo decisório vigente e extremamente burocrático e lento. Além do mais, não se faz funcionar um modelo colegiado de decisões, como é o caso do modelo vigente na Ufam, sem que haja comprometimento dos membros de cada um dos colegiados. Não se faz democracia por decreto ou pela decisão de meia-dúzia de pessoas. No modelo de "democracia participativa", usada nas universidades e na política em geral, comprometimento da comunidade é item de sobrevivência. Quando a própria comunidade abre mão de fiscalizar os gestores (como abre mão de fiscalizar seus representantes nos vários parlamentos) a democracia fica enfraquecida e se passa a gerir (ou governar) por meio de acordos espúrios para se obter maioria. No caso das universidades, o problema se repete: a maioria nos Conselhos independe da representativa e do confronto de ideias, que, em tese, deveria mudar de acordo com os projetos e os objetos de votação, se transforma em um exercício de maioria absoluta de quem consegue ser eleito reitor ou reitor, só para ficar nos exemplos dos conselhos superiores. Uma reforma administrativa, portanto, ao invés de levar em conta aspectos do dia-a-dia da organização, termina por ser uma síntese do que pensa (ou determina) quem está no poder. Mais graves são os argumentos centrais que envolvem essa "bendita" reforma administrativa. Centram-se na necessidade de representação nos conselhos ou em questões administrativas e não no ponto crucial: melhoria dos processos de aprendizagem. Antes de se decidir por uma reforma desse tipo, é preciso primeiro definir qual a finalidade da Ufam, por exemplo: formar para o mercado de trabalho ou para o exercício pleno da cidadania, ou seja, para a vida? Tomada essa decisão básica, é preciso definir o modelo pedagógico: vamos continuar agostinianos ou vamos ousar no modelo. Manter a Ufam em "disciplinas", manter o saber dividido em caixinhas, é um erro crasso. O conhecimento é complexo: não dividido. Optar por dividir um instituto como o Instituto de Ciências Humanas e Letras (ICHL), por exemplo, sem que esses princípios basilares sejam discutidos é um erro tão grave que a história pode nos cobrar, no futuro, a fatura pelo desastre pedagógico que provocaremos. Enquanto não tomarmos consciência de que a formação é tão importante quando a administração, discutiremos as reformas administrativa sempre de forma rasa. E isso é trágico para uma instituição cujo fim é exatamente a formação.

Se você ainda não leu a “Carta aberta ao secretário Sérgio Mendonça”, cliquei aqui, leia e replique. Todos precisamos refletir sobre o problema. Juntos!

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