quinta-feira, 11 de abril de 2013

Yin e Yang da Pós-graduação: o comprometimento dos professores


Há uma crença, quase uma lenda, de que a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) é a responsável pela qualidade (ou não) da Pós-graduação no Brasil. É como se a Capes fosse uma entidade abstrata, com toque de Midas, capaz de transformar programas medíocres em programas de excelência. Trata-se de um engano histórico e conceitual. A Capes é resultado de um trabalho coletivo acumulado ao longo dos anos com a finalidade de construir indicadores capazes de avaliar os programas de Pós-graduação e servir de base para a autorização de novos programas. A Capes, portanto, não é uma abstração terrorista que centra o foco em torturar constantemente professores em seus locais de trabalho. O dito produtivismo é uma exigência dos próprios pares (professores e professoras) para avaliar "quem pesquisa e quem publica artigos, livros ou capítulos de livros" no Brasil. Acontece que a produção é apenas um dos componentes da complexa cesta de critérios da "avaliação" da Pós-graduação no Brasil. Há componentes tangíveis e intangíveis. Dentre os tangíveis, a produção se nos apresenta, sim, com um peso, talvez excessivo, a se levar em conta as demais atividades, principalmente administrativas, desenvolvidas por um doutor (ou doutora) dentro de uma Instituição de Educação Superior (IES). E porque digo talvez? Pelo simples fato de, também, não concordar que seja exagero cobrar de um doutor, ligado a um programa de Pós-graduação, que publique, pelo menos, dois artigos, ou capítulos de livros (ou um combinado com o outro) a cada ano. Desde quando manter uma média dessas ao longo de três anos é "produtivismo"? Aqui, entra um componente fundamental, que ousei chamar de intangível: o comprometimento dos professores e professoras que fazem parte dos programas de Pós-graduação em cada uma das universidades públicas brasileiras. E vem acompanhado de uma pergunta basilar: o que leva um professor ou professora a se credenciar em um programa de Pós-graduação? O gosto (melhor falar em amor) pela Pesquisa? A oportunidade de desenvolver um valoroso trabalho em equipe? Ou o simples desejo de ostentar a marca "Pós-graduação" para engordar seu Lattes e, com isso, conseguir ampliar as possibilidades de realizar consultorias e negócios particulares? Quando entram em jogo as duas primeiras questões, dificilmente o professor (ou a professora) reclamará acintosamente da "obrigação" de publicar dois artigos por ano. Quem efetivamente ama o que faz, envolve-se com a pesquisa e seu objeto. Logo, publicar será um prazer e não uma tortura. Assim como, se o comprometimento é com o trabalho em equipe, é pouco provável que publicar dois artigos por ano passe a ser visto como uma tortura. Resta um componente que tem a possibilidade de funcionar como uma bomba de efeito retardado e minar, até implodir por dentro, todo o esforço coletivo que houver para que os programas de Pós-graduação atinjam a excelência nas universidades brasileiras: o uso da marca "pós-graduação" com fins particulares. E sabem quando isso acontece? Quando o professor (ou a professora) cumprem fielmente os editais de credenciamento dos programas, apresentam os projetos de pesquisa e prometem, de pés juntos, que cumprirão à risca tudo o que constar nos Regimentos Internos. Fazem-no, porém, como aquele pecador que, diante do padre, jura (ao padre e a si mesmo) nunca mais pecar. Sai, no entanto, da Igreja, a rir do padre e de si mesmo por acreditarem em mais uma promessa vã: não publica, não comparece às reuniões, não colabora diretamente com a Coordenação dos Programas e age como se fosse mero "ministrador de aulas" (quando se digna a ministrar alguma disciplina) ou orientador. Não seria mais justo e honesto pessoas com este tipo de perfil pedirem para sair? Não o fazem, no mais das vezes, porque perder a etiqueta no programa de Pós e da Universidade no qual o programa funciona é reduzir quase ao nada a possibilidade de realizar consultorias. Quem assim age enterra os programas de Pós dos quais participa e, indiretamente, transforma a Capes em uma entidade abstrata que só cobra produtividade dos programas, consequentemente dos seus professores. Esquece que a Capes não tem vida. E que os que a formam são professores e professoras como nós, que já participaram (ou ainda participam) de algum programa de Pós-graduação. Suas regras e seus indicadores são estabelecidos por nós, em cada um dos Comitês de Área. Ora, se os critérios e indicadores são excessivos, irreais, que os nossos pares, em cada Comitê, sejam instigados a modificá-los. Eles são a face tangível de uma moeda que tem na outra face, o intangível, ou seja, o comprometimento dos professores e professoras que fazem parte dos programas. Só se atinge a excelência quando, como na Filosofia Chinesa, Yin e Yang, essas duas energias extremamente poderosas, entram em equilíbrio. Sem isso, o "produtivismo" e, por tabela a Capes, serão sempre o vilões.

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