Ontem, pela segunda vez,
tive vontade de jogar tudo para o ar, desabar em prantos, e recolher-me a minha
insignificância de professor, ou seja: ministrar aulas e mais nada. Coordeno um
dos projetos mais importantes da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), o
Programa de Mídias Digitais (Promidi). Até chegar ao nome que hoje o batiza, o
Promidi levou 8 anos. Foram imensas as frustrações. Vários baldes de água fria
tiravam meu ânimo. Sou movido a sonhos e emoções. Porém, tem horas que desabo,
ponho os sonhos embaixo do braço, as mãos sobre a cabeça e choro. Às vezes
copiosamente. No mais delas, um choro calado, com um nó na garganta. É duro
você passar aproximadamente 8 anos tentando convencer as pessoas sobre a base
da cultura hacker, que os conservadores confundem propositalmente com invasores
de rede: “Hackers somos todos os que agimos para que informações, cultura e
conhecimento circulem livremente.” O espírito da Lei 12.527, de 18 de outubro
de 2011, de acesso à informação pública é esse. A base do Promidi da Ufam
também. Como prega Pekka Himanem: “compartilhar informações é um poderoso bem
concreto, ou seja, é um dever moral compartilhar sua perícia”. É meu dever de
funcionário público e professor universitário criar condições para que esse
princípio seja aplicado. E foi isso que fiz ao propor o Promidi, cuja filosofia
é disponibilizar, em tempo real, na Internet, todas as informações não
sigilosas da Ufam. Para quem ainda não sabe, o Promidi faz parte da expansão do
Parque Científico e Tecnológico para a Inclusão Social (PCTIS) e é um programa
de Extensão aprovado em edital do MEC/SESU, cuja implantação já começou. Está,
portanto, ligado diretamente à Pró-reitoria de Inovação Tecnológica (Protec) e
à Pró-reitoria de Extensão e Interiorização (Proexti). Tudo isso antes das
exigências da Lei 12.527. Portanto, em termos de sonhos de uma Ufam
transparente em todos os seus atos, portanto, muito melhor para a sociedade,
estamos 8 anos à frente. Ontem, porém, após a primeira reunião com a equipe que
começa a fincar a semente dessa ideia de transparência total das informações
públicas e não sigilosas, recebi um balde de água fria. Aproximei-me feliz de uma
das pessoas com as quais mantenho uma relação de respeito e afeto, para quem,
inclusive, já tinha enviado até os formulários do projeto, e perguntei se ela
havia recebido o material: “recebi, professor, mas, não vou participar do
projeto com o senhor.” Tomei um susto! E ela continuou: “Sei que vão querer que
eu participe lá e aqui, professor. Vão querer que eu me divida entre o seu
projeto e o serviço que faço agora. Não farei nenhum dos dois bem-feito. E
continuarei em disfunção. Por isso não acompanho o senhor.” Ainda tentei
argumentar que, com a promulgação da Lei de Acesso à Informação Pública
teríamos mais chances de implementar o projeto. Ela concluiu: “Vá por mim,
professor. Isso não vai mudar nada!” Ela é uma das pessoas que foi contratada para
o cargo de arquivologista da Ufam, está em disfunção desde que entrou, e não há
tanto tempo, porém, não acredita mais em nada no serviço público. Como ela, há
dezenas e dezenas de pessoas que foram inoculadas pelo vírus do “é melhor não
sonhar para não se frustrar”. Chorei por dentro. Tentei argumentar em favor do
Promidi. Tudo em vão. Vi-me, de novo, com os sonhos embaixo do braço e as mãos
na cabeça. Reações como essas são lamentáveis mais rotineiras nesses 8 anos de
luta em favor do Promidi. Pelo menos ela foi sincera. Pior são aquelas pessoas
que dão um tapinha nas tuas costas, fingem apoiar a ideia e o projeto, porém,
no fundo, trabalham para que nada mude. O episódio de ontem é doloroso, no
entanto, por revelar que uma pessoa que entrou na Ufam sonhando em torná-la
melhor não acredita mais no próprio sonho. Foi um abalo. Mas, não fenecerei. O
Promidi será implantado e teremos uma Ufam transparente, moderna e melhor para
nós e para a sociedade. É meu compromisso com meus sonhos. E esse compromisso
ninguém será capaz de afetá-lo. Entendo você, querida amiga. E usarei todas as
minhas energias e toda a minha capacidade de sonhar (e transformar sonhos em
realidade) para que você acorde desse sono letárgico ao qual foi submetida. Não
morrerei sem ver o prédio do Centro de Mídias Digitais da ufam pronto, o
Programa de Mídias Digitais implementando em toda a Instituição e o Centro de
Documentação funcionando e abastecendo o Promidi de informações em tempo real.
Essa é a minha meta. E, garanto, não desistirei nem que joguem o Rio Amazonas
sobre mim.
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