sábado, 3 de março de 2012

O peso acachapante do voto dos professores


É ilusória a ideia de que os três segmentos, professores, técnicos e estudantes, da Universidade Federal do Amazonas (Ufam) possuem o mesmo peso no processo de consulta para a escolha da reitoria da Instituição. Não se pode negar o avanço que alcançamos (tenho orgulho de ter participado desse processo de redemocratização da escolha do reitor, inclusive como candidato) no Conselho Universitário (Consuni), ao aprovar que a consulta seria paritária e não mais como (ainda) determina a lei, com o peso de 70% para professores e 30% divididos em 15% para os estudantes e 15% para os técnicos. Numa configuração dessas, quem conseguir o apoio da maioria dos professores e técnicos nem precisa conversar com estudantes: está eleito. Acontece, porém, que, pela “fórmula” mantida em vigor até hoje (por uma esperteza da chapa da situação e que caímos nela como patinhos), a paridade é tirada tendo por base o número total de “membros” do segmento e não o número de votantes. Qual é a casca de banana nessa história? Caso ocorra o que ocorreu na última consulta, quando dos 30 mil estudantes cadastrados na Ufam apenas 8 mil votaram, o percentual total de 15% dos estudantes é reduzido para algo em torno de 2,5%, na paridade. O peso dos professores que, teoricamente, é de 33,33%, ganha um reforço de aproximadamente 12% (a diferença que sobra dos estudantes não-votantes) caso a totalidade dos professores votem. Como é muito mais fácil mobilizar 1.000 professores e 1.500 técnicos do que 30 mil estudantes, o processo de escolha do reitor (ou da reitora) está mais centrado do que nunca na figura do professor (e da professora). Levando-se em conta que nenhuma das duas últimas administrações da Ufam teve o menor pudor em usar a máquina administrativa para obter votos, ou seja, mobilizar professores e técnicos, ou se avança para o voto universal e o cenário muda ou a “situação”, independentemente de que for o candidato, só perde a consulta para a reitoria caso cometa erros estratégicos catastróficos. Fora disso, a outra saída para as candidaturas de oposição é mobilizar, de preferência, os 30 mil estudantes (que agora, com 109 cursos deve girar em torno de 70 mil estudantes) para comparecerem às urnas na data marcada para a consulta e, de preferência, que votam neles. Aí surge mais uma barreira: professores que apóiam candidatos da situação, ao perceberem que os estudantes tendem a votar nos candidatos de oposição, liberam os alunos no dia da consulta. Resultado: abstenção em massa de estudantes. Moral da história: a vida dos candidatos de oposição é dura tanto fora da Ufam quando nas eleições internas.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Participe! Comente! Seu comentário é fundamental para fazermos um Blog participativo e que reflita o pensamento crítico, autônomo livre da Universidade Federal do Amazonas.