domingo, 14 de outubro de 2012

A Educação brasileira nunca mais será a mesma


Sei que não serei a única voz favorável. E, ainda que o fosse, jamais deixaria de falar sobre a convicção que tenho: a Lei de Cotas talvez seja a experiência mais ousada proposta pelo Senado e bancada pelo Governo Dilma Rousseff (PT) para mudar, definitivamente, para melhor, a Educação brasileira. A regulamentação da Lei será publicada no Diário Oficial da União (DOU) de amanhã e já recebeu severas críticas, não apenas dos mais interessados diretamente, as particulares, mas também, das alas mais conservadoras e reacionárias (ou não) que existe na própria universidade pública brasileira. O discurso de que se deve investir na “melhoria da qualidade” da Educação Básica é anacrônico e esconde, no fundo, o desejo premente de que nada mude na sociedade. Em 10 anos, após a implantação da Lei de Cotas, a Educação brasileira terá dado um salto de qualidade e, mais que isso, incluído um número tão grande pessoas das classes média e baixa no mercado de trabalho que até o mais reacionário dos capitalistas baterá palmas. Sem falar no impacto de incluir socialmente pessoas por meio do ensino, da pesquisa e da extensão. E quem duvida que esse seja o papel fundamental de uma universidade pública? Stephen Hawking, um dos maiores cientistas vivos, é autor de uma frase lapidar: “o maior inimigo do conhecimento não é a ignorância, e sim a ilusão da verdade.” Não quero, portanto, com a reflexão, impor a ninguém a minha visão a respeito do assunto. Assim sendo, não tenho a menor pretensão de “ilusão da verdade”. Quero, porém, provocar. Inclusive os que são contra as cotas. E tomarei um dos exemplos desses críticos para sustentar meu raciocínio. Os maiores críticos da Lei dizem que a universidade pública deverá criar “disciplinas de nivelamento”. Qual é o problema de isso ocorrer? As universidades, faculdades e centros universitários fazem isso normalmente. Inclusive, é item de avaliação nos formulários de avaliação do Instituto Nacional de Pesquisas Educacionais Anysio Teixeira (Inep). Só pude cursar o Mestrado em Administração na melhor e mais prestigiada da América Latina, a Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA) da Universidade de São Paulo (Usp), após ser aprovado em 10 disciplinas de nivelamento. Como não sou graduado em Administração, na FEA-Usp, quem não é da área tem de cursar disciplinas de nivelamento para ter domínio dos fundamentos básicos da área. O nivelamento, portanto, não inviabiliza as cotas. Ao contrário, é uma necessidade. Atualmente, quem cumpre esse papel de incluir pessoas, principalmente os de menor renda, são as instituições privadas. E o fazem porque são “boazinhas”? Não! Fazem-no para que não haja evasão extrema e não percam os “clientes”. Isso é visão de mercado. Mais nada. Porém, ao final, terminam por incluir todas aquelas pessoas que foram “ajudadas”. Assim será nas instituições públicas. E, acredito, isso mudará a lógica da má-qualidade do ensino em todos os níveis. Porque a FEA-Usp faz nivelamento? Pura e simplesmente para manter a “qualidade” na saída, ou seja, dos seus egressos. Quem são as professores que trabalham nas escolas públicas e privadas do Ensino Básico? São os mesmos profissionais “formados” pelas universidades brasileiras. Tenho convicção que, independentemente das cotas, as instituições superiores já deveriam, há muito tempo, praticar o nivelamento. Não posso crer que as universidades brasileiras, principalmente as públicas, “lavem as mãos” quando a maioria absoluta dos seus egressos não passa nas seleções dos programas de Pós-graduação e nos concursos públicos de carreira. Na situação em que se encontra a Educação brasileira só vejo uma saída para elevar a qualidade dos egressos: com cotas ou não, criar nivelamento, pelo menos nas áreas básicas de Língua Portuguesa, Ciências e Matemática. Sem uma base sólida, trabalhada mal e parcamente hoje em dia na Educação básica e média, não venceremos o desafio de mudar a Educação brasileira. As cotas, a meu ver, promoverão, a longo prazo, uma mudança jamais vista.

Se você ainda não leu a “Carta aberta ao secretário Sérgio Mendonça”, cliquei aqui, leia e replique. Todos precisamos refletir sobre o problema. Juntos!

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