Na fala de 20 minutos de Rubens Velloso ontem, no “11° Encontro
internacional de arte e tecnologia (#11.ART): homo aestheticus na era digital” realizado no Auditório 2 do Museu Nacional de Brasília, encontrei a chave para
resolver um problema para o qual chamo a atenção há anos: a sala de aula
tradicional é o pior ambiente de aprendizagem que existe. A educação, em nenhum
dos níveis, principalmente no nível superior, não pode mais ser esse ambiente
com cheiro de naftalina e enxofre. É preciso implodir o conservadorismo
dominante na sociedade, portanto, na universidade. E nós, cada um de nós, somos
responsáveis por essa falta de ousadia. Participar do evento, almoçar com
Rubens Velloso e Lilian Amaral, foi fundamental para confirmar a convicção eu tenho,
cada vez mais clara, de que só a arte liberta, enquanto a política aprisiona. Ao
fala de Velloso sobre a peça mais recente do coletivo Grupo de Arte Global Phila 7, provocou um
brilho em meus olhos a partir do próprio título do Espetáculo: PROFANAÇÕES –
superfície de eventos. Fiquei ali no meu canto do auditório a me perguntar: Por
que não profanar a sala de aula tradicional e transformá-la em uma “mera”
superfície de eventos? Profaná-la, como explicou Velloso, no sentido dado por
Giorgio Agamben: “Profanar em sentido próprio denomina-se
àquilo que, de sagrado que era, é devolvido ao uso e à propriedade dos homens.”
Chegamos a um ponto no qual é uma questão de sobrevivência para as
universidades profanar não só a sala de aula, mas também essa estrutura
didático-pedagógica tradicional. A sala de aula, esse ambiente sagrado no qual
o poder do professor é incontestável, deve ser devolvida ao uso e à propriedade
dos seres vivos, do povo, da sociedade, portanto, dos estudantes. A
universidade só faz sentido se preparar para a vida, logo, dela não deve se
distanciar. A sala de aula, assim sendo, não pode ser um espaço para o
exercício da tirania. Tem de ser o espaço da troca, do pleno exercício da
democracia. Tem de transformar cada um dos que dela fazem parte em “singularidades
desejantes”, conceito proposto por Velloso. Um ambiente como superfície de
eventos também é uma singularidade desejante. Quando o espaço da aprendizagem
for um ambiente singular, estimulante para o exercício pleno da liberdade e da
criação, retomaremos o prazer da troca de experiências, conhecimentos e saberes.
Para tanto, é essencial profanarmos a sala de aula e os currículos, implodirmos
as disciplinas e “religarmos os saberes” como propõe Edgar Morin. E para isso,
precisamos ser mais artistas e menos políticos. Afinal, se eu estiver certo, só
a arte liberta, enquanto a política aprisiona, inclusive, em parâmetros
curriculares nacionais. Parametrizar o Brasil com base em padrões nacionais é
um exemplo desse tipo de prisão. Quem topa o desafio de profanarmos todos esses
templos em prol de uma educação, inclusiva e criativa?
Se você ainda não leu a “Carta aberta ao secretário Sérgio Mendonça”, cliquei
aqui, leia e replique. Todos precisamos refletir sobre o problema. Juntos!
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