Ao escrever ontem neste espaço que “A educação superior precisa ser
avaliada” quero deixar bem claro que uso o verbo avaliar e os termos dele
derivados com o sentido atribuído por Cipriano Luckesi em
todos os seus estudos sobre avaliação da aprendizagem. Não tem, portanto,
nenhuma relação com planos de metas ou coisas do gênero. Entendo que avaliação
é processo, sempre inclusiva, assim, somativa. Não se trata, portanto, de
qualquer relação com o que se ouve falar sobre avaliação no País, em todos os
níveis da educação. As práticas nas universidades não diferem em nada do que Cipriano
Luckesi constatou nos demais níveis. Ele explica as diferenças fundamentais
entre o ato de examinar e o ato de avaliar: “Iniciemos pelos exames escolares.
Em primeiro lugar, eles operam com desempenho
final. Ao processo de exame não interessa como o respondente chegou a essa
resposta, importa somente a resposta. Em consequência dessa primeira
característica, vem a segunda: os exames são pontuais, o que significa que não interessa o que estava
acontecendo com o educando antes da prova, nem interessa o que poderá acontecer
depois. Só interessa o aqui e agora. Tanto é assim que se um aluno, num dia de
prova, após entregar a sua prova respondida ao professor, der-se conta de que
não respondeu adequadamente a questão 3, por exemplo, e solicitar ao mesmo a possibilidade
de refazê-la, nenhum dos nossos professores, hoje atuantes em nossas escolas,
permitirá que isso seja feito; mesmo que o aluno nem tenha ainda saído da sala
de aulas. Os exames são cortantes, na medida em que só vale o aqui e o agora,
nem o antes nem o depois. Em terceiro lugar, os exames são classificatórios, ou seja, eles classificam os educandos em
aprovados ou reprovados, ou coisa semelhante, estabelecendo uma escala
classificatória com notas que vão de zero a dez. São classificações definitivas
sobre a vida do educando. Elas são registradas em cadernetas e documentos
escolares, “para sempre”. As médias obtidas a partir de duas ou mais notas
revelam isso. Por exemplo, quando um aluno tem um desempenho insatisfatório
numa prova de uma determinada unidade de
ensino e obtém uma nota 2,0 (dois), nós professores lhe aconselhamos estudar um
pouco mais e submeter-se a uma nova prova. Então, o aluno faz isso e, nesta
Segunda oportunidade, obtém nota 10,0 (dez). Qual será a nota final dele?
Certamente será 6,0 (seis), que é a média entre o dois inicial e o dez
posterior. Mas, por que não 10,0 (dez), se foi essa a qualidade que ele
manifestou na segunda oportunidade? Antes, ele não sabia, porém, agora, sabe.
Não atribuímos o dez a ele, devido ao fato de Ter obtido dois antes. Esse dois era definitivo, de tal forma que não nos
possibilitou atribui-lhe o dez, apesar de ter manifestado essa qualidade
plenamente satisfatória em sua aprendizagem. Em consequência dessa terceira
característica emerge a quarta. Os exames são seletivos ou excludentes.
Porque classificatórios, os exames excluem uma grande parte dos educandos.
Muitos ficam de fora. A pirâmide educacional brasileira é perversa; o
aproveitamento de nossos educandos é estatisticamente muito baixa. Numa média
bem geral, no Ensino Fundamental e no Ensino Médio, aproveitamos, no país, em
torno de 35% dos alunos efetivamente matriculados. Evidentemente que para essa
perda estão comprometidos fatores tais como a distribuição de renda no país,
nossas políticas públicas e as determinações socioculturais. Ao lado desses
fatores, os exames contribuem, e em muito, para esse fenômeno de exclusão
educacional que vivemos, devido eles serem seletivos.” É nessa concepção que
falo de avaliação. E é por assim pensar que reafirmo: a educação superior
precisa ser avaliada. Mais que isso, precisa passar a pratica a avaliação. Tem
de se libertar da herança dos jesuítas e avançar, pelo menos até Santo
Agostinho. Se chegarmos a Comenius, teremos muito a comemorar.
Se você ainda não leu a “Carta aberta ao secretário Sérgio Mendonça”, cliquei
aqui, leia e replique. Todos precisamos refletir sobre o problema. Juntos!
Visite
também o Blog Gilson Monteiro Em Toques
e o novo Blog do Gilson Monteiro. Ou
encontre-me no www.linkedin.com e no www.facebook.com/GilsonMonteiro.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Participe! Comente! Seu comentário é fundamental para fazermos um Blog participativo e que reflita o pensamento crítico, autônomo livre da Universidade Federal do Amazonas.