Comercialmente se comemora hoje o “Dia das crianças”. Que tal
refletirmos sobre alguns dos problemas que enfrentamos na Educação Superior e
tentarmos relacioná-los com o processo de crescimento e (de) formação (ou para
ser mais exato, de formatação) dessas crianças? Dos contatos que mantenho com
estudantes de graduação dos anos iniciais posso listar três coisas que me
incomodam: caretice, falta de iniciativa e insegurança. No guarda-chuva que
chamei de “caretice” enquadro desde os versos de Belchior “ainda somos os
mesmos e vivemos como nossos pais”, no caso de alguns, são mais caretas até que
eu. Nessa categoria encontro, principalmente, a falta de respeito ao outro e às
diferenças. Sem falar que são jovens pouco afeitos às experiências pedagógicas
inovadoras dentro (e fora) da sala de aula. Querem a aula tradicional, receita
de bolo para tudo, como se a resposta para os problemas do mundo (e do
jornalismo, no meu caso) estivessem em mim, que sou o professor. A suposição
que tenho é que, desde o núcleo familiar, esses jovens foram podados. Impedidos
de ousar em todas as áreas da vida. Daí, ao que parece, sonharem com padrões,
principalmente no processo de aprendizagem. Logo, descambam para a segunda
categoria que denominei de “falta de iniciativa”. Ao sonharem com “receitas de
bolo” e serem protegidos pelos padrões do núcleo familiar, fazem sempre aquilo
que lhes é mandado (quando fazem). Sem os padrões, modelos ou manuais,
perdem-se pelo caminho, não tomam iniciativa para nada e se transformam em
jovens “inseguros” em um mundo do trabalho no qual cada vez mais se valorizam
os empreendedores, ou seja, os ousados. Daí a pergunta: “Formamos mesmo para o
exercício da cidadania?” Suponho que não! Temos uma visão de mundo careta,
inclusive nós, os cientistas. Somos pouco ousados. O novo nos assusta.
Preferimos o velho método cartesiano. Execramos, em grande maioria, Morin e
Capra. No máximo passamos os olhos por Maturana e Varela. Deleuze e Guatarri,
com seus rizomas, encontram eco nas áreas de Artes e em alguns abnegados da
Comunicação. É pouco. Precisamos nos libertar das amarras das visões
padronizadas do mundo e da vida. Quando isso ocorrer, desde o núcleo familiar,
talvez tenhamos um ambiente propício ao processo de troca de saberes com vistas
à preparação para o exercício pleno da cidadania e da liberdade. Enquanto
entendermos o mundo como um conjunto de saberes em caixinhas superpostas,
sobrepostas e justapostas estaremos longe de atingir a meta de formar para a
vida.
Se você ainda não leu a “Carta aberta ao secretário Sérgio Mendonça”, cliquei
aqui, leia e replique. Todos precisamos refletir sobre o problema. Juntos!
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