Todas as vezes que discuto o tema democracia
recordo-me da primeira decisão tomada pelo povo, quando Pôncio Pilatos,
prefeito da província romana da Judeia, exercia, também a função de juiz e,
"lavou as mãos", deixando ao povo a decisão de crucificar ou não
Jesus Cristo, ainda que estivesse convicto de que não havia como provar nada
contra ele capaz de levá-lo à morte. A primeira incongruência no "ato
democrático" de Pilatos é: deve, um juiz, convicto de que não há nenhuma
prova contra o réu, deixá-lo ser levado a julgamento público? Ainda mais quando
tem a convicção de que, se o fizer, o réu será condenado, embora inocente? O
absolutismo da democracia pode levar a situações extremamente injustas, ou, na
mais positiva interpretação, a um "faz-de-conta" histórico. Fiz toda
essa espécie de "nariz-de-cera" como provocação para refletirmos
sobre o capítulo de Alice nos País das Maravilhas que é a discussão com os
estudantes do "Plano de curso", no primeiro dia de aula, exigência
contida nos manuais absolutistas das democráticas decisões nas universidades
brasileiras. A prática é passível de avaliação, muito embora a avaliação do
professores pelo estudante, também não passe de um faz-de-conta. Afinal, se
faz, de cara, no mais das vezes, a seguinte pergunta: "O professor (a)
apresentou e discutiu o Plano de Curso com os estudantes do primeiro dia de
aula?" Em todos os meus anos de Universidade Federal do Amazonas (Ufam),
cumpro rigorosamente o tal item. Não lembro de ter despertado o interesse de
nenhum estudante, desde 1993, para o Plano de Curso, que hoje prefiro denominar
Plano de Aprendizagem. Nem mesmo alguma sugestão bibliográfica recebi. O que se
tem é, na prática, um ritual puramente burocrático de cumprimento da exigência
legal e regimental. Nunca defendi que o professor ou professora seja dono
absoluto e pleno dos conhecimentos que envolvem a disciplina por ele
ministrada. Muito menos dos métodos e metodologias. Mas, criar essa
obrigatoriedade de discutir com os estudantes o Plano de Curso é o tipo de
medida absolutista para parecer democrática. Obrigatoriamente sim, este plano
deve ser profundamente discutido com uma pares, em um planejamento coletivo,
inclusive, com a participação dos representantes dos estudantes, é um
procedimento necessários e saudável. Fazer de conta que se discute o Plano de
Curso, no entanto, é fingir ser democrático. O máximo que se tem feito, ao
longo dos anos, é apresentar o Plano e redefinir algumas datas. Com o agravante
de a sala de aula, no mais das vezes, estar esvaziada pela "crença"
de que não se deve ministrar aulas na primeira semana, no início de cada
período. Lastimável!
Se você ainda não leu a “Carta aberta ao secretário Sérgio Mendonça”, cliquei
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