sábado, 11 de janeiro de 2014

Orientar e dar liberdade: o desafio de um pai

Descia a avenida Rebouças, em São Paulo, com o Felipe, meu primeiro filho, ainda muito criança, na cadeira fixada no banco traseiro do carro. Salvo engano, era uma Parati preta. Mal começara a falar. De repente ele joga uma pergunta, com a força de um soco no fígado:"Papaito, o que é ser um pai?" Fiquei impressionado com a precisão da pergunta, assustei-me, mas, dei uma resposta filosófica, longa, nem sei direito se o convenci. Em essência, disse a ela que "ser um pai" é diferente de "por no mundo". É orientar, impor limites, quando necessário, mas, essencialmente, ter a capacidade de dar liberdade. Porque um filho não é para os pais, nem deles o é. É para o mundo. É do mundo. Tentei por em prática a resposta que dei a ele naquele dia qualquer, provavelmente do ano de 1998. No início de 2013, prestes a decidir qual curso superior tentaria na Universidade Federal do Amazonas (UFAM), pois já havia feito dos testes do Processo de Seleção Continuada (PSC) daquela Instituição na qual trabalho, perguntou-me:"Papai, o que o senhor acha? Faço opção para Petróleo e Gás ou para Ciência da Computação?" Falei das vantagens do curso de Petróleo e Gás, mas, alertei que se tratava de um curso novo. E que ele era "vidrado" em jogos de computador, de celular e de qualquer tipo de aparelho eletrônico. "Ciência da Computação, meu filho, tem mais a sua cara. Além de ser, comprovadamente, um dos melhores cursos da UFAM." Ao que parece, o argumento o convenceu. Depois, com a pressão da família (menos a minha) de que teria de "ingressar na Faculdade" logo ao sair do Ensino Médio, tentou o Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM), Processe Seletivo Macro da Universidade do Estado do Amazonas (UEA), Instituto Federal de Educação Tecnológica do Amazonas (IFAM). Não obteve êxito em nenhum deles. Eram cursos completamente díspares dos dois que ele havia, inicialmente, conversado comigo: Engenharia, Educação Física, Química. Abatido, procurou-me dia 9, quinta-feira, para dizer que tinha perdido as esperanças. Que só restava o curso que ele mais queria, Ciência da Computação, no PSC da UFAM. Eu disse:"Filho, com a minha bolsa do CNPq foi a mesma coisa. Era a última esperança, muito embora eu estivesse assim como você, sem acreditar mais. Pode ser que aconteça o mesmo". Aconteceu! Aqui em Sena Madureira, passando as festas de Ano Novo com ele, a irmã e a nossa família, estava no banheiro, ontem à tarde, quando ouvi os gritos dele:"Passei, passei, passei". Conseguiu o que o pai não conseguira: passou, de primeira, do Ensino Médio para a UFAM. Saí do banheiro, corri para ele, dei um abraço e não contive as lágrimas de alegria. Não sei se dei a liberdade suficiente, mas, fico com a sensação de que as orientações o ajudaram. Meu desafio de pai, parece, começa a ter êxito.


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