Excelentíssima senhora presidenta da República Federativa do Brasil, Dilma
Vana Rousseff. Dirijo-me a Vossa Senhoria com o coração partido. Machucado pela
decepção, mas, superotimista por opção, pois acreditei nas suas promessas de
campanha. Quando a senhora, em um dos debates da televisão,
disse: “...de fato, há, no Brasil, uma tradição de pagar mal ao funcionalismo
público, e, muitas vezes, inclusive, a desvalorizá-lo. É, nós defendemos (o
Governo Lula) uma política de
valorização dos professores”. Juro, presidenta (como professor de Língua
Portuguesa abomino usar o termo, porém, se não usá-lo, presidenta, a senhora já
avisou que nem me lê), acreditei em cada palavra da senhora naquele último
debate, justamente, na Rede Globo. Estava em dúvida se jogava meu voto na
lixeira dos votos em branco, porque, não dava para votar em José Serra. E observei
detalhadamente a sua fala no último debate. A senhora reafirmou, presidenta: “Vou ter um compromisso muito forte com a
questão da Educação. Porque todo mundo fala em qualidade na Educação. Mas, na
hora de ver quem é que garante a qualidade, todo mundo esquece que quem garante
a qualidade é o professor. E professor, para garantir a qualidade, ele tem de
ser bem pago, até para atrair as pessoas para aquela profissão, e tem que
ter formação continuada.” Presidenta, acreditei piamente na senhora. Não fiz
campanha. Mas votei. E não foi falta de aviso, pois muita gente que viu o
debate me dizia que “tudo aquilo era coisa de político. Que a senhora não seria
diferente”. Nunca imaginei, porém, que a senhora candidata, fosse dizer uma
coisa na maior emissora de televisão do País, ao vivo, em horário nobre, e
depois de eleita fazer outra. Sinceramente, acho que a senhora ainda não sabe
que o salário de 344 professores, juntos, equivale ao de um deputado. Isso, sem
contar com os ganhos extras das verbas de gabinete, sem o aumento de 30% que
eles concederam a si no dia 04 de julho de 2012. E bastou uma canetada do
presidente da casa, Marco Maia (PT-RS), com impacto de mais de R$ 1 milhão por
ano no Orçamento da União a partir de 2013. Tenho certeza que a senhora não só dará
um “pito” na “base aliada” por ter aprovado um reajuste desses que passa a verba
de gabinete de R$ 60 mil para R$ 78 mil, mas também, chamará o ministro da
Fazenda, Guido Mantega, e dirá a ele para se retratar publicamente e dizer que
esse aumento de 30% na verba de gabinete dos deputados e senadores sim, quebra
o País e não o que os professores pedem. Tenho certeza, absoluta, que a senhora
presidenta não tem conhecimento dessa tabela que circula na Internet desde que
a Greve dos Professores começou, no dia 17 de maio de 2012.
SALÁRIOS DO GOVERNO FEDERAL
Quadro
comparativo
CARGO
|
TITULAÇÃO
|
REMUNERAÇÃO
|
Procurador
Federal
|
Graduação
|
R$
14.549,53
|
Técnico
de Planejamento e Pesquisa IPEA
|
Graduação
|
R$
10.905,76
|
Agente
de Polícia Federal
|
Graduação
|
R$
7.514,33
|
Policial Rodoviário Federal
|
Ensino Médio
|
R$ 5.782,11
|
Professor Adjunto I
|
Doutorado
|
R$ 4.300,00
|
Professor
Adjunto I
|
Mestrado
|
R$3.016,52
|
Professor
Auxiliar I
|
Graduação
|
R$2.130,33
|
Presidenta,
enquanto um Procurador Federal, com graduação, recebe R$ 14.549,53, um
professor adjunto, com doutorado, entra na carreira, agora, após a Medida
Provisória 568, com salário-base de pouco mais de R$ 4 mil. Isso se for
Associado. Como a senhora não sabia disso até agora, e, jamais recebeu essas
informações dos seus assessores, certamente, não sabe de outro exemplo absurdo
e inaceitável do quadro da carreira atual dos docentes do País. Presidenta, um
Policial Rodoviário Federal, com Ensino Médio, recebe R$ 5.782,11 enquanto um
professor adjunto I, com doutorado, recebe o salário-base de R$ 4.300,00. Alguém,
em sã consciência, pode considerar que existe isonomia, que há justiça e
igualdade na forma como, nós, os professores, somos remunerados? Sem falar na
terceirização dos serviços básicos nas universidades brasileiras. Senhora
presidenta, ainda lembro como se fosse hoje das suas palavras: “Eu sou contra que se mantenham serviços
terceirizados e precários na função pública. Porque desestimula o funcionário.
O funcionário é um ser humano. E tem de ser tratado como tal (aqui,
presidenta, meu coração quase parou. Como a senhora poderia, ainda candidata,
imaginar que um funcionário não fosse ser humano? Quase mudei meu voto!). Ele tem que ser incentivado. Ele tem que
ser valorizado. Porque assim, ele vai trabalhar melhor”. Presidenta da
minha vida (com sorriso amarelo)! Fiquei espantado, na nossa manifestação com
“Café da Manhã”, em frente ao prédio do Ministério do Planejamento, Orçamento e
Gestão (MPOg), no dia 02 de julho de 2012, onde se localiza a Secretaria das
Relações de Trabalho no Serviço Público, com o número de funcionários
terceirizados, inclusive da Delta. Isso mesmo, presidenta, inúmeros
funcionários com o uniforme da Delta, aquela empresa envolvida até o pescoço em
relações com o contraventor Carlinhos Cachoeira, tomaram café conosco. Pensei:
“Não! A presidenta Dilma não sabe disso! No dia que ela souber que tem gente da
Delta aqui no MPOg manda todo mundo pra rua na hora.” Claro, pensei isso
baseado na sua fala do último debate. Hoje, porém, presidenta, não sei se devo
mais confiar tanto na senhora. Quando vi, ontem, a Rede Globo de Televisão, em
todos os seus programas, inclusive no mais popular deles, o Jornal Nacional, em
horário, nobre, divulgar ameaças de o seu Governo cortar o ponto de todos os
servidores federais em greve, não resisti e falei com meus botões: ”Minha nossa!
Isso só pode ser o fim do mundo. O Governo Dilma, do Partido dos Trabalhadores
(PT), transformando a Rede Globo em aparelho ideológico do Estado, a ameaçar
grevistas com o corte de ponto, se não é o fim do mundo, trata-se de um
pesadelo”. Devo ser muito ingênuo, ou um superotimista por natureza, Senhora
presidenta. Mas, ainda acredito que esse silêncio total, quase sepulcral, essa
falta de proposta do Governo Federal aos professores em greve, não tem o seu
dedo. Não posso crer que aquela fala convicta no último debate na Rede Globo
tenha sido montagem. Tenho convicção que a senhora não se lembra mais do que
disse. Veja e reveja!
Será que a senhora disse tudo aquilo só para ganhar a eleição e o meu voto?
Acredito cegamente que essa história de “cortar ponto” dos servidores em greve
não passa de algum assessor do terceiro escalão a querer mostrar serviço para a
senhora. Uma mulher que lutou tanto pela liberdade, que sempre marchou ao lado
dos trabalhadores, jamais vai querer ser comparada a Fernando Henrique Cardoso
(FHC), último presidente a autorizar seu ministro da Educação, Paulo Renado, a
cortar o ponto dos professores em greve. Não é possível que haja tanta
subserviência do governo da senhora ao Capital Internacional a ponto de
sacrificar trabalhadores com o único intuito de bancar o serviço da dívida
externa. Afora isso, não creio que a senhora aceitará que a sua base aliada,
logo agora, conceda a si, aumento de 30% nas verbas de gabinete e permanecerá
sem conversar com os professores. Sei que a senhora pode até dizer que “isso é
coisa dos parlamentares” e que não tem “nada com isso”. Ética como a senhora o
é, porém, jamais aceitará um aumento desses sem negociar com os professores.
Ou, se não negociar, usará o próprio Jornal Nacional, da Rede Globo, para conclamar
que todos os deputados e senadores da base aliada recuem nesse aumento absurdo de
30% na verba de gabinete. Até sexta-feira 13, com certeza, ouvirei um apelo
desses vindo da senhora. Firme, como sempre foram as suas falas nos debates. “Enquanto
não negociar com os professores em greve, não aceitarei que deputados e
senadores concedam a si aumento de 30% nas verbas de gabinete”. A fala poderá
até ser essa. Ou algo, parecido. Confio que não errei tanto assim no meu voto!
Despeço-me, senhora presidenta, com saudações grevistas, e a certeza de que
tudo isso que vivi não passa de um pesadelo e que, a senhora, para honrar o seu
passado político, autorizará seus assessores a conversar com os professores em
greve. Confio que esta carta é só mais uma criação literária e só essa sua última
fala que sugeri é o que há de real nesta minha carta. Creio! Tenho fé! Oremos!
Se você ainda não leu a “Carta aberta ao secretário Sérgio Mendonça”, cliquei
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Parabéns pela carta. Sensível, honesta e sabias palavras!!
ResponderExcluirhttp://www.servidor.gov.br/publicacao/tabela_remuneracao/tab_remuneracao/tab_rem_11/tab_58_2011.pdf, página 170 informa que professor com doutorado ganha 12225,00.
ResponderExcluirLá só não diz que sobre esse valor há o desconto do Imposto de Renda, do INSS e do Plano de Saúde. O que faz com que esse salário, com as vantagens, chegue, no máximo, aos R$ 7.500,00. Só que o salário-base é de R$ 4.000,00. E é com esse que vamos nos aposentar Por isso insistimos na reestruturação da carreira e não apenas em aumento de remuneração.
ExcluirCaro professor Doutor, fale mais sobre as vantagens agregadas ao salário do professor universitário. Lembre-se que para o ingresso ao cargo de policial rodoviário federal é necessária a graduação. Lembre-se que o policial recebe subsídio, instituto que impede que ele receba qualquer outro complemento. Lembre-se que o policial, embora coloque em risco sua vida, não recebe adicional por periculosidade e/ou insalubridade. Lembre-se que essa polícia de "nível intermediário" é a que atua nas rodovias salvando vidas, prestando os primeiros socorros, antes mesmo do atendimento de um médico "doutor". Lembre-se que carreiras diferentes não podem ser comparadas, cada qual tem seu grau de dificuldade, de exigência, de doação. Caso insista em comparar carreiras concito-o a colocar em sua tabela o salário do Exmo Sr. Deputado Federal Tiririca, semi-analfabeto, ou do ex-presidente Lula, essas sim seriam as comparações mais precisas levando-se em conta o fator "estudo".
ResponderExcluirEsse valor de R$ 12.225,00 é de professor TITULAR (atualmente ACIMA do ÚLTIMO NÍVEL da carreira) doutor com dedicação exclusiva. Nem 1% dos professores recebe isso.
ResponderExcluirA causa da educação no Brasil é muito nobre. Pena que alguns desinformados não procurem se amparar em melhores fontes antes de tecer comparações impróprias que acabam desagregando e manchando a reivindicação de uma classe.
ResponderExcluirSou policial rodoviário federal, formado em Direito por uma faculdade federal, posso dizer com propriedade que o cargo de policial rodoviário federal exige, para investidura, o nível superior (vide editais dos concursos anteriores). A menção a nível médio é uma alusão a uma norma antiga e em desconformidade com os dias atuais. O cargo de PRF possui propriedade de nível superior, pois é carreira única, sendo até os cargos de gestão do órgão exercidos pelos próprios PRF's. Se gerir um órgão federal não legítima a exigência de nível superior o que legitimaria?
Fora a questão da gestão, o PRF possui um dos leques mais amplos de atribuições, englobando:
- o combate a crimes ambientais,
- operações conjuntas com outros órgãos,
- a participação ativa em eventos de relevância nacional e regional,
- o combate a prostituição infantil,
- a fiscalização de trânsito,
- o combate ao tráfico de drogas, descaminho e contrabando,
- a fiscalização de transporte de passageiros e carga,
- o combate aos ilícitos penais e administrativos,
- os serviços de batedor e escolta,
- o patrulhamento ostensivo das rodovias federais, garantindo a ordem e a fluidez de tráfego pelas mesmas.
- o atendimento pré-hospitalar, etc, etc, etc.
A menção a algumas de nossas nobres atribuições tem como motivo o repúdio à forma como somos citados em tal carta. Toda comparação deve ser muito bem analisada, justamente para não incorrer neste tipo de impropriedade. O PRF trabalha muito e em ambiente insalubre, desdobrando-se para suprir a escassez de efetivo e mesmo assim, executa seu serviço com competência impar, fazendo com que nossa instituição seja referência em várias das áreas de atuação, sendo, inclusive, a que mais apreende drogas no país. Já que o professor indignado gosta de comparação, porque o mesmo não compara o nível de concorrência do concurso para PRF com o de professor adjunto? Seria muito mais próprio esse tipo de comparação do que citar somente valores de salário. Aliás, muitos se aproveitam de concursos menos concorridos para ingressar nos quadros e depois ficam criticando outros cargos só para conseguir aumento. Desculpem-me os professores vocacionados, mas grande parte dos integrantes da classe só buscam tal cargo pelo status e as consequentes oportunidades em instituições de ensino particulares, ou para ter um dinheiro fácil, já que grande parte dos professores das universidades federais mais matam aula do que comparecem.
Apesar de chateado com a babaquice explicitada na tal carta, continuo levantando a bandeira da educação. Tirar nosso povo da ignorância deve ser prioridade!
Um aviso: devemos sempre nos pautar pelos bons profissionais, independente da área de atuação. Por isso peço respeito aos bons policiais, que no seu dia-a-dia colocam sua vida em risco à mercê da sociedade. Sociedade esta que, repetidas vezes, age com imensa injustiça, desprestigiando o trabalhador que dispõe do bem mais valioso de todos, a vida, para exercer com dignidade sua profissão. Reflitam: Quanto vale a sua vida?