A greve tem algumas “passagens” que é preciso muita calma para se
entender. Do ponto de vista pessoal, por exemplo, tenho razões de sobra para
não aderir a mais nenhuma luta da categoria dos professores. Na greve de 2001,
por exemplo, padeci, com toda a família, por ter com dois meses de salários
cortados numa reação do Governo Fernando Henrique Cardoso (FHC) tão feroz
quanto a que oo Governo Dilma Roussef ameaça fazer agora. O que me deixou
revoltado durante muito tempo é que fui vítima de uma das maiores injustiças
que se pôde perpetrar neste País (certamente outros professores também o
foram). Acontece que naquele ano de 2001 eu era professor da Universidade
Federal do Amazonas (Ufam), mas, estudante de doutorado da Universidade de São
Paulo (Usp), nem estava em Manaus quanto fora decretada a greve da categoria.
Além do mais, a Usp, por ser estadual, não entrou em greve. Portanto, todas as atividades
de estudante de doutorado foram mantidas. No entanto, por mais que eu tenha
tentado argumentar sobre o problema, tive o ponto cortado durante dois meses.
Em São Paulo, com mulher e dois filhos, fui obrigado a fazer mágica apenas com
o dinheiro da bolsa de doutorado para pagar o aluguel, transporte e
alimentação. Não houve saída: recorri a saques dos cartões de crédito e cheque
especial. Depois que os grevistas ganharam na justiça o direito de receber os
salários de volta, meu rombo financeiro era impagável. De 2001 a 2003, tive de
rolar a dívida, pois, quando recebi o dinheiro dos dois meses de salários
atrasados, não deu nem para pagar metade da dívida acumulada. Saí daquela greve
revoltado e com a sensação de ter sido vítima do uma tremenda injustiça. À
época, procurei a Associação dos Docentes e não recebi nenhum tipo de orientação
ou ajuda. Só a partir de maio de 2003, depois de ter voltado para Manaus, dado
entrada no processo de promoção e passar a receber como doutor, comecei, mês a
mês, a pagar minhas dívidas. Passei mais de 8 anos sem me associar ou participar
de qualquer atividade da categoria. Aos poucos, voltei a participar. Em
seguida, associe-me. E hoje estou aqui, em Brasília, ameaçado de ter o ponto
cortado novamente. Ficarei até o dia 13 como delegado da Adua junto ao Comando Nacional
de Greve (CNG). No mesmo dia, à tarde, estarei na Adua para fazer o relato da
minha estada já no Comando Local de Greve (CLG), do qual faço parte e não abandonarei
de forma alguma, a não ser que a categoria decida pelo fim da greve. Naquela
época, quando tive os dois meses de salários suspensos, pensei até em fazer
greve de fome. Hoje, caso o governo corte meu salário, não recorrei ao cheque
especial nem aos saques de cartões de crédito. Irei à justiça para garantir
meus direitos. E, acredito desta vez, terei apoio do sindicato, caso o governo
cumpra a absurda ameaça que fez.
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