Há pouco compartilhei uma foto tua, meu caro amigo e imortal, Valério
Cruz Brittos. Obstinado. Talvez esse seja o único adjetivo capaz de se
aproximar de ti, do teu estilo de vida acadêmica. Não tenho nenhuma notícia da
tua vida pessoal. Porém, academicamente o parco contato que tivemos serviu para
você me incentivar tanto a ponto de enviar um artigo para o Alaic 2012. Foi a
minha estreia internacional como pesquisador em Montevidéu. Você tinha a
Economia Política da Comunicação até nos sorrisos que trocávamos, nas boas
conversas que tivemos, eu, você e César Bolaño, nos corredores da Universidade
Federal do Pará ou nas saídas para almoços juntos, por ocasião do Alaic Bacia
Amazônica. Era outubro de 2011. Você me passou o livro “Economia política da
Comunicação: convergência, tecnologia e inclusão digital”, por ti organizado,
com a seguinte dedicatória: ”Ao Gilson, convidando ao diálogo”. Aqui outra face
da tua obstinação: o diálogo. Um obstinado pelo diálogo sem nenhum tipo de
preconceito em relação às pesquisas em Comunicação desenvolvidas no Norte. Sei que
farás imensa falta ao Grupo de Pesquisa Comunicação, Economia Política e
Sociedade (Cepos) do Programa de Pós-graduação em Ciências da Comunicação
(PPGCC) da Universidade do Vale dos Sinos (Unisinos). Valério, cara! Ninguém
conseguia passar imune a um contato com você. Saía dele convencido da
necessidade do diálogo e possibilidade de se articular um novo ensaio, artigo
ou livro. Poucos conseguiram encarnar o espírito dessa Pós-graduação brasileira
que nos consome com índices, artigos, livros autorais, livros organizados,
capítulos de livros e quetais. De repente, no início da manhã de hoje, recebo
um e-mail do professor Adilson Cabral informando a tua morte. Um choque! Morres
aos 48 anos, no auge da produção acadêmica. Até nessa hora, Valério, consegues
ser professor. Quando completamos 70 dias de greve por melhores condições de
trabalho e contra esse modelo produtivista que nos foi imposto, pensei: mais
uma vítima desse sistema que nos mói. Nos mata mais rapidamente a cada dia. Será
mesmo necessário entrar nessa roda-viva da produtividade, dos Qualis, dos
índices baseados em capítulos de livros e artigos publicados? Sei que cada
atividade que tocavas era com imenso prazer, entrega e obstinação. Viver
intensamente a academia pode ser uma opção. Morrer em função dessa intensidade,
porém, não deve ser uma obrigação coletiva. Penso até que é melhor viver
intensamente 48 anos que passar pela vida, durante 100 anos, como uma nulidade.
Você marcou época. Mas se foi! E cedo demais! Será que temos o direito de nos
matar dia-a-dia nessa máquina de moer cérebros da avaliação quantitativa
brasileira? Tua morte, Valério, me fez refletir mais profundamente sobre esse
estilo de vida acadêmica. Talvez o mais coerente seja pisar no freio, diminuir
a intensidade dessa produção, dessa produtividade, e tentar viver mais. Teu
sorriso doce e tua amizade me farão refletir sobre os rumos da minha vida. Teu
convite ao diálogo me comoveu só agora, no dia da tua morte. Talvez porque, a
partir de agora, não tenha mais chance de fazê-lo diretamente contigo. Não
posso mais abraçá-lo de novo. Nem trocarmos ideias e fazermos planos de
parcerias. Tua morte, porém, meu recente amigo, será um marco para mim, cada
vez que tiver de dizer “sim” a um novo projeto. Talvez, a partir de ti, da tua
partida, eu tenha de aprender a dizer mais “não” que “sim”. Para poder dizer “sim”
a uma vida acadêmica mais saudável! Descanse em paz amigo! E que tua dedicação
obstinada à área nos motive a olhar criticamente para esse modelo que nos mata
lentamente.
Foto compartilhada do Facebook de Bruno Lima Rocha |
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Caro Gilson,
ResponderExcluirFiquei muito triste com a partida de Valério. Um colega muito simpático e generoso. Estamos todos de luto. Um grande abraço.