quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

O conhecimento não tem dono: é do mundo


Às vezes me pego a tentar entender o funcionamento da universidade, sua relação com a sociedade e a tentativa de se aprisionar o saber, ou melhor, os saberes. E chego a me questionar: o conhecimento tem dono ou é do mundo, está disponível no universo e cabe a nós construir o nosso quinhão finito dessa vastidão infinita de saberes? Será que se trata de uma pergunta que tenha resposta? Talvez seja necessário, em primeiro lugar, tentar definir, afinal, o que é o conhecimento. Particularmente, penso que o acúmulo de perícia e técnica, temperada com uma visão crítica de mundo, é capaz de nos dá experiência. O conhecimento, portanto, seria o acúmulo, ao longo do tempo, dessa experiência, que, passo a passo, se transforma em sabedoria. No mundo do trabalho atual, da concorrência constante e desenfreada promovida pelo capital, há espaços para os sábios ou, no máximo, o domínio da técnica é essencial? Eis o dilema da esfinge da universidade no mundo inteiro. Tomemos como exemplo o curso de jornalismo. Quem fica tecnicamente mais preparado? Quem passa quatro anos e meio em uma redação de jornal, por exemplo, ou em um curso e jornalismo de uma universidade brasileira? Com as péssimas condições de trabalho, a falta de infraestrutura laboratorial, de pessoal técnico de apoio e, inclusive, de professores, não tenho nenhuma dúvida em afirmar que, atualmente, se a questão for centrada única e exclusivamente em “fazer jornal”, quem passa quatro anos e meio dentro de uma redação tem infinitamente mais chances de “aprender a fazer” do que quem passa o mesmo período em um curso de jornalismo. É impossível, ainda mais se for o caso de uma universidade pública, se acompanhar o avanço tecnológico. Acontece, porém, que, a me ver, o papel da universidade não é formar meros técnicos. Precisa fazer com que as pessoas entendam as relações entre ela (a pessoa), o ambiente, as outras pessoas, o universo e a vida. Não só dos humanos, mas, de todos os seres vivos. Exatamente porque, a cada dia, aumenta a minha convicção de que não há “donos” dos saberes, portanto, do conhecimento. O que se faz, e a universidade não pode apenas servir a isso, é organizar categorias profissionais, verdadeiros guetos, de “donos do saber e da técnica” em determinadas áreas do conhecimento e, pasmem, determinadas disciplinas. É como se fosse possível dividir o mundo em “castas de saberes” e cada uma dessas castas estabelecerem suas regras e suas formas de “prospectar” o conhecimento. Com isso, tentam disciplinar o processo de aquisição de conhecimentos pelos seres vivos, especialmente os seres humanos. Vivemos, assim, em uma sociedade de castas, formadas pelas categorias profissionais. Tal modelo precisa ser repensado.

Se você ainda não leu a “Carta aberta ao secretário Sérgio Mendonça”, cliquei aqui, leia e replique. Todos precisamos refletir sobre o problema. Juntos!

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